Câmara de Guimarães suspende espectáculos após polémica sobre plateia em noite de stand-up comedy

Autarquia e artistas garantem que não foi excedida a lotação legalmente permitida em contexto de pandemia num espectáculo de comédia com Nilton, Hugo Sousa e Ana Garcia Martins (A Pipoca Mais Doce). No entanto, Guimarães decidiu suspender todos os eventos nos seus equipamentos culturais devido ao agravamento da pandemia de covid-19.

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A imagem partilhada por Ana Garcia Martins na conta de Instagram d'A Pipoca Mais Doce Instagram

Uma imagem divulgada no Instagram, e a polémica que deflagrou nas redes sociais, bastou para o presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança, decidir suspender temporariamente os espectáculos agendados para todos os equipamentos culturais do município, até serem ouvidas as entidades gestoras e a Protecção Civil, numa reunião. “Até que [sejam ouvidas] a Protecção Civil Municipal, na qual têm assento as autoridades de saúde e de segurança, e as entidades gestoras dos equipamentos municipais que acolhem espectáculos, o presidente da Câmara Municipal determinou a suspensão temporária dos espectáculos actualmente programados em todos os equipamentos culturais do concelho”, lê-se no comunicado emitido neste domingo pela autarquia.

Em causa está uma fotografia que gerava a ilusão de uma plateia quase cheia no pavilhão multiusos da cidade, durante um espectáculo de comédia com Nilton, Hugo Sousa e Ana Garcia Martins, autora do blogue A Pipoca Mais Doce. Foi precisamente a blogger quem divulgou a imagem no seu perfil na rede social Instagram. Perante as críticas surgidas nos comentários à publicação, Ana Garcia Martins explicou que o espectáculo decorreu dentro da legalidade e das limitações impostas pela actual pandemia de covid-19.

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Obrigada, Guimarães. Que pequena maravilha que isto foi ??

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“Num layout de sala com capacidade para 2466 lugares, só foram ocupados 964 lugares, correspondendo a 40% da lotação. Todas as pessoas usaram máscara, havia dispensadores de gel desinfectante no recinto, as entradas e saídas na sala foram feitas de forma ordeira e controlada. Nenhum espectador tinha pessoas sentadas à sua frente, atrás ou ao lado, havendo sempre uma cadeira a garantir essa distância (tal como exigido pela DGS)”, explicou Ana Garcia Martins.

No entanto, as críticas alastraram pelas redes sociais e chegaram à aos comentários da página oficial do multiusos de Guimarães no Facebook. Nessa página, são visíveis imagens que antecedem o espectáculo de reabertura do equipamento municipal, depois de meio ano de encerramento no âmbito da pandemia de covid-19; vêem-se marcadores a indicarem os lugares onde era proibido os espectadores sentarem-se e estruturas de desinfecção das mãos, à entrada para o recinto. A entidade responsável pelo multiusos, a régie-cooperativa Tempo Livre, adiantou, nessa mesma página, que o espectáculo cumpriu “todas as orientações e medidas de segurança impostas pela Direcção-Geral da Saúde e pela Resolução do Conselho de Ministros n. 70-A/2020”, permitindo a ocupação de 964 lugares num “layout de sala com capacidade para 2466 lugares” – 40% da lotação.

A autarquia vimaranense sublinha, no comunicado emitido neste domingo, que o evento “cumpriu o plano de contingência aprovado pelas autoridades de saúde”. No entanto, anunciou a suspensão de espectáculos nos equipamentos a seu cargo.

“A situação epidemiológica que actualmente se verifica no concelho obriga à adopção de regras mais restritivas do que aquelas que actualmente estão previstas no quadro legal aplicável a estas situações”, lê-se no comunicado.

Na última actualização dos números da covid-19 por concelho, realizada na segunda-feira, Guimarães foi o oitavo município do país com mais novos casos (115), tendo passado a contabilizar um total de 1417 infecções desde Março. No sábado, o director clínico do Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães, avançou ao Grupo Santiago, um órgão de comunicação social local, que a unidade de saúde tem mais de meia centena de internados devido à covid-19, cinco deles nos cuidados intensivos.

Domingo sem cinema

A decisão tomada por Domingos Bragança vai, inevitavelmente, alterar a dinâmica cultural de Guimarães; os efeitos far-se-ão sentir já neste domingo sobre a sessão de cinema marcada para esta noite, no Centro Cultural Vila Flor (CCVF). Nas noites de domingo, aquele espaço está habitualmente reservado para os filmes exibidos pelo Cineclube de Guimarães.

A película que iria ser exibida é Tenet, a mais recente de Christopher Nolan, lançada nas várias salas de cinema de Portugal no final de Agosto. Contudo, a medida tomada pela autarquia suspendeu a sessão. “Já avisámos os nossos sócios de que a sessão não vai decorrer”, adiantou o presidente do cineclube vimaranense, Carlos Mesquita. O responsável disse ainda que a direcção por si liderada acata a decisão tomada por Domingos Bragança.

A suspensão dos equipamentos culturais municipais também se pode repercutir na música, face aos vários concertos agendados para este mês no CCVF: Mão Morta (16 de Outubro, às 21h30), Tó Trips (17 de Outubro, às 21h30) e The Legendary Tigerman (17 de Outubro, às 0h), todos no âmbito do festival Westway Lab, e ainda o dueto de Camané e Mário Laginha (24 de Outubro, às 21h30).

O director executivo da Oficina, cooperativa que organiza as actividades culturais a cargo da autarquia, garantiu, porém, que o festival de música agendado para esta semana vai realizar-se, nem que somente por transmissão online, caso a suspensão dos espectáculos perdure. “Temos as actividades todas programadas. O Westway Lab há de acontecer. Em último caso, não havendo público, estaremos preparados para a solução online”, disse Ricardo Freitas ao PÚBLICO, nesta segunda-feira.

A decisão quanto à presença de público nesse e noutros eventos culturais vai ser tomada numa reunião entre as entidades responsáveis pelos equipamentos culturais do município e a Protecção Civil, agendada para a tarde de terça-feira, antes da possível exibição do filme Fogo de Artifício, de Takeshi Kitano, pelo Cineclube, no pequeno auditório do CCVF, às 21h45. “Só por volta das 17h30 ou das 18h é que vamos ter mais informações. Para já, esta suspensão não coloca nenhuma actividade da Oficina em causa”, adiantou.

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