Nova Caledónia rejeita independência da França, mas são cada vez mais os que a desejam

O “não” à autodeterminação do arquipélago colonizado por França perdeu terreno face ao referendo de 2018, alimentando as esperanças para uma próxima consulta daqui a dois anos.

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Os neocaledónios voltaram a dizer "sim" à manutenção do vínculo colonial com a França Alain Pitton/NurPhoto via Getty Images

A Nova Caledónia voltou a rejeitar a independência de França em referendo, mas o “não” perdeu terreno e as esperanças dos partidários da autodeterminação estão numa nova consulta daqui a dois anos.

O “não” à independência do arquipélago do Oceano Pacífico recolheu 53,26% dos votos face aos 46,74% do “sim”, de acordo com a contagem preliminar comunicada pelas autoridades eleitorais. A consulta surge depois de uma forte mobilização, especialmente por parte dos defensores da independência, que se traduziu numa participação superior a 85% entre os 181 mil eleitores.

Apesar derrotados este domingo, foram os independentistas a celebrar o resultado nas ruas da capital Nouméa e nos bairros populares, habitados maioritariamente por canacas, a etnia autóctone da Nova Caledónia, por onde desfilaram com bandeiras do território, descreve a AFP.

Face ao referendo de 2018, o “não” perdeu mais de três pontos percentuais – na altura obteve 56% –, algo que reforça a convicção dos partidários da independência de que na próxima consulta, que pode ser realizada dentro de dois anos, o seu objectivo poderá ser alcançado. Os Acordos de Nouméa, assinados em 1998 entre o Governo francês e as autoridades da Nova Caledónia no âmbito do processo de descolonização, prevêem a realização de dois referendos sobre a independência do arquipélago, com dois anos de diferença entre si, e de uma terceira consulta caso as duas primeiras dêem vitórias à manutenção do statu quo.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, aludiu precisamente a essa possibilidade, tendo reagido com “humildade” face ao resultado do referendo. “O futuro é a última etapa do Acordo de Nouméa. Um terceiro referendo é possível, compete aos vossos eleitos do Congresso decidi-lo. O Estado, fiel à sua palavra, está preparado para o organizar, se essa for a vossa escolha”, afirmou.

O arquipélago da Nova Caledónia é um dos últimos resquícios do império colonial francês, anexado em 1853, e tem uma posição estratégica no Oceano Pacífico. A campanha do referendo girou em torno da influência da China sobre uma Nova Caledónia independente, no quadro da estratégia chinesa de ampliar a sua presença nos assuntos internacionais nas próximas décadas.

Se a tendência de subida do apoio à independência se mantiver no próximo referendo, o mundo poderá receber uma nova nação em breve. “Os resultados são bastante surpreendentes, com os números que mostram uma verdadeira progressão do campo do ‘sim’, em alta em todos os municípios”, disse à AFP o especialista em geopolítica Pierre-Christophe Pantz.

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