Sem vacina à vista, os europeus perguntam-se: “Onde é que se bebe um copo?”

Restrição de acesso ao consumo de bebidas alcóolicas gera desagrado um pouco por toda a Europa. Comerciantes clamam justiça nas regras que penalizam os bares e similares.

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Em alguns países, os bares são forçados a encerrar as portas às 22h rui gaudencio

Um novo surto de casos de coronavírus significa que mais bares e restaurantes da Europa serão forçados ao recolher obrigatório ou, até mesmo obrigados a encerrar portas, deixando muito dos seus clientes a perguntar: “Onde é que se pode beber um copo?”

A imediata mudança de regulamentos e das regras nos diferentes países da Europa, nomeadamente no que toca à restrição do consumo de bebidas alcoólicas, tem dificultado a vida dos noctívagos e que não dispensam um copo. O mesmo acontece em Portugal, onde é proibida a venda de bebidas alcoólicas a partir das 20 horas. 

Se uns concordam com as medidas e normas implementadas, há quem tenha a sensação de que as regras penalizam injustamente os bares, enquanto outros sectores do mercado são privilegiados. “Isto é um total disparate. Portanto, hoje há um jogo de futebol com sete mil pessoas num estádio, as pessoas acotovelar-se-ão umas às outras ao passarem pelas portas giratórias, enquanto que os bares não podem abrir”, exemplifica Raphael Raya. “Porque é que os bares estão fechados e não os restaurantes?”, pergunta. 

Também em algumas zonas limítrofes de Bruxelas, nomeadamente na região de Flandres, a largura de uma estrada pode fazer toda a diferença. Em Vilvoorde, o café Noisette está fechado, enquanto no outro lado da rua o bar Pub está de portas abertas. 

Já em Woluwe, uma cervejaria típica — não fosse este conceito  muito comum na Bélgica, onde a cerveja faz parte do património de várias comunidades —, reinventou-se o conceito com pratos de azeitonas, sardinhas ou anchovas a metade do preço; além de aproveitar o espaço exterior para esplanada. Um modelo em tudo semelhante ao que a restauração portuguesa está a fazer.

Em Madrid, os bares e restaurantes têm de fechar às 22 horas, uma hora nada tardia comparativamente aos horários praticados antes da pandemia, altura em que o horário limite de fecho era às 3h. “Agora vou a menos bares e restaurantes, mas tenho de admitir que me encontro em mais sítios com os meus amigos”, confessa uma estudante de 24 anos, comprovando que as medidas são contornadas por muitos e que não impedem o aglomerado de pessoas.

Por toda a Europa, as medidas de prevenção e de segurança implementadas face à pandemia actual, seguem praticamente o mesmo modelo. Em Berlim, o recolher obrigatório é a partir das 23h até às 6h do dia seguinte. Pelo menos é uma medida em vigor até ao final deste mês, o que não agrada aos comerciantes que viram os seus negócios a decrescer bastante. “Resta saber se as pessoas mudam os seus hábitos passando a beber em casa e, nesse caso, temos de pensar em introduzir o conceito takeaway ou growlers”, aponta Brian Trauth, um americano que se mudou para Berlim para abrir uma cervejaria, e que avalia que as restrições face à pandemia implicam alterar hábitos sociais como frequentar bares mais cedo.  

Em Inglaterra, uma das críticas ao encerramento dos pubs às 22h é que obriga as pessoas a sair às ruas, desrespeitando o distanciamento social. Na Escócia, o governo foi mais longe e ordenou o encerramento durante 16 dias dos pubs de Glasgow e Edimburgo.

Quando Bruxelas anunciou que os bares e os cafés, à excepção de os restaurantes, iriam fechar durante um mês, uma conta falsa da rede social Twitter, seguida por milhares de pessoas, foi eliminada depois de uma publicação convidativa: “Hoje à noite, no meu restaurante preferido para encomendar um grande coq au vin, sem o coq.

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