Marisa Matias avisa que Portugal “está aflito” e Presidente não pode “ser um adorno”

A candidata apoiada pelo BE evocou Maria de Lourdes Pintasilgo e recuperou o seu conceito de “Cuidar o Futuro”.

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Marisa Matias apresentou formalmente a sua candidatura a Presidente da República Nuno Ferreira Santos

A candidata presidencial Marisa Matias afirmou este sábado que “Portugal está aflito”, mas defendeu que a crise económica e social não começou com a pandemia de covid-19 e que o próximo Presidente não pode “ser um adorno”.

Na apresentação formal da sua candidatura, em Lisboa, a eurodeputada e dirigente do BE evocou por várias vezes Maria de Lourdes Pintasilgo, a única mulher primeira-ministra em Portugal, e recordou a sua candidatura a Belém em 1986, para lembrar outro cenário de crise.

“Esse fatalismo foi vencido e a política mudou em Portugal, mudou na protecção das reformas e pensões, na recuperação dos rendimentos, no desenvolvimento de serviços públicos, impedindo novas privatizações, o país ganhou com o reforço da esquerda e com a mobilização popular. Eu acredito profundamente que a minha candidatura fez parte dessa mudança que quebrou o ciclo da austeridade e que permitiu ao país respirar e recuperar”, defendeu.

Recuperando o lema “Cuidar o Futuro”, criado por Maria de Lourdes Pintasilgo, no final dos anos noventa o século XX, que deu depois nome à sua fundação e com que intitulou o relatório que elaborou, em 1998, enquanto presidente da Comissão Independente População e Qualidade de Vida, Marisa Matias considerou que a sua candidatura às presidenciais representará as pessoas que “à esquerda não baixam os braços e constroem soluções para o país”.

E sublinhou que a sua candidatura é “uma candidatura de quem, como Maria de Lourdes Pintasilgo, acredita na força do diálogo. De quem acredita que podemos ter uma política diferente. Mesmo diferente.” E reforçou: “Como Pintasilgo, sei que as eleições presidenciais não estão acima da política. Quem ocupar a presidência não será um adorno nas escolhas decisivas que temos pela frente.”

Na sua declaração, com cerca de 20 minutos, a candidata referiu-se ao actual contexto de crise sanitária, económica e social. “Os seus efeitos recaem de forma desigual sobre a população, os mais pobres e os esquecidos são sempre as primeiras vítimas, o desemprego é uma praga, a vulnerabilidade cresceu. Em poucas palavras, Portugal está aflito”, avisou, salientando que “a pandemia acelerou a crise económica e social, mas não a inventou”.

“Não foi a covid que empurrou dezenas de milhares de jovens para cima de bicicletas e motas para serviços de entrega porta a porta, sem contrato e sem direitos. Não foi a covid que criou os lares clandestinos, onde são maltratados tantos idosos. Não foi a covid que inventou a soberba dos patrões que fecham a porta, despedem as trabalhadoras e abrem nova empresa ao lado”, apontou.

A candidata considerou que a actual crise demonstrou que “a força do país não está na riqueza, não está nas fortunas”, mas “no que é comum, a começar pelo Serviço Nacional de Saúde”. E afirmou: “É essa a força do meu programa: a democracia é o é que de todos, para todos e por todos.”

Marisa Matias criticou os “políticos de segunda mão” (em que incluiu o presidente norte-americano Donald Trump) que atacam “os trabalhadores, os pobres, as mulheres, os imigrantes”. E defendeu: “A resposta aos nossos problemas estruturais impõe medidas corajosas de controlo público, de reforço de incompatibilidades, de investigação e repressão do crime económico, financeiro e fiscal, de escolhas estratégicas pelo ambiente e pelo emprego.”

Antes da candidata - que chegou acompanhada pela coordenadora do BE, Catarina Martins, e pela deputada Mariana Mortágua - discursou o seu mandatário nacional, o director do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues.

Presentes estiveram também o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, o vice-presidente da Assembleia da República José Manuel Pureza, vários deputados, os fundadores Fernando Rosas e Luís Fazenda, bem como o antigo deputado da UDP Mário Tomé (actual militante do BE). Compareceram ainda o professor universitário Eduardo Paz Ferreira, o antigo director-geral da Saúde Constantino Sakellarides e o escritor José Luís Peixoto.

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