Speed Date ou como optimizar a possibilidade de encontrar o amor

Espectáculo composto por encontros de cinco minutos entre público e intérpretes estreia esta sexta-feira na Oficina Municipal do Teatro, em Coimbra.

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Numa hora cabe uma sucessão de encontros rápidos entre intérpretes e participantes márcia lança

Pela sala estão dispostas pequenas estações onde se vão sentar os participantes, cada uma com a sua divisória transparente — requisito dos tempos. A premissa é simples e parte do princípio da optimização de possibilidades. A promessa, essa está implícita no título do espectáculo que tem estreia esta sexta-feira na Oficina Municipal do Teatro (OMT), em Coimbra: Speed Date, uma criação conjunta de Alex Cassal, Keli Freitas, Márcia Lança e Renato Linhares.  

Numa hora cabe uma sucessão de encontros rápidos entre intérpretes e participantes. São cinco minutos de interacção ao fim dos quais soa uma música — escolhida de um largo espectro que pode ir de Chavela Vargas a Alanis Morissette — que assinala o fim de um encontro e o início de outro. Como na vida, Speed Date “tem tudo para correr muito bem e tem tudo para correr muito mal”, diz Keli Freitas. Como na vida, as interacções podem oscilar entre a poesia e a casualidade, a intimidade e o embaraço. A ideia de “optimizar a possibilidade de encontrar o amor da sua vida numa noite” é “incrível e hilariante”, classifica Keli Freitas. Ao mesmo tempo que abre possibilidades, corresponde também a um princípio de eficiência adaptado às relações humanas. 

Ao encenador Alex Cassal, de quem partiu a ideia, interessava trabalhar a relação entre performer e espectador e a forma como um pode ser afectado pelo outro, explica ao PÚBLICO. A estrutura escolhida acabou por ser o speed date, um formato sobre o qual tinha lido e que tinha achado curioso. “E o campo das artes performativas coloca muito essa questão, de como encontrar o outro”, diz, sobre o trabalho que foi desenvolvido ao longo de duas semanas no âmbito do festival e laboratório Linha de Fuga. 

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São cinco minutos de interacção ao fim dos quais soa uma música márcia lança

Sem intimidade

A oficina de criação de Speed Date contou com 13 intérpretes que acabam por ser também criadores do espectáculo, aponta Márcia Lança. São eles que vão participar nos encontros e são eles que estabelecem os termos em que estes vão decorrer, abrindo espaço ao improviso ou tendo um dispositivo preparado. “Somos mais coach de speed dates do que dramaturgos”, menciona Cassal.  

A ideia surgiu antes da pandemia. “Originalmente, [o encontro] poderia ter toque, poderia terminar com um beijo, poderia ter uma série de coisas que agora, obviamente, não pode. O espectador não pode atravessar as películas que vão estar entre as pessoas e não pode tirar a máscara”, descreve Alex Cassal. Tudo obstáculos à criação de intimidade, se é que é possível que tal fenómeno ocorra em cinco minutos. Márcia Lança lembra que a ciência diz que sim, mas os estudos ainda não levaram ainda em conta todas estas barreiras que tornam a expressões menos legíveis. 

Speed Date, que se baseia num formato cuja origem remonta aos anos 1990, é uma peça “que oscila entre a ficção e a realidade” e os criadores jogam “com a possibilidade de isto ser verdadeiro”, refere Renato Linhares. A resposta definitiva vai depender da experiência de cada espectador. 

Depois de Coimbra, o espectáculo deverá ir até Viseu, ao Teatro Viriato, no final de 2021. A edição deste ano do Linha de Fuga, um projecto com curadoria de Catarina Saraiva combina laboratórios de criação artística com apresentações ao público e conta, este ano, com 28 artistas de vários países, tem ainda mais dois espectáculos: Captado pela Intuição, um solo de dança de Tânia Carvalho que será apresentado no Teatro Académico Gil Vicente no dia 3 de Outubro e Esplendor e Dismorfia, de Vera Mantero e Jonathan Uliel Saldanha, que sobe ao palco da OMT a 29 de Outubro. 

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