Melhorar os leilões em teoria e também na prática dá prémio Nobel a dois norte-americanos

Invenção de novos formatos de leilões, mais eficientes a encontrar o preço certo, beneficiando compradores, vendedores e contribuintes, garante prémio Nobel da Economia a Paul Milgrom e Robert Wilson

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KATE MUNSCH/Reuters

Foi pelo contributo que deram para a melhoria da teoria dos leilões entre os anos 1960 e 1980 e depois, já nos anos 1990, pela invenção de novos modelos de leilão mais complexos que têm ajudado, por exemplo, os Estados a venderem bens públicos a preços mais altos, que dois norte-americanos se tornaram, esta segunda-feira, nos mais recentes vencedores do prémio Nobel da Economia – oficialmente denominado prémio do Banco Central da Suécia para as Ciências Económicas em memória de Alfred Nobel.

Paul Milgrom, de 72 anos, e Robert Wilson, de 83 anos, ambos professores na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, concentraram quase toda a sua carreira na análise teórica e no desenvolvimento prático dos leilões.

Esta área de estudo, que teve em William Vickrey – também prémio Nobel em 1996 – o seu primeiro grande nome, analisa de que forma é que compradores e vendedores agem e defendem os seus interesses em circunstâncias diferentes. O comportamento dos compradores, nomeadamente o preço que estão a oferecer por determinado produto, depende seja da informação que têm sobre o produto, seja daquilo que pensam que os outros compradores sabem, seja do formato utilizado para realizar o leilão.

E há vários formatos possíveis de leilão. O mais conhecido é talvez o inglês, em que o vendedor estabelece um preço inicial baixo e os compradores começam depois a fazer ofertas progressivamente mais altas. Mas há também o leilão holandês, em que o vendedor estabelece um preço inicial alto e depois vai baixando o valor progressivamente até que algum comprador o aceite.

Robert Wilson, entre os anos 1960 e 1970, escreveu uma série de artigos base para a teoria dos leilões que procuraram compreender aquilo a que se chama a “maldição do vencedor” e que leva os compradores a oferecerem menos por um bem em leilão do que aquilo que pensam que ele realmente vale.

Quando um comprador tem pouca informação sobre o valor que é atribuído a um bem pelos outros compradores fica com receio de, ao oferecer um valor demasiado elevado (mesmo que seja aquilo que acha que vale o bem) estar a pagar demasiado por ele. Na prática, se for o comprador que oferece mais, tem o receio de que isso possa significar que está a avaliar mal o bem em leilão.

A consequência deste medo de cair na “maldição do vencedor” faz com que, nos leilões em que há muito pouca informação sobre o que os concorrentes pensam (como por exemplo um leilão de cartas fechadas) as licitações acabem por ser mais baixas, prejudicando o vencedor.

Nos anos 1980, Paul Milgrom levou ainda mais a fundo esta análise, adaptando-a a situações ainda mais complexas. E, mais do que isso, em conjunto com Robert Wilson passou da teoria à prática e desenvolveu novos formatos de leilão que tornem mais eficiente, por exemplo para um Estado, a venda de um bem público.

O principal exemplo deste contributo dos dois prémios Nobel surgiu em Julho de 1994 quando o regulador das telecomunicações dos EUA usou um formato novo de leilão – o leilão de rondas múltiplas simultâneas – para vender uma série de frequências de rádio em diversas localizações geográficas. Estes leilões, que anteriormente geravam uma receita ao Estado bastante reduzida, passaram a ser bastante benéficos para os contribuintes e o novo formato de leilão acabou por ser replicado em diversos outros países.

Esta capacidade de Paul Milgrom e Robert Wilson para, em simultâneo, darem contributos teóricos e práticos para esta área da ciência económica é destacada pela academia na sua explicação para a escolha dos laureados.

“Os novos formatos de leilões são um óptimo exemplo de como a investigação básica pode posteriormente gerar invenções que beneficiam a sociedade. E a característica pouco habitual deste exemplo é que as mesmas pessoas desenvolveram a teoria e as aplicações práticas”, afirma a Academia Real Sueca das Ciências.

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