A pandemia trouxe mais tranquilidade aos bastidores da ModaLisboa

No terceiro dia do evento, Nuno Gama desafiou, novamente, os limites da moda e apresentou uma performance com um único item: um casaco.

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Nuno Gama apresentou uma performance LUSA/MÁRIO CRUZ

Arrancou este sábado o terceiro dia de ModaLisboa com colecções de Kolovrat, Saskia Lenaerts, Ricardo Andrez, Opiar, Filipe Augusto, uma performance de Nuno Gama e o concurso Sangue Novo. Nos bastidores, a azáfama tradicional é menor, há mais tempo e mais tranquilidade, mas menos emoção.

À tarde os bastidores estavam praticamente vazios, com os modelos à conversa no relvado e frente ao Pavilhão Carlos Lopes. O dia já estava praticamente despachado, só faltava tratar de uns pormenores para Nuno Gama, comentam os profissionais. Não era este o cenário esperado em plena ModaLisboa, nem este o cenário a que aqueles que trabalham neste evento estavam habituados.

Amélia é maquilhadora na equipa de Antónia Rosa e, na sua opinião, as coisas até são “melhores” assim, no sentido em que “há tempo”. Amélia explica ao PÚBLICO que nesta edição há menos modelos, o que permite que cada maquilhador tenha mais tempo para trabalhar e, mais importante, “tempo para desinfectar os pincéis”. A maquilhadora mostra o seu kit de pincéis: “Eu tenho estes todos, tenho o suficiente para maquilhar mais do que duas pessoas sem desinfectar os pincéis, mas muitos estagiários por exemplo não conseguem ter kits tão completos, daí ser importante [o tempo extra].”

No lado do cabelo a opinião é semelhante. A azáfama deu lugar à tranquilidade, o que dois membros da equipa de Griffehairstyle, que não quiseram ser identificados, consideram positivo. Quanto à utilização das máscaras, os mesmos dizem já estarem habituados devido à actividade no salão – que reabriu a 4 de Maio.

A pandemia veio alterar os planos a muitos destes profissionais. Amélia, que faz mais publicidade, indicou ter ficado sem trabalho durante cinco meses, só recentemente começou a recuperar. Já os membros da Griffehairstyle estiveram parados até o salão reabrir por ordem do Governo e, quanto aos restantes trabalhos – televisão, moda – estão “a recuperar aos poucos”.

Apesar de haver menos gente e ser mais tranquilo, um dos membros da organização disse ao PÚBLICO que também se perdia um pouco da emoção habitual, como os abraços após os desfiles. De ressalvar que, toda a gente que entra nos bastidores, salvo raras excepções, foi testada antes do início do evento, como disse ao PÚBLICO Joana Jorge, gestora de projecto do evento. 

Edição fora do normal

Ao PÚBLICO, o designer Ricardo Andrez confessa ser “estranho” toda a gente trabalhar de máscara nos bastidores. “Toda esta edição é fora do normal, temos de ter muito mais preocupações, ou seja, o stress que já tínhamos agora é agravado.”

A pandemia influenciou não o stress sentido nos bastidores do desfile, mas também nos bastidores da colecção. O designer conta que esta colecção partiu da quarentena e dos artistas que a sua equipa “absorveu” durante esse período. “A ideia foi não haver um conceito mas pegar em todas as influências. Ser quase um tributo a esses artistas e essas pessoas que nos acompanharam nos dois meses [fechados em casa].”

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Nuno Gama voltou a desafiar os limites da moda portuguesa e ofereceu não um desfile, mas uma performance no lago do miradouro do Parque Eduardo VII, com pouca roupa. A sua colecção consiste unicamente num casaco azul com bordados e pormenores dourados a exaltarem a sua origem: Portugal.

Durante cerca de 20 minutos o casaco rodou por todos os modelos, sendo vestido e despido por cada um, à medida que o bailarino, coreografado por Olga Roriz, roubava a atenção dos espectadores. No final, foi o bailarino quem vestiu o casaco.

Quanto ao tipo de apresentação escolhido, Nuno Gama contou à Lusa: “Não fazia sentido ser uma música, ser cantado, fazia sentido ser uma coisa física, com corpo, que é esta coisa de como é que movimentamos o nosso corpo todos os dias quando vestimos uma peça, esta gesticulação que fazemos, a articulação que fazemos para vestir uma peça e isso inspirou-nos, de alguma forma, à volta do casaco e da história.”

E porquê só um casaco? O criador admite ser um “discípulo do casaco” e explica que queria focar as suas energias numa só peça “que contasse a história daquilo que somos enquanto povo”.

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DR - ModaLisboa
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Sangue Novo conheceu os cinco finalistas

No final do dia era hora de conhecer as obras dos dez finalistas (entre 99) do concurso do evento, o Sangue Novo. Todas as fases do concurso foram digitais devido à pandemia de covid-19 e, ao contrário de anos anteriores, a apresentação foi em formato vídeo e não em desfile.

No fim do vídeo foram anunciados os cinco finalistas: Rafael Ferreira, Ardes, Ari Paiva, Fora de Jogo e Andreia Reimão. Os cinco jovens receberam mil euros para ajudar a construir a sua colecção que será apresentada na 56.ª edição da ModaLisboa, em Março.

Este sábado foram já atribuídos dois prémios. O prémio The Feeting Room, que garante a venda da colecção nas lojas que dão nome ao prémio, foi para Bolota Studio. O prémio do público com um valor de 1500 euros foi para Pilar do Rio.

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