Voto do PCP “não é nim, nem sim, nem não”, mas propostas do OE 2021 são “insuficientes”

O Orçamento do Estado foi entregue esta segunda-feira na Assembleia da República. Enquanto o BE diz que é difícil viabilizar o documento, o PCP não se compromete com uma decisão e os cenários mantêm-se em aberto.

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Jerónimo de Sousa diz que o PCP ainda não decidiu o seu voto LUSA/RODRIGO ANTUNES

Horas depois de ter sido entregue na Assembleia da República o Orçamento do Estado (OE 2021), Jerónimo de Sousa, líder do PCP não se compromete com uma intenção de voto, mas diz que as propostas contempladas no orçamento “são claramente insuficientes”. "Não é nim, nem sim, nem não", resume o líder comunista, recusando adiantar qual será a votação do PCP a 28 de Outubro, data em que o documento é submetido à votação na generalidade.

Jerónimo de Sousa diz que esta relutância do PCP não se trata de nenhuma “birra”, mas sim da exigência de um trabalho sério. Ao contrário de Catarina Martins, que esta manhã declarou que o BE não viabilizará a versão conhecida até então, o líder do antigo parceiro do Governo prefere aguardar até anunciar a sua decisão.

Jerónimo de Sousa reconhece que “houve um esforço de aproximação” por parte do Governo, mas acrescenta que foi insuficiente em muitas matérias, quer na questão das creches, quer nos lares, exemplificou esta noite de segunda-feira, em entrevista ao Polígrafo, na SIC Notícias.

“Nesta fase preliminar, antes de conhecer qualquer orçamento, apresentámos um conjunto de propostas que se justificam plenamente, tendo em conta a situação nacional que vivemos”, afirma o secretário-geral do PCP.

Sem conhecer a versão final do documento, o PCP fez um conjunto de propostas sobre o que “gostaria de ver consagrado no orçamento e noutros instrumentos”, em mecanismos de recuperação e desenvolvimento, assinalou Jerónimo de Sousa.

Jerónimo de Sousa deu como exemplos de propostas que o Governo “aceitou parcialmente”, mas “com um sentido muitas vezes discriminatório": o subsídio de insalubridade penosidade e risco e o subsídio de risco para profissionais de saúde, que não inclui as forças de segurança. “Há um esquecimento total das forças de segurança”, condena.

O líder do PCP defende uma maior valorização do salário dos trabalhadores, com o aumento geral dos salários (e não apenas do salário mínimo), lembrando que vários sectores da administração pública não têm aumentos “há dez anos”. “Quem cria a riqueza são os trabalhadores”, sublinha o secretário-geral comunista.

Jerónimo de Sousa questiona a mudança do discurso desde a data em que se celebraram os “milhares de euros” que viriam “carregados numa bazuca” em fundos comunitários. “Parece que afinal isso não vai ser bem assim, na medida em que a União Europeia impõe a aplicação desse dinheiro não no desenvolvimento económico e social, mas define para onde vai”, critica. Vindas de Bruxelas, o líder do PCP não vê as ajudas como uma bazuca, mas como “amarras” que controlam o país.

PCP dispensa “o papel"

Jerónimo de Sousa rejeita que o PCP seja responsabilizado por uma crise política, que considera “mais ou menos artificial”. “Não há crise política, se o Governo der resposta aos problemas que afectam as pessoas”, vincou. Caso as respostas não cheguem, então “o problema está do lado do Governo, e não do lado de quem procura de forma construtiva situar os problemas reais”, resumiu Jerónimo de Sousa.

“Se aceitarmos com fatalismo que é assim ou o Governo se demite, isso não pode ser um dilema”, afirma Jerónimo de Sousa. “Não estamos a tirar coelhos da cartola. O que o Governo tem de dizer é se as nossas propostas são justas e exequíveis. O Governo reconhece a nossa frontalidade, a nossa forma de estar e de propor. Nada alterou este comportamento”, considera.

Sem se referir ao BE, Jerónimo de Sousa sublinhou que “para o PCP basta a palavra, não é preciso papel”.

Sobre a diminuição dos votos nas eleições realizadas após a “geringonça”, Jerónimo de Sousa afastou uma relação causa-efeito, ainda que tenha admitido que possa ter existido uma influência “ali ou acolá”. “Não foi a ‘geringonça’ que determinou o resultado”, considerou.

Sobre o seu futuro enquanto secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa diz que essa será uma decisão tomada pelo comité central do partido e que o apoio ao eurodeputado comunista, João Ferreira, enquanto candidato à Presidência da República, não está relacionado com uma “preparação” para a sucessão do partido. “O meu partido ainda precisa da minha contribuição. Será com essa confiança na decisão dos meus camaradas que se determinará qual a solução”, concluiu.

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