Sobrelotação, cornos partidos, stress: vídeo mostra o “inaceitável” transporte de animais vivos em navios

A Plataforma Anti-Transporte de Animais Vivos divulgou imagens do interior de navios que transportam animais de origem portuguesa. Atenção: o vídeo pode ser considerado chocante.

A lista de incumprimentos é longa e as imagens mostram apenas os primeiros dois dias de viagens que normalmente demoram dez. "Sobrelotação, animais conspurcados, a espumarem — o que indica stress e desidratação —, com cornos partidos, chão com fezes, bois deitados de lado — sintoma de doença, uma vez que não é habitual deitarem-se assim —, a arfar ou presos nas grades", denuncia Constança Carvalho, da PATAV - Plataforma Anti-Transporte de Animais Vivos, que esta sexta-feira divulgou estas imagens que terão sido "recolhidas dentro dos navios que transportam regularmente bovinos e ovinos de Portugal para Israel".

Ao P3, a PATAV não desvenda como conseguiu as imagens, mas garante que foram captadas ainda em águas portuguesas, e em diversas viagens feitas ao longo de 2019 por dois navios que partiram dos portos de Setúbal e Sines. Os brincos dos animais comprovam a origem portuguesa. E as imagens são mais um "alerta para um negócio que é inaceitável do ponto de vista ético e insustentável a nível ambiental", atira Constança Carvalho, representante do movimento cívico, que nasceu em 2017 para lutar pela abolição do transporte de animais vivos por via marítima de Portugal para o Médio Oriente e Norte de África.

Além de terem sido distribuídas pela comunicação social, as imagens foram entregues à recém-criada comissão do Parlamento Europeu que vai investigar as violações à legislação europeia que regula o transporte de animais vivos e, com base nas provas enviadas de diversos países, proceder à realização de um relatório. Mais ainda, a PATAV vai proceder à denúncia junto da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e está disponível para colaborar com as autoridades nacionais que o solicitem. 

"A responsabilidade do Estado português pelo cumprimento da legislação só termina no momento do desembarque", explica a plataforma em comunicado enviado ao P3. No entanto, "não há ninguém a fiscalizar" estas viagens, afiança Constança, que lamenta a inexistência de um veterinário a bordo — apesar de a PATAV ter feito, em 2019, essa proposta ao Parlamento, que foi chumbada. 

Artigo actualizado às 11h09 de 6 de Outubro de 2020: foi corrigida informação no penúltimo parágrafo relativa ao relatório da comissão do Parlamento Europeu.