Serviços de Informação preocupados com impacto da pandemia na radicalização jihadista

“Começamos a verificar indivíduos que agem sozinhos, estiveram muitos meses em casa, a consumir e a produzir propaganda jihadista em massa que é apelativa”, disse representante do SIS em seminário sobre terrorismo organizado pela APAV. Polícia Judiciária diz que há novas formas de nazismo e fascismo e que radicalização está em crescimento.

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fau fabio augusto

O Serviço de Informações de Segurança (SIS) está preocupado com o impacto do confinamento na radicalização online de jovens portugueses para o terrorismo jihadista. “Na situação em que vivemos de confinamento e maior isolamento o fenómeno de radicalização online poderá ter assumido outra proporção”, afirmou uma representante do SIS, que não foi identificada por questões de segurança, no seminário Counter@ct: prevenção e combate à radicalização online, organizado pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), nas instalações de Polícia Judiciária em Lisboa. 

Se antigamente o SIS considerava que era necessário haver ligações a organizações terroristas, neste momento começam “a verificar indivíduos que agem sozinhos, estiveram muitos meses em casa, a consumir e a produzir propaganda jihadista em massa que é apelativa”, nomeadamente para os jovens, o “público que as organizações querem atingir”, disse.

O SIS entende que é importante perceber quais foram as consequências da pandemia na radicalização online, às quais podem estar associadas questões do foro psicológico, acrescentou.

O projecto Counter@ct, financiado pelo Fundo de Segurança Interna – Polícia da União Europeia, tem como objectivo mudar comportamentos que dissuadam os jovens a aderir a radicalismo e desenvolve campanhas online com narrativas alternativas. 

No seminário debateram-se vários temas. A representante do SIS falava na mesa sobre as sinergias para prevenir e combater a radicalização e o extremismo violento. Foi sublinhada a importância da prevenção.

No mesmo painel Jorge Monteiro, chefe de divisão da equipa multidisciplinar do centro de competência para a gestão de programas e projectos da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, recordou que há apenas um preso (preventivo) acusado de terrorismo. Jorge Monteiro lembrou que o “contexto prisional pode ser privilegiado para fenómenos de recrutamento e radicalização” por ter características em que o contacto com determinadas ideologias se torna mais fácil. Mas é também um contexto para “detectar de forma precoce alguns sinais que podem identificar processos de radicalização ou preparação de actos terroristas e violentos” e implementar estratégias, acrescentou. 

PJ: novas formas de nazismo e fascismo, radicalização em crescimento

Na abertura da sessão, a preocupação com os extremismos foi vincada pela direcção nacional da Polícia Judiciária (PJ). Há “novas formas de nazismo e fascismo” em Portugal e é altura para ter “coragem para lidarmos” com elas, afirmou Luís Neves, o director-nacional, na abertura. Embora em Portugal o cenário não seja tão preocupante como em outros países, a verdade é que “a radicalização está em franco crescimento” online e offline, completou Manuela Santos, directora da Unidade Nacional Contra Terrorismo da PJ. 

A PJ tem em mãos várias investigações nesta área, entre elas a ameaça recente a 10 cidadãos, feita através de email, por autores que se identificam como Nova Ordem de Avis-Resistência Nacional. Entre os cidadãos intimados a abandonar o “território nacional” em 48 horas e a rescindir “as suas funções políticas” estavam as deputadas Beatriz Gomes Dias, Mariana Mortágua (do Bloco de Esquerda) e Joacine Katar Moreira (deputada não inscrita), Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo ou Jonathan Costa e Rita Osório, da frente unitária antifascista.

Este é o tipo de caso para o qual são necessários meios complexos devido ao facto de o email ter sido enviado de um serviço de correio electrónico que não deixa registo, dificultando o seu rastreamento.

João Paulo Ventura, coordenador da Unidade Nacional Contra Terrorismo da PJ, lembrou que este é um esforço global e que os desafios hoje “são muito mais complexos”. Deu justamente como exemplo a utilização de correios electrónicos e servidores internacionais, as redes sociais e até os jogos online que “convocam uma dimensão de risco”.

Referiu que o terrorismo não se pode reduzir a actos e crimes de terrorismo: “Há muitas coisas que tratamos que são da ordem do comportamento criminal mas estão a montante dos actos terroristas” — discriminação racial, religiosa, sexual, posse de armas proibidas, tentativas de homicídio. “Há uma panóplia de infractores criminais que são de motivação política e ideológica que nos preocupam”, afirmou.

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