Papa volta a sair de Roma sete meses depois

O Sumo Pontífice foi a Assis rezar missa e assinar a nova encíclica, sobre fraternidade e solidariedade social inspirada em São Francisco.

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Francisco durante a missa este sábado em Assis EPA/VATICAN MEDIA HANDOUT

-Ao fim de sete meses, o Papa Francisco voltou a sair do Vaticano, para visitar Assis para marcar o aniversário da morte do santo com quem partilha o nome espiritual e para assinar uma nova encíclica.

O regresso do Papa a uma agenda fora da Cidade do Vaticano é feito de pequenos passos e este sábado foi dado o primeiro. Francisco fez pouco menos de 200 quilómetros até à cidade de Assis, onde nasceu São Francisco, para rezar uma missa perante 20 frades e freiras. Foi a primeira deslocação fora do Vaticano do Papa, que não escondeu a tristeza e o desconforto nos últimos meses por não poder estar próximo dos fiéis – um traço determinante que privilegia desde que assumiu a chefia da Igreja Católica, em 2013.

Desde que foi decretado o confinamento em Roma, em Março, que Francisco não saía do Vaticano. Foi a 23 de Fevereiro que o Papa tinha saído pela última vez de Roma, na altura para uma visita a Bari para uma reunião internacional dos bispos do Mediterrâneo, onde uma multidão o esperava.

Com 83 anos, o Papa não arriscou, mesmo depois do levantamento das restrições em Itália, e permaneceu em clausura. Até há pouco tempo as missas eram transmitidas por vídeo, assim como as orações semanais do Angelus ou as audiências gerais.

No final de Março, o Papa surgiu sozinho na praça deserta da Basílica de São Pedro, no Vaticano, onde, sob uma forte chuva, presidiu a uma oração, tendo exortado o mundo “assustado e perdido” a rever as suas prioridades e se voltar a ligar à fé “durante a epidemia do novo coronavírus”.

Em Abril, numa entrevista com o biógrafo Austen Ivereigh, Francisco dizia que não havia “preguiçosos” no Vaticano e que todos estavam a trabalhar.

A pandemia da covid-19 fez de 2020 o primeiro ano desde 1979 em que o chefe da Igreja Católica não realizou qualquer viagem ao estrangeiro. Coube aos chefes da diplomacia da Santa Sé, o cardeal Pietro Parolin e o arcebispo Paul Gallagher, representarem Francisco em deslocações nos últimos meses.

Apesar de ter tido uma ligeira constipação que coincidiu com o início do surto da covid-19, a saúde de Francisco manteve-se bem nos últimos meses. O estado do papa emérito Bento XVI, de 93 anos, mereceu mais preocupação por parte dos funcionários do Vaticano, onde também vive. Em Junho, Bento XVI deslocou-se à Alemanha para acompanhar os últimos dias do irmão, Georg, de 96 anos, que acabou por morrer.

Em Assis, o Papa assinou uma nova encíclica, Fratello Tutti, inspirada em São Francisco de Assis, com apelos à fraternidade e à amizade social, de acordo com o site Vatican News, a que não são alheios os tempos difíceis deixados pela pandemia, especialmente entre os mais pobres e desprotegidos. É a terceira encíclica de Francisco, que em 2015 publicou Laudato si, interpretada como uma defesa do planeta como casa comum da Humanidade. A palavra “encíclica” vem do grego e significa “circular”, carta que o Papa enviava às Igrejas em comunhão com Roma, com um âmbito universal, onde empenha a sua autoridade primeiro responsável pela Igreja Católica, explica a agência Ecclesia.

Simbolicamente, o texto foi apresentado pelos responsáveis da Secção dos Assuntos Gerais da Secretaria de Estado do Vaticano, que acompanham a revisão e tradução dos documentos pontifícios. Entre os tradutores estava o português monsenhor António Ferreira da Costa, chefe de departamento nesta secção.

A palavra “fraternidade” é uma palavra constante no pontificado de Francisco. Em Fevereiro do ano passado, em Abu Dhabi, assinou um “documento sobre a fraternidade humana”, apelando à liberdade de crença e de expressão, um texto que foi co-assinado pelo grande imã sunita egípcio de Al-Azhar, o xeque Ahmed al-Tayeb.

São Francisco de Assis, fundador da Ordem Medicante dos Frades Menores, é apontado como o precursor do diálogo inter-religioso, considerado o “pai” da ecologia moderna, com seu “Cântico das Criaturas”, uma oração que exalta todas as criaturas, inclusive o “irmão Sol”, a “irmã Água” e a “mãe Terra”.

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