Alemanha tem menos um milhão em layoff mas prolonga apoio às empresas

Há 3,7 milhões de alemães com horário reduzido, menos de metade dos que estavam nessa situação em Maio. Indústria é o sector com mais trabalhadores a tempo parcial.

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Sector da Indústria é o que ainda tem mais trabalhadores em "layoff" na Alemanha Fabian Bimmer/Reuters

O número de trabalhadores em layoff na Alemanha (kurzarbeit) caiu para 3,7 milhões em Setembro, uma redução de um milhão face aos 4,7 milhões que estavam nessa situação em Agosto, segundo estimativas divulgadas esta terça-feira pelo instituto Ifo, de Munique.

A redução tem sido consistente desde Maio, altura em que havia 6,7 milhões de alemães abrangidos. Mesmo assim, o governo federal decidiu, há duas semanas, permitir o prolongamento deste mecanismo, habitualmente disponível por um máximo de 12 meses, até aos 24 meses, estendendo assim esse apoio a trabalhadores e empresas até ao final de 2021.

“O número de trabalhadores em situação de tempo parcial tem vindo a cair de forma consistente. No entanto, a proporção de empregados nessa situação na indústria mantém-se particularmente elevada”, aponta Sebastian Link, especialista de mercado laboral no Ifo.

Neste sector, estima-se que haja ainda 1,47 milhões a receberem kurzarbeitergeld, nome da prestação assegurada pelo Estado, que no caso alemão aumenta à medida que o trabalhador fica mais tempo nessa situação de tempo parcial. Estes 1,47 milhões de operários representam 21% da força laboral na indústria alemã.

Nos serviços, haverá ainda 1,23 milhões de pessoas no mesmo regime. Representam 12% dos trabalhadores destes sectores.

No comércio, serão ainda 406 mil pessoas, estima o Ifo. São 6% da força de trabalho. Na construção, são apenas 5000, ou 1%.

Nos restantes sectores, todos somados, há mais 622 mil pessoas em layoff, perfazendo outros 5% da força laboral dessas áreas.

O ministro alemão do Trabalho e dos Assuntos Sociais, Hubertus Heil (do SPD), refuta as críticas que têm surgido por o governo ter permitido uma maior duração do layoff , incluindo empresas que, no curto ou médio prazo, serão inviáveis. O governante diz que os críticos são “teóricos que falam desde as salas académicas”, desafiando-os “a entrar no mundo dos negócios”. 

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Hubertus Heil, ministro alemão do Trabalho e dos Assuntos Sociais Hannibal Hanschke/Reuters

“Vivemos a crise económica mais profunda da nossa história”, sustenta Heil. Nem todos os empregos podem ser mantidos devido à magnitude da crise, acrescentou. "Mas vamos lutar por todos os empregos. E a crise não vai acabar a 1 de Janeiro de 2021. Por isso, precisamos desta extensão.”

As empresas serão também apoiadas com a totalidade das contribuições sociais devidas por trabalhador em layoff, que serão reembolsadas pela Agência Federal de Emprego até meados de 2021.

O custo acrescido para 2021 é de cinco mil milhões de euros, estima Berlim. Esta decisão vem acompanhada de um “incentivo à inovação”, para motivar empresas e trabalhadores a reinventarem produtos, serviços, métodos e carreiras.

Esta é uma das críticas da OCDE que, pela voz da economista-chefe Laurence Boone, tinha apontado para o risco de este prolongamento do apoio inibir empresas a fazer mudanças estruturais.

Boone recomenda o modelo holandês, que facilita aos trabalhadores a obtenção de qualificações enquanto trabalham a tempo parcial. E defende que só as empresas apostadas em mudanças estruturais e num futuro mais digital e ambientalmente sustentável deveriam ser apoiadas nesta segunda fase.

O PIB alemão contraiu-se 9,7% no segundo trimestre de 2020, a maior queda em 50 anos no período que correspondeu ao das medidas mais drásticas de confinamento. Algumas estimativas apontam contudo para uma rápida recuperação no terceiro trimestre, que termina agora em Setembro. Num cenário optimista, aponta-se para um crescimento em cadeia de 6,6% no terceiro trimestre.

Em termos de infecções, a Alemanha tem registado um acréscimo de novos casos, à semelhança de outros países europeus. A chanceler Angela Merkel mostra-se preocupada. Admite que, ao ritmo actual de 2000 novos casos por dia, o país pode atingir 19.200 casos novos diários por altura do Natal, segundo admitiu na segunda-feira, durante uma reunião em que se analisou a evolução da pandemia. 

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