Insuficiência venosa crónica: que doença é esta?

Existem hábitos que influenciam o aparecimento e evolução desta doença tais como o permanecer muitas horas de pé ou sentado e o uso não adequado de calçado.

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Tiago Lopes

É uma das doenças crónicas mais frequentes atingindo, segundo dados da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular, cerca de 35% da população portuguesa, com maior incidência nas mulheres a partir dos 30 anos. Falamos da insuficiência venosa crónica, uma doença muitas vezes desvalorizada e que se não for diagnosticada e tratada atempadamente pode ter um impacto significativo na vida das pessoas.

A insuficiência venosa crónica dos membros inferiores é uma doença causada pelo deficiente retorno do sangue venoso ao coração acumulando-se nas pernas o que leva à inflamação venosa e ao aparecimento de sintomas e alterações nos membros inferiores.

Estes sintomas traduzem-se inicialmente pela sensação de cansaço, de peso, de inquietação e edema dos tornozelos e pernas, que podem ser agravados ao longo dia, com o calor e com as posições de parado em pé e ou sentado com as pernas pendentes por períodos longos e melhoram com o repouso nocturno. A evolução é progressiva, muitas vezes para dor, sensação de calor, prurido, alterações da coloração e alterações da pele até à própria ulceração.

Tem na sua base e evolução para além da predisposição familiar, factores determinantes que são a idade, o excesso de peso e o sedentarismo. Existem também hábitos do nosso dia-a-dia que influenciam o aparecimento e evolução desta doença tais como o permanecer muitas horas de pé ou sentado, principalmente de pernas cruzadas e o uso não adequado de calçado, muitas vezes com tacão demasiado alto.

A insuficiência venosa crónica, se bem cuidada e tratada, evolui lentamente e é praticamente assintomática. Quando não diagnosticada e não acompanhada das inúmeras medidas possíveis e aconselhadas para o seu controlo, origina vários sintomas e complicações com enorme impacto na qualidade de vida do dia-a-dia.

Sempre que exista a manifestação de sinais e sintomas, deve recorrer-se à avaliação de um especialista em cirurgia vascular com o objectivo de realizar um diagnóstico precoce e assim permitir um tratamento atempado e adequado à situação clínica de cada doente. Um diagnóstico precoce evita que surjam complicações como tromboses, embolias, flebites e permite proporcionar ao doente uma melhoria da sua qualidade de vida.

A grande maioria dos doentes portadores de insuficiência venosa e que mais necessitam de cuidados médicos, neste contexto de pandemia têm vindo a adiar a procura de resposta clínica. Numa primeira fase do confinamento, naqueles momentos de muita angústia e incertezas, mesmo que com sintomas agravados que normalmente os levariam à consulta e que com apenas algumas medidas de aconselhamento seriam controlados, sentiram o agravamento dos seus sintomas e algumas complicações mais gravosas que seriam facilmente evitáveis. É importante não adiar a procura do seu médico assistente e não deve existir receio, já que as unidades de saúde implementaram medidas para garantir a segurança de todos.

Nos tempos que se avizinham e em que ainda muitas incertezas nos inquietam é importante ficarmos com o ensinamento de que temos de colocar nos pratos da balança, cumprindo todas as medidas de protecção que o momento exige, o risco de não procurar ajuda pode ser pior de que o risco de contrair covid-19.

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