EUA assustam iraquianos com ameaça de fechar embaixada em Bagdad

Aviso feito pelo secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, ao Presidente e primeiro-ministro iraquianos é visto por alguns no Iraque como prenúncio de guerra com o Irão.

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Mike Pompeo junto à à embaixada dos Estados Unidos em Bagdad, durante a sua visita ao Iraque em Maio Andrew Caballero-Reynolds/Pool/REUTERS

Uma semana depois de Washington ter avisado Bagdad que se prepara para a eventualidade de ter de evacuar e fechar a sua embaixada iraquiana, responsáveis iranianos e ocidentais ouvidos pela Reuters confirmam que os Estados Unidos já fizeram preparativos para retirar os seus diplomatas do Iraque. Um passo “que os iraquianos temem que possa transformar o seu país num cenário de guerra” uma vez mais, escreve a agência​.

A ameaça, que não foi tornada pública e foi inicialmente divulgada por um site de notícias iraquiano e depois referida pelo diário Washington Post, foi feita pelo secretário de Estado americano, Mike Pompeo, num telefonema com o Presidente iraquiano, Barham Salih, confirmaram à Reuters membros do Governo de Bagdad.

De acordo com a Bloomberg, Pompeo repetiu o aviso ao primeiro-ministro iraquiano, Mustafa al-Khadimi, numa conversa durante o último fim-de-semana. O responsável americano terá dito aos dirigentes iraquianos que a decisão para encerrar a embaixada será tomada se estes não forem capazes de proteger a sua representação dos crescentes ataques que milícias xiitas têm lançado contra este e outros alvos americanos no Iraque.

A Bloomberg procurou uma confirmação junto do Departamento de Estado, mas um porta-voz recusou comentar as conversas de Pompeo, dizendo apenas que os EUA não vão tolerar ameaças ao seu pessoal e acusando as milícias xiitas apoiadas pelo Irão de serem o maior obstáculo para a estabilidade do Iraque.

Apesar de estar em marcha uma diminuição para metade da presença militar americana no país, a Reuters escreve que “qualquer avanço dos EUA no sentido de diminuir a sua presença diplomática” seria “largamente interpretado na região com uma escalada do seu confronto com o Irão” – “isso poderia, por seu turno, abrir a possibilidade de uma acção militar, a poucas semanas de uma eleição em que o Presidente Donald Trump se apresentou defendendo uma linha dura face a Teerão” e os grupos que são seus aliados. As presidenciais nos EUA são a 3 de Novembro.

Nesta linha, o líder xiita Moqtada al-Sadr, seguido por milhões de iraquianos (e que, no passado, já travou batalhas significativas com os Estados Unidos), divulgou há dias uma declaração apelando aos grupos armados para evitarem uma subida de tensão que poderia trazer a guerra de volta ao país.

Um dos diplomatas ouvido pela Reuters diz que a Administração Trump não quer “estar limitada nas suas opções” para enfraquecer o Irão ou as milícias pró-iranianas no Iraque. Questionado sobre se esperava que Washington respondesse a ataques destas milícias com medidas económicas ou militares, o diplomata respondeu: “Ataques”. Também há quem leia estes avisos americanos como bluff destinado a pressionar grupos como os de Sadr a abster-se de mais ataques e a apoiar o Governo de Khadimi.

Os ataques contra a Zona Verde e a embaixada em Bagdad (localizada no interior desta vasta área fortificada onde estão grande parte das instituições de poder iraquianas e algumas embaixadas, assim como a sede das empresas de segurança privadas a actuar no país) aumentaram desde que os EUA mataram o general iraniano Qassem Soleimani em Bagdad, em Janeiro.

O Governo de Kadhimi não tem conseguido controlar as milícias – nem se afastou no Irão, como Washington esperava quando o iraniano chegou ao poder. Pouco depois, em Agosto, era recebido na Casa Branca por Trump.

Mas os laços com Teerão não diminuíram, antes pelo contrário: o ministro dos Negócios Estrangeiros iraquiano, Fuad Hussein, acaba de regressar de uma visita de dois dias ao Irão onde foi recebido pelos principais líderes iranianos com os quais discutiu o fortalecimento das ligações económicas e políticas entre os dois vizinhos, assim como o papel dos EUA na região.

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