Na Red Light do Centro de Arte Oliva expõe-se sexualidade sem “moralismos”

Mais de 70 artistas nacionais e internacionais estão reunidos na exposição Red Light, para ver até Março em São João da Madeira. Porque “falar de sexualidade e da relação entre os corpos durante uma pandemia que obriga ao retraimento e mesmo à abstenção de contacto físico é também reflectir sobre as consequências do distanciamento”.

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Pormenor de "Dancers" de Nancy Spero

O Centro de Arte Oliva, em São João da Madeira, inaugura sábado, 26 de Setembro, a exposição Red Light, cuja selecção de arte contemporânea explora a sexualidade sem “convenções ou moralismos” para reflectir sobre os efeitos do confinamento social nos relacionamentos.

Resultando de uma escolha de 100 obras entre as mais de 1200 que integram a Colecção Norlinda e José Lima, que está em depósito de longo prazo nesse equipamento cultural do distrito de Aveiro, a mostra parte da expressão inglesa traduzível por “Luz Vermelha”, que é frequentemente utilizada para designar os bairros dedicados a negócios de prostituição legal e se adequa assim a diferentes perspectivas sobre o sexo.

A exposição tem curadoria da historiadora de arte Sandra Vieira Jürgens, que defende que “falar de sexualidade e da relação entre os corpos durante uma pandemia que obriga ao retraimento e mesmo à abstenção de contacto físico é também reflectir sobre as consequências do distanciamento”.

Nessa perspectiva, diferentes questões se colocam: “A fragilização simultânea do indivíduo e da comunidade, condicionados pelo medo do contágio, que condições permite ao desejado encontro colectivo e individual dos corpos? Que papel pode ter a evocação do erotismo – ou a vocação erótica da arte – na reavaliação do desejo e do risco, numa sociedade mais atenta ao significado e às implicações da proximidade física?”.

Para promover essa reflexão, a investigadora reuniu obras de mais de 70 artistas nacionais e estrangeiros, sendo que, entre autores consagrados e valores emergentes, a lista inclui nomes como Nikias Skapinakis, Robert Longo, Graça Sarsfield, Albuquerque Mendes, Pedro Casqueiro, Rigo, Graça Pereira Coutinho, João Penalva, Miguel Palma, Nancy Spero, Cindy Sherman, Vanessa Beecroft e Nobuyoshi Araki.

Desses e outros criadores surgiram trabalhos que exploram aspectos como a representação do corpo, a nudez masculina e feminina, o erotismo, a fantasia, o desejo e a dor, o objecto e o sujeito, o prazer e a dominação, os lugares da representação feminina, o olhar masculino, o voyeurismo, o exibicionismo e a auto-representação na arte.

Sandra Vieira Jürgens diz que essas obras se organizam “à margem de uma visão monolítica do tema, da cronologia e da tentativa de categorização de movimentos, misturando diferentes origens e períodos”.

Considerando que a Colecção Norlinda e José Lima abrange quase 100 anos entre 1926 e 2019, focando-se sobretudo na produção artística das últimas quatro décadas, o que resulta da selecção para Red Light é, portanto, “um panorama transgeracional de múltiplas abordagens a uma dimensão essencial e fundamental da existência”, o que se materializa, por sua vez, “num espaço liberto de convenções, moralismos e manifestos”.

Ao público, a mostra deixa um convite “ao contacto sensitivo e intuitivo com as obras”, o que lhe permitirá reivindicar “o prazer visual” e ainda assumir “a atracção do erotismo pictórico e fotográfico”.

A nova exposição do Centro de Arte Oliva será inaugurada às 16h00 de sábado e ficará patente até 14 de Março. A mostra inclui desde obras das décadas de 1960 e 70 - por autores como Joaquim Rodrigo, Cruzeiro Seixas, Mário Cesariny, Eduardo Arroyo, Alberto García-Alix e Nan Goldin - até trabalhos realizados nos últimos cinco anos - por artistas como Tiago Baptista, Musa paradisiaca, Gonçalo Pena, Fernão Cruz e a dupla Muntean e Rosenblum.

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