Covid-19: Estudo revela que paragem aumentou ansiedade e baixou felicidade dos atletas

Dos quase dois mil inquiridos, estima-se que 75% dos participantes apresentam quebra acentuada e estão muito mais infelizes.

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Jovens desportistas estão desmotivados e apresentam grau de infelicidade Paulo Pimenta

A paragem competitiva causada pela covid-19 aumentou os níveis de ansiedade e baixou os de felicidade nos desportistas portugueses, conclui um estudo da Universidade de Lisboa que revela dados “preocupantes”, avança uma das investigadoras. 

Segundo Liliana Pitacho, docente universitária que assina a investigação com Patrícia Palma e Pedro Correia, foram encontrados “níveis de stress bastante altos”, com uma percentagem “acima dos 50% com stress patológico”, ou seja, níveis que, a permanecerem altos, podem trazer consequências para a saúde.

Por outro lado, existem perturbações de sono numa porção significativa dos quase 1500 inquiridos para este estudo, acima de 40% com um número “realmente preocupante” de “percepção de diminuição de felicidade que os atletas tiveram nesta interrupção”, entre Março e o Verão, dependendo da modalidade, altura em que de forma faseada retomou-se a prática de alguns desportos. 

“Temos 75% dos participantes com quebra acentuada, estão muito mais infelizes do que estavam, ou moderadamente mais infelizes”, acrescenta a investigadora, explicando que, “em contrapartida, não há subidas ao nível de felicidade durante a paragem. Temos grandes quebras e essa é a grande preocupação, porque a felicidade pode ser vista como um factor protector em situações adversas”, aponta Liliana Pitacho. 

O trabalho dos docentes do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa, intitulado “Da paixão ao abismo: o impacto indirecto da covid-19 na saúde psicológica dos atletas”, foi levado a cabo durante um mês e meio, com cerca de 45% dos inquiridos do género feminino e uma idade média entre os 20 e os 32 anos. 

No estudo, participaram atletas de oito modalidades, com quase 49% a pertencerem aos escalões de formação, dos 13 aos 17 anos; e o resto em escalões competitivos, com 22,6% da amostra a indicar ser remunerada pela actividade. Não se notam “grandes diferenças entre modalidades”, além de notas “pontuais” na questão do género, num estudo que aborda ainda uma escala de chamamento, ou seja, associado à “paixão que a pessoa sente pela actividade”, que poderiam praticar mesmo não sendo remunerados. 

Liliana Pitacho lamenta que as quebras salariais sejam as principais causadoras de stress: “Também os cortes salariais parecem ser bastante relevantes. As pessoas que sofreram cortes apresentam níveis de stress mais elevados, também nas perturbações do sono e maiores quebras de felicidade.” 

Há níveis mais baixos nos jovens, ainda que sejam “bastante preocupantes para a faixa etária”, colocando em risco o seu desenvolvimento desportivo, mas também o cognitivo e pessoal, uma vez que as perturbações do sono afectam o crescimento. 

A incerteza que ainda recai sobre a retoma dos escalões de formação é outro dos dados que suscita preocupação, com os investigadores a apelarem “para a necessidade de intervenção e maior apoio”. 

O estudo pede ao ecossistema do desporto, desde clubes, entidades estatais e federações, para apoiarem no que toca ao trabalho psicológico, de gestão emocional e outras formas de apoio a atletas, após divulgarem “a situação actual dos atletas e o seu estado psicológico”.

“Apenas 13% dos clubes dispõem de apoio psicológico para os seus atletas, o que é muito pouco”, lamenta a investigadora. “Percebo a questão financeira, mas tem de ser um esforço conjunto de clubes, entidades estatais, federações, avaliar o que pode ser feito e que medidas podem ser disponibilizadas, tanto a nível da formação como na competição”, conclui.

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