A TAP tarda em desconfinar

Ninguém consegue perceber como é que no segundo trimestre a Lufthansa transportou mais passageiros de e para o Porto do que a companhia nacional. Se os alemães acreditam no mercado nortenho, que razões tem a TAP para não acreditar?

As verbas astronómicas que o Estado português já injectou ou vai injectar na TAP ora assustam os contribuintes, ora lhes motivam atitudes resignadas face ao que teriam de perder se a transportadora nacional pura e simplesmente deixasse de operar. Mas, seja qual a for a posição de cada um de nós sobre o debate em torno do resgate da companhia, a sorte da TAP mexe de forma tão particular e intensa nos nossos interesses que é indispensável avaliar a forma como a sua gestão está a reagir à brutal crise do transporte aéreo. Sendo ainda cedo para se poder dizer que a nova TAP é um desastre, há uma série de indicadores que suscitam perplexidades.

E a primeira pergunta a fazer é sobre as opções que levaram a transportadora a perder de novo a sua liderança no mercado nacional para a Ryanair. Não, não chega justificá-lo com a agressividade dos preços da companhia low cost. Nem com a sua flexibilidade para se ajustar à conjuntura ou a sua versatilidade que dispensa a existência de nós de ligação (os famosos hubs) para levar passageiros de uma cidade para outra.

A verdade é que entre as principais companhias listadas pela autoridade de regulação do transporte aéreo, a ANAC, a TAP é a companhia que, em Agosto, mais perdeu passageiros em comparação com o mesmo mês do ano passado: 76,5%. Em comparação, a Lufthansa perdeu 41,5%, e a Air France e a KLM na ordem dos 37%.

Em comparação com Julho, e aqui está uma boa notícia, a TAP aumentou em 124% o número de passageiros transportados – ou seja, com o pico do Verão parece ter havido uma espécie de sobressalto que terá tirado a administração do marasmo. Porque, se compreendemos a decisão de não investir em ligações com elevados riscos de gerar prejuízos, como os seus líderes fizeram questão de anunciar, já não compreendemos como é que esses riscos são exclusivos da TAP e poupam os seus concorrentes.

Ninguém consegue perceber como é que no segundo trimestre a Lufthansa transportou mais passageiros de e para o Porto do que a companhia nacional. Se os alemães acreditam no mercado nortenho, que razões tem a TAP para não acreditar? Como é possível que a companhia nacional tenha uma quota de mercado no Porto abaixo da dos alemães?

É ainda cedo, como se disse, para se fazer um julgamento definitivo sobre o que está a fazer a TAP para travar a sua ruína. Mas já não é cedo para se começar a questionar as escolhas de quem a dirige. Olhando para o número de passageiros transportados, as respostas não são tranquilizadoras. Esperemos para ver o que vem a seguir.

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