Fauci critica Trump por usar uma frase sua de forma enganadora em anúncio de campanha

O principal responsável pelo combate à pandemia parece estar a elogiar a resposta da Administração à pandemia. Mas estava a falar dos responsáveis de saúde pública.

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Fauci estava a falar da resposta dos responsáveis de saúde pública, não da de Trump Reuters/POOL

Um anúncio da campanha para a reeleição de Donald Trump em que o especialista em doenças infecciosas Anthony Fauci parece elogiar o trabalho de resposta à pandemia do Presidente foi feito sem a sua autorização e as suas palavras foram retiradas de contexto, parecendo que está a dizer algo que nunca disse, queixou-se o especialista.

No anúncio, divulgado no sábado, a seguir a uma imagem de Donald Trump (com máscara) Fauci aparece a dizer “não consigo imaginar que alguém pudesse estar a fazer mais”, dando ideia que se referia a Trump ou ao trabalho da Administração. 

Mas não, veio clarificar o especialista: “Os comentários que me foram atribuídos foram retirados de contexto de uma declaração mais alargada que fiz há meses sobre o esforço dos responsáveis de saúde pública”, disse Fauci numa declaração à CNN.

A afirmação foi feita numa entrevista à Fox de Março. “Nas minhas quase cinco décadas de serviço público, nunca apoiei publicamente nenhum candidato”, disse ainda Fauci.

A sua frase completa, na entrevista, foi: “Tenho-me dedicado quase a tempo inteiro a isto [à resposta à pandemia]. Estou na Casa Branca praticamente todos os dias com a task-force. Todos os dias. Por isso, não consigo imaginar que em quaisquer circunstâncias alguém pudesse estar a fazer mais”.

Apesar do desmentido, a campanha de Trump defende o anúncio. As palavras “são exactas e saíram directamente da boca do Dr. Fauci”, disse o porta-voz Tim Murtaugh. Trump também disse no Twitter: “São de facto as palavras do Dr. Fauci. Fizemos um trabalho ‘fenomenal’, segundo alguns governadores”, alegou.

Fauci e Trump discordaram várias vezes em público em relação à pandemia, por exemplo no mês passado, quando Trump disse que o fim estava à vista e Fauci afirmou que os números de infecções no país eram “preocupantes” e que não era possível considerar um regresso à vida normal pré-pandemia tão cedo como o Presidente defendia. 

Fauci também criticou a Casa Branca por ter organizado o que foi um “evento de super-transmissão”, a cerimónia de anúncio da escolha de Amy Coney Barrett para juíza do Supremo Tribunal, a 26 de Setembro. Barrett começa hoje a ser ouvida pelo Senado para a sua confirmação no lugar deixado vago por Ruth Bader Ginsburg.

Nesta cerimónia não houve distância física, ninguém usava máscaras, e uma parte foi ainda realizada no interior. Depois disso, pelo menos 34 pessoas que trabalham na Casa Branca e outros contactos estão infectados pelo vírus SARS-CoV-2 - entre eles o Presidente, que foi internado com covid-19.

O comportamento de Trump desde que se anunciou a sua infecção foi muito criticado por várias razões, desde não usar máscara enquanto estaria ainda positivo, pôr outras pessoas assim em risco, regressar demasiado cedo à Casa Branca, desvalorizar a doença e a pandemia, e por não apresentar um teste negativo antes de recomeçar as suas actividades públicas.

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