Putin sugere aos EUA um pacto de “não interferência nas eleições”

Presidente da Rússia diz que existe um risco de “confrontação em larga escala na esfera digital”. Serviços secretos norte-americanos dizem Vladimir Putin continua a interferir na campanha para as presidenciais nos EUA.

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O Presidente russo diz querer "reanimar as relações no que diz respeito ao uso das tecnologias de informação e comunicação" LUSA/MICHAIL KLIMENTYEV / SPUTNIK / KREMLIN POOL

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, propôs aos Estados Unidos a celebração de um acordo entre os dois países para garantir que nenhum deles interfere nas eleições do outro por meios electrónicos. A proposta surge na mesma semana em que a principal agência de espionagem norte-americana, a CIA, voltou a afirmar que a Rússia está a interferir na campanha para as presidenciais nos Estados Unidos de 3 de Novembro, a favor da eleição de Donald Trump.

“Proponho que troquemos garantias de não interferência nos assuntos internos de cada um, incluindo em processos eleitorais através de tecnologias de comunicação e informação e outros métodos tecnológicos”, disse Putin num comunicado em que apela à reanimação das relações entre a Rússia e os Estados Unidos, noticiado pela agência Reuters.

“Um dos maiores desafios estratégicos do nosso tempo é o risco de uma confrontação em larga escala na esfera digital”, disse o Presidente russo. “Gostaríamos de voltar a apelar aos Estados Unidos para que aprovemos um programa extenso e com medidas práticas para reanimar as nossas relações no que diz respeito ao uso das tecnologias de informação e comunicação.”

Na terça-feira, a CIA divulgou um relatório em que afirma, com um “grau moderado de certeza”, segundo o jornal New York Times, que o Presidente russo continua a aprovar e a liderar operações que têm como objectivo prejudicar as hipóteses de vitória do candidato do Partido Democrata, Joe Biden, e melhorar as do Presidente Donald Trump na sua campanha de reeleição.

De acordo com o mesmo jornal, a agência de espionagem afirma que a sua certeza não é absoluta porque não obteve uma verificação directa de que Putin terá instruído o deputado ucraniano pró-russo Andrei Derkach a disseminar informação prejudicial para o candidato do Partido Democrata, Joe Biden. Putin, um antigo agente do KGB, é conhecido por não usar telemóveis nem outros aparelhos electrónicos de comunicação.

Em Fevereiro, os responsáveis operacionais das agências dos serviços secretos norte-americanos foram dizer ao Congresso que Putin continuava a promover a interferência russa na campanha eleitoral nos Estados Unidos em 2020.

A equipa do procurador especial Robert Mueller, que foi nomeada para liderar as investigações às suspeitas de interferência russa nas eleições de 2016, apresentou acusações formais contra 12 agentes dos serviços secretos russos e 13 outros cidadãos russos, juntamente com três empresas do mesmo país, por conspiração para cometer fraude nas eleições nos Estados Unidos, roubo de identidade e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.

Segundo o relatório de Robert Mueller, a interferência russa em 2016 assentou, em grande parte, numa campanha de propaganda e desinformação através das redes sociais, principalmente o Instagram e o Facebook. Para além de acções que simulavam o apoio ao então candidato Donald Trump, a campanha teria também como objectivo aprofundar as divisões no eleitorado através da criação de contas falsas em nome do movimento Black Lives Matter, por exemplo, entre outras acções

Apesar da proposta de Vladimir Putin para que os dois países deixem de interferir nas eleições de cada um, a Rússia negou até hoje qualquer interferência nas eleições de 2016 nos Estados Unidos. Uma posição que o Presidente norte-americano, Donald Trump, aceitou num encontro com o Presidente russo em Helsínquia, em 2018.

“O Presidente Putin diz que não foi a Rússia. Eu não vejo nenhuma razão para que tenha sido”, disse Trump, depois de Putin ter afirmado que a Rússia nunca interferira em eleições nos Estados Unidos.

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