Ministro da Economia admite nova vaga de despedimentos: “Temos de estar preparados para tudo”

O ministro da Economia disse, em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, que o país não sofreu tanto quanto fora previsto, mas não ainda não chegou a altura de relaxar os esforços. Apesar disso, Siza Vieira está optimista: “As viagens vão voltar, as pessoas voltarão a despender e o investimento vai voltar a crescer”

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Ministro garante que Orçamento do Estado para 2021 vai ser "expansionista" LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

O ministro da Economia admite que possa haver uma nova vaga de despedimentos durante o Outono, apesar de medidas criadas para prevenir isso. Em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, Pedro Siza Vieira também afirmou que “não podemos estar optimistas” em relação à economia, mas o pior já passou.

Como em Outubro termina a proibição de empresas que tenham aderido ao lay-off simplificado de despediram trabalhadores, o ministro espera que não se assista a muitos despedimentos e que a normalidade chegue o mais depressa possível.

“Temos de estar preparados para tudo. Temos que nos preparar para o pior”, disse Siza Vieira, que espera que medidas como apoios às empresas e taxas de subutilização do trabalho colmatem essa vaga. A normalidade pode demorar a chegar, mas aí “o papel do Estado é dar esta espécie de cobertura contra risco e incerteza. “Estamos a dar apoios adicionais para que possam ir mantendo enquanto a procura não regressa.”

“A convicção é que quando houver uma normalização da situação sanitária este consumo vai recuperar-se. As viagens vão voltar, as pessoas voltarão a despender e o investimento vai voltar a crescer”, disse esperançoso o ministro da Economia.

Apesar de tudo, o ministro referiu que o país saiu-se bem “perante a violência da contracção da economia”, já que apresentar “8,1% de taxa de desemprego é verdadeiramente notável - estamos ao nível de 2017, que foi um ano muito bom. O número de pessoas empregadas subiu em Julho e Agosto relativamente aos meses anteriores.”

O impacto que a pandemia está a ter na economia portuguesa é preocupante, os efeitos da crise “vão ser mais duros do que prevíamos em Maio” e o ministro não esconde que os maus tempos ainda não passaram, mas estão próximos de melhorar. “Optimistas não podemos estar, porque a quebra da procura é muito significativa - caiu consumo, caíram exportações, caiu o investimento muito significativamente porque os agentes económicos estão retrair-se em função da incerteza da situação sanitária. Mas também é verdade que os dados que vamos tendo mês após mês mostram aquilo que eu disse há umas semanas e que foi mal interpretado: o máximo da contracção da economia já ficou para trás em Portugal, no resto da Europa, no resto do mundo”.

Austeridade “não está em causa”. OE vai ser “expansionista”

Com o Orçamento do Estado (OE) a aproximar-se, o ministro da Economia admite a possibilidade de tanto o défice como o crescimento serem revistos. Siza Vieira apontou que “temos mais informação do que em Maio”, quando foi feita a primeira revisão às projecções da economia deste ano, e agora “podemos fazer uma projecção mais rigorosa”.

“Quando o Governo apresentar a proposta de lei do OE e o relatório há-de ter de apresentar também as projecções para a economia neste ano e no próximo, e provavelmente sofrerão algum ajuste. A previsão que se fez foi apresentada em Março, depois revista em função das medidas que o Parlamento aprovou relativamente ao sentido do défice. É altura de o actualizar”.

O ministro da Economia também rejeitou qualquer ideia de austeridade, dadas as orientações da União Europeia para gastar os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), garantindo que esta “não está em causa”. “Aliás, vamos ter um orçamento que é anticíclico. Se estivéssemos a viver em austeridade o OE seria para subir impostos, cortar despesa, etc., acentuando a quebra da economia que resulta da recessão que estamos a ter. Pelo contrário, nós vamos ter um orçamento expansionista. Vai procurar combater o impacto negativo sobre a economia pelo facto de não termos exportações ou consumo.”

Sobre a subida do Salário Mínimo Nacional, Siza Vieira reiterou a vontade do Governo em prosseguir com o aumento do rendimento mínimo, defendendo que é importante estimular o consumo. “Os salários em Portugal são demasiado baixos. Infelizmente ainda temos muitos trabalhadores que vivem abaixo do limiar de pobreza. Temos de fazer um percurso de apoiar as nossas empresas no sentido de haver um crescimento da produtividade que permita assegurar melhores empregos e melhores salários. E ao contrário do que outros dizem, a minha convicção é que uma coisa não precede a outra: não podemos esperar que cresça a produtividade para depois aumentar os salários, não é um modelo sustentável.”

Sobre o Novo Banco, Pedro Siza Vieira não adianta se o Estado irá injectar ou não dinheiro no banco, referindo que alternativas estão ser procuradas. “Estamos a avaliar se há condições para, como antes, o Estado fazer um empréstimo ao fundo de resolução. Neste momento, as condições políticas para aprovação de uma norma no Orçamento do Estado (OE) que viabilize, como antes, um empréstimo são difíceis. Portanto, estamos a avaliar alternativas. Quem suporta o fundo de resolução e as suas despesas é o sector financeiro. Tem-no feito com contribuições que reembolsam empréstimo do Estado. Vamos ver se faz doutra maneira”.

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