Aluno impedido de entrar na escola mesmo com teste negativo à covid-19

Gabriel não vai às aulas há mais de três semanas, tendo perdido o contacto com os professores, colegas e com as matérias que estão a ser dadas. O aluno teve covid-19, mas o teste de despistagem já veio confirmar que está curado. A mãe enviou os resultados laboratoriais para a directora de turma, que respondeu dizendo que o aluno só entra nas instalações com um “atestado de cura”.

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Paulo Pimenta

Um aluno do 9.º ano de uma escola de Lisboa está a ser impedido de entrar no estabelecimento de ensino depois de ter tido covid-19, apesar de a mãe já ter apresentado o resultado negativo do teste.

Gabriel não vai às aulas há mais de três semanas, tendo perdido o contacto com os professores, colegas e com as matérias que estão a ser dadas. “Pedi que me fossem enviando trabalhos para ele poder ir acompanhando, mas nada. Hoje tinha um teste de Físico-Quimica e não o fez”, contou à Lusa Judith Soares, mãe do rapaz de 14 anos. O processo de envio de informação para as escolas, por parte das entidades de saúde, está a demorar cerca de uma semana, contou a mãe do aluno, para explicar os esforços que está a fazer para o Gabriel poder regressar à escola.

O aluno teve covid-19, mas o teste de despistagem já veio confirmar que está curado. A mãe enviou, na semana passada, os resultados laboratoriais para a directora de turma da Escola EB23 Luís de Camões, que respondeu dizendo que o aluno só entra nas instalações com um “atestado de cura”. “Fico contente pelas vossas melhoras mas atenção que o Gabriel só pode regressar à escola acompanhado de um atestado de cura passado pelo médico. Não é suficiente o resultado do teste”, respondeu a directora de turma numa troca e-mails a que a Lusa teve acesso. 

A mãe contactou o Centro de Saúde, ligou para o SNS24, tentou contactar a médica de família, mas todos os que responderam ao seu pedido de ajuda disseram que bastava o resultado do teste e que não iriam passar qualquer declaração. 

Judith voltou então a avisar a directora que não tinha nenhum atestado e que a médica do centro de saúde tinha dito que a escola tinha de receber o aluno com o teste negativo. Mas a escola manteve a posição de não permitir a entrada de Gabriel. A Lusa contactou esta terça-feira a direcção do agrupamento de escolas, que se mostrou indisponível para esclarecer o assunto.

Na segunda-feira, a Lusa questionou a Directora-Geral da Saúde (DGS), Graça Freitas, que reafirmou, durante a conferência de imprensa, o que as restantes autoridades de saúde já tinham dito: “Uma criança ou adulto que cumpre período de quarentena, está assintomática e tem teste negativo pode voltar tranquilamente à sua escola”.

Mãe avisou restantes pais

A pandemia de covid-19 trouxe novas regras para dentro dos recintos escolares. Cada escola teve de se preparar para a eventualidade de surgir um surto e, para isso, desenhar um plano de contingência.

O plano de contingência do Agrupamento de Escolas Luís de Camões define que as pessoas são consideradas curadas quando apresentam ausência completa de febre e sem outros sintomas durante três dias consecutivos ou então quando apresentam teste laboratorial negativo. “Após determinação de cura e indicação da Autoridade de Saúde Local, a pessoa pode regressar ao estabelecimento de ensino”, refere o documento.

Judith esteve presencialmente na escola na segunda-feira para falar com os responsáveis e arranjar uma solução para que o filho regressasse à escola. Mas, mais uma vez, não conseguiu. “Ninguém quer saber. Uma pessoa sente-se sozinha, sem saber a quem recorrer”, desabafou.

Há quatro semanas, a 21 de Setembro, Judith avisou a direcção escolar que ela e o marido estavam com sintomas covid-19 e, por precaução, não iriam enviar o filho para a escola. “Não queria expor ninguém a este perigo. O Gabriel tem uma colega que é grupo de risco, porque é diabética, e nunca poderia mandá-lo para a escola”, explicou.

Quando os resultados dos testes chegaram, confirmaram-se os piores receios: os pais tinham covid-19. Poucos dias depois também Gabriel foi avisado que estava infectado. Judith avisou a directora de turma. Antes, tinha alertado os pais da turma do Gabriel, através do grupo que criaram no WhatsApp. “Fiz o que gostaria que fizessem comigo, que foi avisar para estarem atentos a eventuais sintomas”, explicou.

A Lusa falou com outros pais que agradeceram a preocupação da mãe de Gabriel. Mas, segundo Judith, nem todos aplaudiram a iniciativa: “O director da escola ligou-me a destratar-me, a dizer que eu tinha lançado o pânico na escola”, contou.

Judith lamenta também que nunca ninguém na escola tenha ligado para saber se Gabriel estava melhor. Já ao pedido para que os professores enviassem as matérias que estavam a ser dadas nas aulas, Judith diz só ter recebido uma resposta da directora de turma.

Esta terça-feira, Gabriel tinha um teste de Físico-Química que foi impedido de fazer. A mãe recorda que no passado ano lectivo as aulas presenciais foram suspensas em Março e, até ao final do ano, os alunos da Luís de Camões “tiveram pouco acompanhamento" por parte dos professores.

Neste novo ano lectivo, a maioria das escolas está a aproveitar as primeiras semanas de aulas para recuperar e consolidar matérias que não foram dadas no ano passado. Judith sente que o seu filho “está a ser prejudicado" por um problema que os ultrapassa.

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