Cascais cria centro para acolher a população sem-abrigo

É o primeiro do concelho e foi “acelerado” pela pandemia. Terá capacidade para acolher 45 utentes — 29 por agora —, 24 horas por dia, sete dias por semana, num investimento superior a um milhão de euros. É inaugurado esta quarta-feira.

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O concelho de Cascais vai ter o seu primeiro centro de recursos e de acolhimento da população que está em situação de sem-abrigo. Depois de nos últimos meses terem estado a funcionar dois espaços de acolhimento temporário, é inaugurada esta quarta-feira uma estrutura construída de raiz para dar respostas de alojamento e terapêuticas a esta população vulnerável do concelho, avança o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, estará presente. 

A ideia, diz o autarca ao PÚBLICO, estava já a ser pensada antes de a pandemia de covid-19 embater no país e acabou por ser “acelerada” para ser uma resposta de apoio mais estruturada. Ainda em Março, o município fez dos ginásios das escolas secundárias Fernando Lopes Graça e da Cidadela dois centros de alojamento temporário. No entanto, com o arranque do ano escolar, estas estruturas tiveram de ser encerradas e os utentes transferidos provisoriamente para outras instalações. 

Está agora pronto a abrir este Centro de Recursos para a Intervenção com Pessoas em Situação de Sem Abrigo — assim o designa a autarquia. Será localizado na freguesia de Alcabideche e vai funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana. Além de assegurar alojamento, alimentação, cuidados de saúde e higiene, o centro prestará também apoio psicossocial para garantir que os utentes são continuamente acompanhados e que têm apoio médico. Para tal, cada utente terá um “plano de intervenção individualizado”, que incluirá também a sua qualificação escolar, formativa e profissional, com vista à sua reintegração no mercado de trabalho.

O principal objectivo, assume o município, é “a recuperação e a reintegração social dos seus utentes”, apoiada numa rede de parcerias locais. Esta deverá ser, por isso, uma solução “transitória”, uma vez que o objectivo último é autonomizar os utentes, explica Carlos Carreiras. 

“A grande vantagem [do centro] é acolhê-los e podermos ter informação mais precisa de como ajudá-los. Além disso, acabam por estar inseridos numa comunidade que lhes garante a dignidade humana”, nota o autarca. 

Além do acolhimento, o centro terá também serviços de lavandaria e balneários que poderão ser utilizados por não utentes e estará também preparado para receber quem necessitar temporariamente de tecto por ter ficado desalojado. E terá também canil e gatil, com acompanhamento veterinário, para acolher os animais que muitas vezes acompanham pessoas e situação de sem-abrigo.

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Centro terá capacidade para 45 utentes, mas devido à pandemia só poderá acolher 29 DR

18 pessoas com casa e trabalho

Para erguer este centro, a Câmara de Cascais construiu um edifício de raiz, num investimento de 1,2 milhões de euros. A sua gestão está agora nas mãos da Cruz Vermelha Portuguesa, que tem para este primeiro ano de actividade um orçamento, assegurado pelo município, de 509 mil euros.

Também os utentes serão chamados a colaborar na manutenção deste equipamento. Segundo diz a autarquia, deverão realizar “pequenas tarefas, participar na gestão da casa, cuidar e limpar das instalações e também do canil e gatil”.

Terá capacidade para acolher 45 residentes, distribuídos por três camaratas de 11 camas com acesso a casas de banho colectivas e quatro quartos de três camas com casa de banho privada. No entanto, dada a situação de pandemia, terá capacidade para acolher, por agora, 29 residentes (21 em camaratas e oito em quartos). O município está neste momento a estudar já a ampliação deste centro, uma vez que existem edifícios próximos que a câmara adquiriu e que poderão ser adaptados para acolher outras valências, avançou Carlos Carreiras. 

No período pré-pandemia, o concelho de Cascais tinha referenciadas entre 40 a 50 pessoas em situação de sem-abrigo, diz Carlos Carreiras. Actualmente, estão pelo menos 58 pessoas nesta condição. “Todas estas situações têm gestor de caso e são acompanhadas e monitorizadas pelos parceiros da Câmara Municipal de Cascais de forma a assegurar condições que garantam a promoção da autonomia”, explica a câmara.

Pelos centros de alojamento temporário montados nas escolas, passaram 74 pessoas que puderam ter acesso a alojamento, cuidados de higiene, saúde e acompanhamento técnico psicossocial. Destas, 31 já deixaram os centros. No meio destes números, há um que deixa ao município boas indicações no cumprimento desse objectivo último de reintegrar os utentes na comunidade e no mercado de trabalho: 18 pessoas conseguiram autonomizar-se, arrendar um quarto e um emprego, nota o autarca. As empresas municipais, como a Cascais Ambiente, estão também a recrutar entre os utentes. 

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