Madrid entra em confinamento com transportes públicos cheios e polícia sem meios

A partir deste sábado, quase 4,7 milhões de pessoas passam a ter os seus movimentos muito restringidos, num esforço para travar a propagação do novo coronavírus.

Foto
Toda a capital espanhola passa a estar em regime de confinamento por causa da covid-19 EPA/MARISCAL

Madrid amanheceu este sábado como uma cidade totalmente fechada, naquele que é o primeiro dia da aplicação do regime de confinamento total da capital espanhola e vários municípios à sua volta ordenado pelo Governo central que visa conter a propagação acelerada da pandemia da covid-19.

Reportagens no terreno da imprensa espanhola dizem que não se verificou uma saída em massa de pessoas na sexta-feira para segundas habitações fora da capital. A repetição de um movimento como o que tinha ocorrido em Março, quando o primeiro confinamento foi posto em marcha, era um dos principais receios das autoridades sanitárias.

Mas segundo o El País o tráfego nas auto-estradas que saem de Madrid não foi superior ao normal. O que aconteceu, sim, foi uma enchente nos transportes públicos ao final da tarde de sexta-feira, quando milhares de pessoas saíram do centro da cidade para as suas casas nos arredores, denunciada por muitos utilizadores nas redes sociais. As aglomerações nos transportes públicos são um dos principais problemas apontados pelos habitantes de Madrid, que nem as medidas de confinamento impedem que se formem – as deslocações para trabalhar ou estudar estão autorizadas.

O confinamento total de Madrid surge depois de uma longa disputa entre o Governo central e o executivo autonómico, que detém a competência sobre o sistema de saúde da região. Até agora, o governo liderado pela conservadora Isabel Díaz Ayuso tinha privilegiado um confinamento selectivo apenas em algumas zonas da região. No entanto, com o número de novos casos a não descer e com a lotação dos hospitais em Madrid perto de esgotar, o Governo do socialista Pedro Sánchez decidiu tomar as rédeas.

A partir das 22 horas (menos uma em Portugal continental) de sexta-feira, os habitantes de toda a capital e de nove municípios passaram a estar sujeitos a fortes restrições nos seus movimentos. O Governo espanhol escolheu três critérios para justificar o encerramento dos municípios: uma taxa de incidência de contágios superior a 500 casos por cem mil habitantes; pelo menos 10% de testes positivos, e uma ocupação das unidades de cuidados intensivos superior a 35%. Ao todo são cerca de 4,7 milhões de pessoas que passam a estar abrangidos por este regime por pelo menos duas semanas.

Apesar de discordar da medida, o governo de Ayuso acatou a decisão, mas garantiu que irá desafiá-la em tribunal, antevendo-se uma batalha judicial. No dia em que os efeitos do confinamento começaram a fazer-se sentir, a presidente da Comunidade Autónoma voltou à carga e afirmou que passa a ser possível “chegar a Madrid desde Berlim, mas não desde Parla [um bairro da capital]. Obrigado pelo caos, Pedro Sánchez”.

Na noite de sexta era já visível um abrandamento do movimento no centro de Madrid, que se manteve livre de restrições até agora. Sem clientes, os bares fecharam mais cedo, mesmo sem ser obrigatório. “Éramos três empregados em ERTE [layoff] e dois de nós tínhamos voltado, agora seguramente vamos regressar ao tempo parcial”, dizia ao El País um empregado de um bar no bairro de Lavapiés.

Na estação de Atocha, também no coração da capital, o movimento este sábado de manhã era muito reduzido, em contraste com a hora de ponta da véspera.

Apesar da entrada em vigor do confinamento, permanece a interrogação quanto à sua efectividade. Várias pessoas entrevistadas pelo jornal online El Español diziam que a polícia não lhes pede os documentos, geralmente assinados pelos empregadores, que atestam a sua autorização para se deslocarem. A falta de meios policiais para supervisionar todas as entradas e saídas de uma cidade gigante mantém-se.

Sugerir correcção