Líder da bancada do PSD remete responsabilidade de eventual crise política para primeiro-ministro

Adão Silva, em entrevista à TSF, diz que Marcelo faz “exercício quase sibilino” de apelo à viabilização do Orçamento do Estado.

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Adão Silva admite retomar proposta da redução do IVA na electricidade Rui Gaudencio

O líder da bancada do PSD, Adão Silva, rejeita qualquer responsabilidade do partido numa eventual crise política por chumbo do Orçamento do Estado para 2021, escudando-se na posição do primeiro-ministro quando há um mês afastou qualquer entendimento vital com os sociais-democratas.

Em entrevista à TSF, esta quarta-feira de manhã, Adão Silva repetiu a frase de António Costa ao Expresso para justificar o afastamento de qualquer participação por parte do PSD no processo orçamental. “Há aqui um problema brutal sério: a questão está muito delineada pelo primeiro-ministro [que disse] ‘no dia em que o Governo depender do PSD o Governo cai’. A partir daí as pessoas têm de ter palavra. Levo, por princípio, palavra do primeiro-ministro a sério, o PSD leva a palavra do primeiro-ministro a sério. É uma questão muito clara, cristalina”, afirmou.

Adão Silva recusa também a ideia de que o Presidente da República se dirigisse ao PSD quando apelou à necessidade de se evitar uma crise política e quando lembrou o seu próprio exemplo enquanto líder social-democrata que viabilizou dois orçamentos do Governo socialista de António Guterres. “Acho que há aqui um exercício muito sofisticado, muito delicado, quase sibilino por parte do Presidente da República de dizer aos que são os parceiros tradicionais, entendam-se, porque Portugal precisa de um orçamento para 2021”, afirmou.

Apesar de se afastar do cenário das conversações com o Governo em torno do OE 2021, o líder da bancada dos sociais-democratas assume ficar “perplexo” ao ver que o PCP coloca em cima da mesa das negociações “40 medidas urgentes”. Reconhece que uma crise política “em cima da crise social e sanitária seria muitíssimo grave”, mas diz aguardar pela apresentação da proposta de OE por parte do Governo para se poder trabalhar na especialidade. E uma das medidas que admite retomar é a da redução do IVA da electricidade, que quase foi aprovada no OE para 2020 por uma coligação negativa entre o PSD e as bancadas do BE e PCP.

Mesmo em relação a um entendimento para a aplicação dos fundos comunitários, Adão Silva não reconhece que o PSD tenha um papel privilegiado. “O Governo está aparentemente a construir soluções para esses milhões de forma o mais consensualizada possível. É verdade que primeiro-ministro teve encontros com partidos, não há uma relação privilegiada com o PSD”, afirma, referindo esperar que os socialistas olhem “com atenção” para o programa de recuperação da economia que será ainda apresentado por Rui Rio.

Recém-eleito líder da bancada do PSD, e já tendo ouvido algumas críticas de falta de debate interno ou de reorganização dos deputados, Adão Silva foi questionado sobre se espera um grupo parlamentar pacificado. “Essa parte não me interessa, a bancada pacificada. Importa-me uma bancada criativa, interessa-me a criatividade”, respondeu. “A crítica é o sopro da democracia. Quando a crítica desaparecer, a democracia não respira. Não sei se a questão da pacificação é o valor que mais me interessa, o que me interessa é o envolvimento e a participação de todos”, acrescentou.

Eleito deputado pela primeira vez há 24 anos, Adão Silva defendeu a redução dos debates quinzenais com o primeiro-ministro, referindo que neste modelo o debate tem duas rondas e não uma: “Vai ser mais intenso.”

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