Eles vão de Tondela a Compostela em bicicleta eléctrica: um passeio pela “mobilidade suave”

Primeiro, foi a ideia de fazerem uma viagem de bicicleta juntos, depois as preocupações com a questão da mobilidade. Assim, a viagem de amigos tornou-se também numa espécie de missão: a de mostrar que é possível trocar o carro pela bicicleta, eléctrica ou não, sem perder conforto. Pelo caminho, farão um documentário.

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A previsão é de cumprirem os 480 quilómetros de distância entre Tondela e Santiago de Compostela em cinco dias márcio ribafeita

Durante cinco anos, Hugo Neves e Mafalda Matos, marido e mulher, viveram em Bruxelas. Lá, Hugo adoptou a bicicleta como meio de transporte diário, para o trabalho, em lazer; Mafalda ficava-se pelo lazer, já que o trabalho ficava mais distante. Lá, receberam várias vezes a visita de Rui Violante, o melhor amigo de Hugo, que percebeu o conforto que a bicicleta dava ao dia-a-dia. Por isso, em Lisboa, onde vive, Rui comprou também uma bicicleta que utiliza sempre que pode, inclusive para ir trabalhar. Quem nos conta a história é Hugo, agora que os três amigos, “de muitas viagens em conjunto”, se preparam para uma nova jornada colectiva. Desta feita, em cima das bicicletas e com uma espécie de missão.

“De Tondela a Compostela” é uma viagem de amigos e algo mais além da rima, brinca Hugo. Se começou como o desejo de fazerem uma viagem maior em bicicleta juntos (Hugo e Mafalda já faziam algumas, apenas de fim-de-semana, sobretudo na Holanda), depois surgiu a ideia de chamarem a atenção para um assunto que lhes é caro, o da “mobilidade suave”. Isto numa altura em que, sublinha Hugo, a “preocupação com o meio ambiente é crescente” e que “as cidades estão a sofrer uma grande transformação”. “Sentimo-nos tão bem de bicicleta no dia-a-dia”, explica Hugo, “que quisemos ir mais longe. É uma prova à bicicleta e a nós próprios, ao mesmo tempo que tentamos sensibilizar as pessoas para largarem o carro.”

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Tondela, o ponto de partida, acaba por conjugar o agradável e o útil: Hugo e Mafalda, 31 (como Rui) e 29 anos, estão a viver aí desde o início do ano, num regresso às raízes (são oriundos de duas aldeias do concelho), sendo que numa cidade do interior a preponderância para o uso do carro de motas é grande, nota Hugo, e logo à partida terão de superar a serra do Caramulo – o que será um teste às bicicletas eléctricas.

Pensaram desde logo fazer a viagem nestas bicicletas mas, entre os três, só tinham uma, de carga, que Hugo e Mafalda usam para ir às compras, despejar o lixo, carregar a água. Então, Mafalda decidiu escrever à fabricante das bicicletas, a alemã Riese & Müller, “sem grande esperança” não só obteve resposta como o empréstimo de outras duas bicicletas, através de um representante em Portugal.

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É essa bicicleta de carga, com os seus 2,8 metros de comprimento, que os três acreditam ser o “quebra-gelo” que permitirá fazer algumas acções de sensibilização pelo caminho. “Chama a atenção”, reconhece Hugo, “e esperamos que as pessoas nos abordem.” Oportunidade para explicar as vantagens de andar em bicicleta e, quem quiser, poderá até “experimentar as bicicletas para perceberem que é confortável”. Na estrada, Hugo e Rui, ambos repórteres de imagem, vão também recolher material para um documentário sobre a questão da mobilidade sustentável. “Ainda não está fechado o ângulo”, diz, “vamos viajando e percebendo que problemas se levantam, quais as vantagens e desvantagens.”

Depois de passarem o Caramulo, chegarão a Águeda e aí seguirão pelo Caminho de Santiago. “Assim, apanhamos algumas estradas nacionais e off-road, vai ser uma aventura muito versátil”, justifica Hugo.

A logística é “simples”: as dormidas vão ser feitas em albergues - “pela pandemia, alguns estão fechados e apesar de termos uma lista actualizada é sempre uma incógnita e pode ser que tenhamos de fazer alguns desvios”; viajam sem qualquer tipo de apoio, pelo que têm de gerir bem as baterias e a carga que transportam - “as baterias têm autonomia de 80 quilómetros, com o modo de alguma assistência”. A previsão é de cumprirem os 480 quilómetros de distância entre Tondela e Santiago de Compostela em cinco dias. Contudo, só ao final do primeiro terão uma noção mais exacta. “Vamos filmar, gerir autonomia das baterias e esforço”, justifica Hugo.

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Certo é que a partida é no sábado, dia 26, às 9h. E, afinal, “De Tondela a Compostela” pode ser mesmo uma questão de rima. “Gostávamos de terminar em Finisterra”, admite Hugo. “O mais importante é chegar a Compostela. Se correr bem, tentaremos fazer os 80 quilómetros até Finisterra, que são caminhos mais sinuosos.”

Quem quiser acompanhar o percurso pode fazê-lo através do Facebook e do Instagram.

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