Quem disse que os queijos só combinam com vinho?

Nina Gruntkowski aceitou o desafio da Adega Latina e preparou uma harmonização dos seus chás com queijos, pão e mel.

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Há opiniões que nos habituámos a tomar como verdades absolutas e que muito dificilmente ousamos contrariar. Quando pensamos numa bebida para acompanhar um queijo, rapidamente nos vem à memória um copo de vinho. Quase sempre de tinto, ainda que, segundo os entendidos na matéria, algumas variedades de queijo combinem melhor com brancos. O que nem todos saberão é que também podemos harmonizar queijo com chá. E se ainda lhe colocarmos pão e mel à mistura, a combinação torna-se irresistível, conforme a Fugas teve a oportunidade de comprovar num encontro enogastronómico em pleno Parque dos Moinhos, na freguesia de Ribeira de Fráguas, concelho de Albergaria-a-Velha.

Para aquela que foi mais uma edição de um evento que já faz parte da génese da Adega Latina, a Merenda no Parque, José Francisco Silva decidiu convidar Nina Gruntkowski, da marca Chá Camélia, para fazer uma harmonização dos seus chás com vários tipos de queijos. O resultado? Surpreendente, até mesmo para os que iniciaram a prova a sentir a falta de um copo de vinho na mão.

Para começar, queijo fresco de cabra (Beiralacte-Fundão), com pão raiano (Portalegre) e mel de flor de rosmaninho com o Mizudashi (chá frio). Para acompanhar queijo fresco de vaca (Beiralacte-Fundão), tostinhas de pão da avó, mel de flor de laranjeira (Algarve), Nina Gruntkowski optou pelo chá Camélia Florchá. Seguiu-se a degustação de um queijo amarelo da Beira Baixa DOP (ovelha e cabra curado), pão de centeio, mel de eucalipto (Beira Litoral), harmonizado com Chá Amarelo. Para terminar: queijo Serra da Estrela DOP (Ovelha) Quinta da Lagoa, pão de sementes e frutos secos, mel de montanha Alombada e chá Pipachá – um dos produtos estrela da casa e que resulta de um estágio do chá, durante seis meses, em pipas de vinho. Sim, porque isto do chá também tem a sua arte, não só no que toca à sua produção - Nina Gruntkowski e o marido, Dirk Niepoort, têm a sua plantação em Vila de Conde -, mas também no que diz respeito à sua preparação.

“Em Portugal, temos o hábito de usar água da torneira para fazer o chá, mas é um erro, uma vez que a água da torneira contém cloro, calcário e demasiados minerais”, alerta Edgardo Pacheco, jornalista e colaborador da Fugas, outro dos convidados especiais da última Merenda no Parque. Deve sempre optar por água filtrada ou engarrafada para a preparação de todos os chás verdes. Preferencialmente, “uma água de pH médio”, acrescenta Nina Gruntkowski.

Promover os produtos endógenos

A cada Merenda no Parque, José Francisco Silva tenta cumprir uma regra que já vai assumindo como missão: “promover os produtos endógenos”. Um princípio de vida que lhe deve advir dessa condição dupla de produtor (apicultor) e empresário (é gerente da Pastelaria Latina e da Adega Latina, em Aveiro), sem esquecer o seu trabalho na Associação de Produtores de Ovos Moles de Aveiro (APOMA) e Associação do Comércio e Indústria de Panificação e similares (ACIP), das quais é presidente. “Precisamos de promover os nossos produtos para permitir que eles ganhem cada vez mais notoriedade”, sustenta.

É um pouco também essa a lógica que segue na escolha dos locais para os seus eventos. “A região de Aveiro tem dezenas de parques interessantes que temos de divulgar e promover”, repara. Nesta última edição das merendas, a escolha recaiu num parque situado junto à margem do rio Fílveda e que convidou a um pequeno passeio e visita aos Moinhos da Quinta da Ribeira. “É também uma descoberta das origens, da produção da farinha, essencial para produzir o pão que também consta das nossas degustações”, sublinhou José Francisco Silva, durante a visita aos moinhos que foram adquiridos e recuperados pelo Rancho Folclórico da Ribeira de Fráguas.

Por ora, e atendendo ao facto de o país se encontrar em estado de contingência, ainda não há data marcada para uma nova merenda. A experiência vai ser adaptada para um formato condizente com o momento que vivemos: “Vamos promover uma prova digital com toque físico”, anuncia Francisco Silva. Como é que se processa? “A sessão é transmitida via Zoom mas os participantes recebem previamente, nas suas casas, o kit de prova, composto pela comida e pelo vinho, este servido em garrafas pequenas”, desvenda o empresário.

A primeira edição está marcada para 17 de Outubro (18h) e a participação no evento terá um custo de 20 euros por pessoa.

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