Banca prepara-se para forte redução de trabalhadores e novas fusões

Plano de reestruturação do Banco Montepio inclui a supressão de algumas centenas de trabalhadores. Outros bancos nacionais estão ou pretendem fazer novas reduções de estrutura.

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Banco Momtepio avança com plano de reestruturação Goncalo Dias

O sector bancário nacional e espanhol prepara-se para um novo ciclo de fusões e aquisições, um processo iniciado com o “casamento” do CaixaBank e do Bankia, no país vizinho. A integração de bancos é uma das formas de responder à diminuição do negócio bancário, provocada pela actual conjuntura económica e pela redução da rentabilidade de boa parte das operações com a queda das taxas de juros, mas também devido à forte concorrência de novos operadores digitais (fintechs e bigtechs).

O outro caminho é a redução permanente da estrutura, que alguns dos maiores bancos a operar em Portugal estão a fazer, mas que se pode acelerar nos próximos meses, com a saída de centenas de trabalhadores e a redução de agências.

O “emagrecimento” da estrutura antecede, em alguns casos, processos de fusão e ou de aquisição. Poderá ser o caso do Banco Montepio – a braços com uma herança pesada do passado, pela gestão integrada na associação mutualista Montepio – que apresentou à comissão de trabalhadores e aos sindicatos um plano de reestruturação, que inclui uma forte redução de trabalhadores, numa altura em que alguns bancos olham a instituição como uma oportunidade de consolidação. Segundo uma comunicação interna citada pela imprensa económica, as saídas na caixa económica podem chegar aos 800 trabalhadores, entre rescisões amigáveis e reformas antecipadas. 

No sábado, o Expresso noticiou que o BCP está disponível para uma fusão com o Banco Montepio, caso seja necessário haver uma intervenção na instituição, e que essa disponibilidade já foi comunicada ao Governo, numa reunião entre administração do BCP e o ministro das Finanças. Este último não confirmou a realização de tal reunião.

A fusão entre o Caixabank e o Bankia implicará fechos de balcões e redução de trabalhadores em Espanha, como já admitiu o presidente executivo do primeiro, Gonzalo Gortázar. Esta concentração, que cria o maior banco em Espanha, não deverá ter grandes repercussões no BPI, nomeadamente na estrutura de pessoal, apurou o PÚBLICO junto de fonte bem colocada. No entanto, a mesma fonte admite que o passo dado no país vizinho vai desencadear novas operações nos dois mercados.

A Lusa recorda que, já no final de Julho, a agência de rating Fitch considerava que, face à nova ameaça para o sector bancário português que representa a crise da covid-19 (pondo em causa progressos alcançados na redução do crédito malparado, melhorias do capital e rentabilidade), uma das medidas que os bancos tomariam passaria por novas reestruturações. E as declarações que os banqueiros têm feito nos últimos meses indicam isso mesmo.

Logo em Abril, o BCP disse que ia adiar a redução de trabalhadores que tinha previsto para este ano (numa postura que qualificou como “responsabilidade social”), mas que a faria no início de 2021.

Em Julho, o presidente executivo, Miguel Maya, reiterou que o banco tem tido uma postura “alinhada” com a sociedade, mas que levará a cabo o programa de saídas “no início do ano [que vem]”. É que – argumentou –, com os “proveitos condicionados”, o BCP tem de “adaptar a estrutura de custos, e o peso dos custos de pessoal na actividade bancária é sempre significativo”.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) vai continuar a cumprir este ano a redução de pessoal acordada no plano de reestruturação com a Comissão Europeia, o que passa pela saída de 250 funcionários no segundo semestre (além dos 179 que saíram até Junho), mas a administração já admitiu que mais saídas poderão ser previstas no plano 2021-2024.

“Os estudos [sobre as consequências da crise] o que dizem é que serão fechadas cerca de 30% das agências e haverá redução de pessoas. Nós, na CGD, apenas equacionaremos esse aspecto para o plano 2021-2024”, disse o presidente executivo, Paulo Macedo, em Julho.

O gestor disse ainda que a vontade dos clientes em não pagar comissões significa que não querem pagar os custos da estrutura dos bancos, incluindo trabalhadores, assim como, quando os decisores tomam medidas que limitam proveitos (como leis sobre comissões bancárias), o que fazem é pôr em causa a sustentabilidade.

Já em Fevereiro, quando estavam a ser discutidas no Parlamento leis que limitam as comissões, a Associação Portuguesa de Bancos (APB) afirmou que a consequência pode ser os bancos reduzirem “ainda mais a estrutura de custos, designadamente com pessoal e rede de balcões”, uma vez que a sua dimensão condiciona a rentabilidade.

Quanto ao Novo Banco, o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários disse, em meados deste mês, que a instituição “tem vindo a apresentar propostas de reforma antecipada e de rescisão de contratos de trabalho por acordo a um conjunto de trabalhadores”.

A Lusa questionou o Novo Banco sobre o tema, mas não obteve resposta.

A redução de estruturas é comum a toda a banca europeia. O sector está há anos a reduzir balcões e funcionários (em Portugal, sobretudo através de reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo), medidas justificadas com a digitalização das operações e com a necessidade de reduzir custos, uma tendência que a crise desencadeada pela pandemia covid-19 deverá acentuar.

Em Espanha, a recentemente anunciada fusão entre o Caixabank e o Bankia (que criará o primeiro banco de Espanha) também trará fechos de balcões e saídas de pessoal. O presidente executivo do CaixaBank, Gonzalo Gortázar, disse há duas semanas estar convencido de que será possível um acordo com os sindicatos para um ajustamento “não-traumático” da estrutura.

Já o alemão Deutsche Bank vai fechar nos próximos anos cerca de 100 das suas agências bancárias na Alemanha, passando a 400 sucursais.

O analista da corretora Infinox Pedro Amorim declarou à Lusa que, em termos gerais, a banca europeia tem estado muito pressionada nas receitas, desde logo na margem financeira (devido às baixas taxas de juro) e que o aumento das comissões bancárias não tem sido suficiente para compensar, pelo que a análise da demonstração de resultados dos bancos mostra que os lucros têm sido alicerçados na redução de custos (sobretudo cortes com pessoal). com Lusa

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