Plano dos EUA de venda de armamento avançado a Taiwan aumenta tensão com a China

China condena negócio e diz que pretende responder de forma adequada. Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês diz que Washington está a construir uma “NATO Indo-Pacífica”.

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Caça F-16 da Força Aérea de Taiwan durante exercício militar TYRONE SIU/Reuters

Os Estados Unidos vão avançar para mais uma venda de armamento a Taiwan, numa altura em que a tensão regional é elevada. A Casa Branca enviou aos presidentes das comissões de Negócios Estrangeiros do Senado e da Câmara dos Representantes as notificações para a venda de três sistemas avançados de armamento, de acordo com várias fontes envolvidas no processo citadas pela Reuters.

Há mais encomendas de armamento preparadas para serem enviadas ao Congresso, mas ainda necessitam de aprovação prévia do Departamento de Estado, diz a Reuters. A posição oficial do Departamento de Estado é de não comentar as vendas de armas a outros países antes da notificação oficial junto do Congresso.

As notificações que chegaram às comissões incluem um lançador de foguetes HIMARS fabricado pela Lockheed Martin, mísseis de longo alcance ar-terra da Boeing, e sensores de imagem externa para aplicação em caças F-16.

O governo taiwanês rejeitou comentar a notícia, reservando-se o direito de se pronunciar apenas quando o negócio estiver formalizado. Mas a porta-voz do executivo, Joanne Ou, referiu a necessidade de Taiwan de proteger-se. “A China continua a usar provocações militares para pôr em causa a estabilidade regional, sublinhando a importância de reforçar as capacidades de autodefesa de Taiwan”, afirmou.

Os negócios de armamento entre os EUA e Taiwan são um tema sensível, especialmente para o regime chinês que considera a ilha parte integral do seu território, embora seja governada de forma independente desde 1949. Apesar de não reconhecer oficialmente Taiwan como um país soberano, Washington é o garante da segurança da ilha, onde os receios de uma invasão armada pela China são grandes.

O Governo chinês condenou a venda de armas norte-americanas a Taiwan e prometeu uma “resposta legítima e necessária de acordo com a evolução da situação”.

A visita de um alto responsável da Administração norte-americana a Taiwan no mês passado também foi bastante mal recebida por Pequim. Como os EUA não mantêm relações diplomáticas com Taiwan, qualquer encontro entre dirigentes governamentais dos dois países tem um grande significado, tanto para a ilha, que a encara como mais um passo de reconhecimento, tanto para a China, que o vê como uma provocação. 

Tensão marítima

A China tem reforçado as críticas à presença dos EUA na região, onde mantêm vários aliados desde o fim da II Guerra Mundial. Esta semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, acusou Washington de estar a construir uma “NATO Indo-Pacífica” através da cooperação militar com o Japão, Austrália e Índia.

“Aquilo que procura é promover a mentalidade da Guerra Fria e agitar o confronto entre grupos e blocos diferentes e causar competição geopolítica”, afirmou Wang, durante uma visita à Malásia.

O aprofundamento das alianças dos EUA com outras potências regionais na Ásia e no Pacífico é justificado pela necessidade de conter as ambições da China que, por exemplo, reivindica grande parte do Mar do Sul da China, colidindo com os interesses de vários países vizinhos.

Ao longo dos anos, Pequim tem feito valer as suas reivindicações através do patrulhamento e da construção de ilhas artificiais, algumas das quais contam já com instalações militares. Os EUA condenam estas acções, que dizem ser uma provocação perigosa que pode precipitar um conflito.

Esta semana, a China disse que os EUA enviaram 60 aeronaves de espionagem para fazer voos de reconhecimento junto das suas fronteiras marítimas, a maior parte das quais sobre o Mar do Sul da China.

As relações entre os dois países atravessam um dos períodos mais difíceis da História recente. Para além do desacordo em torno do Mar do Sul, China e EUA estão envolvidos numa guerra comercial, procuram influenciar o desenvolvimento da rede global de 5G, e têm trocado acusações acerca da gestão da pandemia da covid-19. Com os dois candidatos à presidência dos EUA, Donald Trump e Joe Biden, a prometerem uma abordagem dura em relação a Pequim, não se esperam muitas mudanças quanto a este dossier após as eleições de 3 de Novembro.

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