Stress familiar por causa da pandemia recai desproporcionalmente nas mulheres

Inquérito Life with Corona mostrou “níveis substancialmente mais elevados de tensão domiciliária” nas mulheres.

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daniel rocha

Um inquérito internacional realizado a 12 mil pessoas concluiu que o stress familiar durante a pandemia de covid-19 recai sobre as mulheres de forma desproporcional. O estudo abrange 130 países e teve como parceiro em Portugal o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto.

Em comunicado, o instituto explica que o inquérito Life with Corona, lançado há cerca de seis meses, surgiu com o intuito de “avaliar as implicações da pandemia na vida diária das pessoas em todo o mundo”.

O inquérito, coordenado por investigadores do Centro de Segurança e Desenvolvimento Internacional (ISDC), do Instituto Mundial de Investigação em Economia do Desenvolvimento da Universidade das Nações Unidas (UNU-WIDER), do Instituto Leibniz de Culturas Vegetais e Ornamentais (IGX) e do Instituto de Estudos de Desenvolvimento (IDS), recolheu dados de 12 mil pessoas, de mais 130 países que revelam “diferenças culturais e geracionais”.

Entre as principais conclusões, o inquérito destaca que o stress familiar durante a pandemia recai, de forma desproporcional, nas mulheres que moram com mais do que uma pessoa.

“O relatório feminino indica níveis substancialmente mais elevados de tensão domiciliária do que o masculino, independentemente do tamanho da família, o que sugere que a pandemia pode perpetuar disparidades de género”, indicam os especialistas.

Paralelamente, o inquérito indica que os idosos, ainda que considerados de risco, “estão menos preocupados com as circunstâncias actuais” da covid-19 do que as pessoas mais jovens.

“Isso ressalta que os desequilíbrios geracionais dos impactos da pandemia podem ser fortes e que os aspectos culturais, emocionais e socioeconómicos da pandemia podem ser tão importantes quanto o aspecto da saúde”, lê-se nas conclusões.

Life with Corona concluiu ainda que os jovens adultos realizam “activamente muitos comportamentos” para combater a pandemia, que os americanos querem ter prioridade no acesso a uma vacina e que os mais jovens estão mais dispostos a pagar para impedir a propagação da doença do que as pessoas mais velhas.

Citado no comunicado, Tilman Bruck, do ISDC, afirma que a covid-19 “não se trata apenas de uma pandemia médica”, mas sim de “uma pandemia social”.

“O coronavírus mudou a vida e a subsistência de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo, com uma velocidade e força sem precedentes”, salienta o economista alemão especializado em desenvolvimento e economia da paz, conflito e terrorismo.

Também Wolfgang Stojetz, responsável pela análise de dados do inquérito, salienta que o intuito do Life with Corona é “documentar as mudanças em tempo real”.

“Mesmo que derrotemos o vírus em breve, o seu legado moldará as nossas sociedades durante muito tempo”, observa o investigador do ISDC - Centro Internacional de Segurança e Desenvolvimento.

Por existirem ainda “muitas implicações a apurar”, no dia 1 de Outubro foi lançada a segunda fase do inquérito, que pretende “obter dados mais globais sobre o impacto da covid-19 a nível social e económico”, explica o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde.

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