Israel ultrapassou os EUA em taxa de mortes per capita por covid-19

Sinagogas nos bairros ultra-ortodoxos de Jerusalém encheram-se no dia do Yom Kippur em pleno confinamento.

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Israel está no topo de países da OCDE em número de doentes críticos por milhão de habitantes EPA/ABIR SULTAN

A pandemia continua a afectar Israel, que ultrapassou esta semana os Estados Unidos na taxa de mortes diárias por habitante, segundo o diário Haaretz, que cita um estudo da divisão de informação e espionagem do exército.

O país teve uma taxa de 3,5 mortes por milhão de habitantes (nos EUA foi de 2,2 durante a semana passada) e atingiu ainda a liderança entre os 37 países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento) em outros dois critérios: número de casos confirmados por milhão de habitantes e número de casos críticos de covid-19 por milhão de habitantes.

Israel, que foi um dos países a actuar exemplarmente no início da pandemia, tornou-se um dos mais desastrados a gerir o desconfinamento. Por isso, foi também o primeiro país do mundo a decretar um segundo confinamento nacional.

O novo confinamento foi criticado por muitos, que alegam ter sido melhor fazer, como outros países, confinamentos por áreas. Mas muitas das áreas seriam ultra-ortodoxas e o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, está numa coligação com partidos ultra-ortodoxos que não querem ver as suas comunidades e sinagogas totalmente fechadas.

Mesmo este confinamento nacional não foi respeitado por todos: no Yom Kippur, o Dia do Perdão, que é um dos mais importantes do calendário judaico e se assinalou na segunda-feira, o repórter do Haaretz Anshel Pfeffer esteve em dois bairros ultra-ortodoxos de Jerusalém, e encontrou sinagogas cheias de pessoas sem máscara (havia um limite de 20 pessoas; o jornalista viu “milhares").

Mesmo que muitos ultra-ortodoxos conheçam pelo menos uma pessoa que morreu de covid-19, na comunidade é mais importante seguir as tradições e manter a sua estrutura. As directrizes vêm dos seus líderes religiosos, que sempre desconfiaram da ciência. “Não temos medo”, disse um dos fiéis a Pfeffer. “Tememos apenas o dia do Juízo Final.”

As excepções dos ultra-ortodoxos são há muito uma questão sensível em Israel, desde questões práticas como as restrições no shabbat que são generalizadas mesmo para os menos observantes, até questões existenciais, como a não participação da comunidade, cujo peso demográfico é cada vez maior, no Exército (essencial para um país com tratados de paz apenas com dois vizinhos, e que só agora está num processo de normalização com outros países da região).

Esta atitude dos ultra-ortodoxos face à pandemia, e a relutância do Governo em agir, está a deixar muitos no país a questionar quão longe pode a comunidade ir numa questão que afecta todos, não só em termos de saúde, como de economia, quando um quinto da população activa no país está desempregada.

Ao mesmo tempo, a polícia efectuou detenções num protesto contra o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu  há meses que a sua demissão é pedida nas ruas por estar formalmente acusado num caso de corrupção

Enquanto isso, o Parlamento discutia ainda uma lei de emergência para impedir mais protestos com o pretexto da pandemia, o que levou ainda mais pessoas às ruas. Apesar de terem muita participação, os protestos têm sido ao ar livre e muitas pessoas usam máscara. As autoridades de saúde dizem que não há casos de transmissão com origem nas manifestações.

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