Fatah e Hamas chegam a acordo para as primeiras eleições na Palestina em 15 anos

Reaproximação dos grupos palestinianos acelerou após normalização de relações diplomáticas de Israel com os Emirados Árabes Unidos e com o Bahrein. Eleições ainda não têm data marcada, mas facções prometem legislativas e presidenciais nos próximos seis meses.

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Protestos contra colonatos judaicos em Asira al-Qibliya, em Nablus, na Cisjordânia ocupada Reuters/MOHAMAD TOROKMAN

A Fatah e o Hamas, as duas principais facções palestinianas, chegaram a um acordo para a realização das primeiras eleições na Palestina em 15 anos, que se devem realizar nos próximos seis meses, numa data a anunciar brevemente.

“Desta vez, chegámos a um verdadeiro consenso”, anunciou o dirigente do Hamas Saleh al-Arouri à AFP, no final de uma reunião entre os grupos, na quinta-feira, na Turquia. “As divisões causaram estragos na nossa causa nacional e estamos a trabalhar para as ultrapassar”, acrescentou.

A confirmação veio também por parte do primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh, da Fatah, que saudou “a atmosfera positiva” do diálogo em Istambul, que levou as duas facções a “concordarem em realizar eleições gerais”.

A Fatah, partido do presidente Mahmoud Abbas, que governa a Cisjordânia, e o Hamas, liderado por Ismail Haniyeh, que controla a Faixa de Gaza, estão de costas voltadas desde 2007, quando os islamistas expulsaram as forças de segurança da Fatah de Gaza.

As últimas eleições realizaram-se em 2006 e deram uma vitória por surpreendente ao Hamas. Os dois partidos formaram um Governo de unidade nacional que entrou pouco depois em colapso. Seguiu-se um conflito entre as duas facções palestinianas, que nunca conseguiram ultrapassar as suas divergências apesar das várias tentativas ao longo dos anos.

Os dois principais grupos palestinianos aceleraram as negociações após a aproximação de Israel aos Emirados Árabes Unidos e Bahrein, que normalizaram laços diplomáticos com o Estado hebraico no espaço de um mês.

Em troca, Israel comprometeu-se a adiar a anexação de mais territórios palestinianos, uma promessa suficiente para convencer os dois países a abdicarem da política da maioria dos países da região, que recusam relações diplomáticas com Israel enquanto não for assinado um acordo de paz e os palestinianos não tiverem direito ao seu próprio estado.

Já esta semana, a Palestina abandonou a presidência rotativa da Liga Árabe, em protesto com acordos que vê como uma traição. Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana (Fatah), Riyad al-Maliki, “a Palestina cede o seu direito a presidir ao conselho da Liga, não há nenhuma honra em ver os árabes precipitarem-se para a normalização [com Israel] durante a sua presidência”. 

No início do mês, o governo de Mahmoud Abbas tentou sem sucesso convencer a Liga Árabe a condenar o Bahrein e a federação de sete emirados, sublinhando que abandonaram o consenso entre os 22 países membros da Liga sobre o conflito.

Apelos ao diálogo

Enquanto as facções palestinianas conversavam na Turquia, em Amã os ministros dos Negócios Estrangeiros de quatro países árabes e europeus defendiam o recomeço de negociações entre palestinianos e israelitas.

Não haverá “paz global e duradoura sem uma decisão para o conflito que se baseie na solução de dois estados”, disse no final do encontro o ministro jordano, Ayman al-Safadi. “Não há outra solução”, sustentou o chefe da diplomacia de França, Jean-Yves Le Drian. Palestinianos e israelitas têm se provar o seu compromisso com o diálogo “e nós estamos prontos para apoiar esse processo”, acrescentou.

Para além dos ministros da Jordânia e de França, participaram os seus homólogos do Egipto e da Alemanha. Os quatro dirigentes também aplaudiram os acordos entre os Emirados e o Bahrein e Israel, com o ministro alemão, Heiko Maas, a dizer que “mostram que a paz é possível na região” e o dirigente egípcio, Sameh Shoukry, a considerar estes pactos um “desenvolvimento importante que pode levar a um maior apoio para chegar a uma paz global” – o contrário do que pensam os palestinianos, que se sentem cada vez mais isolados.

Até agora, Egipto e Jordânia eram os únicos países do Médio Oriente e do mundo árabe a reconhecer oficialmente Israel – a Mauritânia chegou a ter relações diplomáticas com o Estado hebraico mas congelou-as em 2009, em protesto contra a guerra de Gaza.

Entregues a si próprios, Fatah e Hamas acordaram uma “liderança unificada” e agora prometem novas eleições que, segundo o dirigente da Fatah Jibril Al-Rajoub, serão faseadas: primeiro as eleições legislativas, depois as presidenciais e finalmente a escolha dos membros da Organização para a Libertação da Palestina.

Mohammad Shtayyeh, primeiro-ministro palestiniano, garantiu que a Autoridade Palestiniana está pronta para garantir o bom funcionamento das eleições, fundamentais para “renovar a vida democrática e solidificar a unidade nacional face aos graves perigos existenciais que ameaçam a causa palestiniana”. A data das eleições será revelada brevemente pelo presidente Mahmoud Abbas.

Dias antes da reunião entre dirigentes dos dois grupos políticos na Turquia, uma sondagem do Centro de Investigação Palestiniano sobre Política e Pesquisa (PCPSR, na sigla em inglês) concluiu que Ismail Haniyeh, líder do Hamas, é o principal favorito à vitória nas presidenciais, com 52% das intenções de voto, enquanto 39% dos inquiridos preferem Mahmoud Abbas.

Na Faixa de Gaza, Abbas surge com 32% dos votos e Haniyeh com 62%. Na Cisjordânia, a Fatah recebe o apoio de 46% dos inquiridos, contra os 42% que apoiam o Hamas.

O Presidente da Autoridade Palestiniana ainda não se pronunciou sobre uma possível recandidatura. Caso o candidato da Fatah fosse Marwan Barghouti, um proeminente dirigente que está preso há vários anos preso em Israel, a facção que governa a Cisjordânia vencia com 55% dos votos contra os 39% de Haniyeh.

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