Activista pró-democracia Joshua Wong libertado sob caução em Hong Kong

Está acusado de participar numa manifestação ilegal em 2019 e de violar uma lei que proíbe o uso de máscara durante os protestos. Foi libertado sob caução e vai a julgamento no próximo dia 30 de Setembro.

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Joshua Wong foi libertado após pagamento de caução JEROME FAVRE/EPA

O activista pró-democracia Joshua Wong foi detido esta quinta-feira em Hong Kong, acusado de participar numa manifestação ilegal no ano passado e de violar uma lei que proíbe os manifestantes de cobrirem o rosto durante os protestos. 

“O Joshua foi detido quando estava a prestar depoimentos na esquadra central da polícia por volta das 13h [06h em Portugal continental]. A detenção está relacionada com a participação em manifestações não autorizadas a 5 de Outubro do ano passado. Dizem que ele também violou uma lei antimáscara draconiana”, lê-se na publicação feita na conta oficial de Twitter do activista.

Poucas horas depois, o activista de 23 anos foi libertado sob caução. No Twitter, afirmou que a sua detenção “é um abuso notório do sistema de Justiça criminal ao fazer acusações anteriormente consideradas inconstitucionais” e referiu que pode enfrentar uma pena de prisão de cinco anos pelo crime de participação em manifestação ilegal e de um ano pela utilização de máscara. O julgamento está marcado para 30 de Setembro. 

A proibição de máscaras, usadas sobretudo pelos manifestantes para se protegerem do gás lacrimogéneo lançado pela polícia, foi anunciada no dia 4 de Outubro de 2019, numa tentativa de o Governo de Carrie Lam tentar impedir as manifestações que duravam há vários meses. Em resposta, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra a nova lei, que remonta ao tempo colonial e não era usada há mais de 50 anos.

Em Novembro de 2019, a legislação acabaria por ser considerada inconstitucional, mas, em Abril deste ano, um tribunal de recurso considerou que as autoridades podem proibir o uso de máscaras em manifestações que sejam consideradas ilegais.

Esta quinta-feira, além de Joshua Wong, foi também detido o activista Koo Sze-yiu, de 74 anos, acusado de participar na mesma manifestação considerada ilegal, avança o site Hong Kong Free Press. 

Em entrevista ao PÚBLICO em Julho deste ano, questionado sobre a possibilidade de voltar a ser detido (cumpriu duas penas de prisão, em 2017 e 2019), Joshua Wong, de 23 anos, disse: “Há o risco de sermos condenados a prisão ou de sermos extraditados para a China.” Referia-se à lei de segurança nacional imposta por Pequim em Hong Kong. “Mas é um risco que sempre corri e que vou continuar a correr. Quero continuar a lutar”, afirmou.

​Em 2014, quando tinha apenas 17 anos, Joshua Wong tornou-se o rosto da “Revolução dos Guarda-Chuvas”. Dois anos depois, fundou o Demosisto, um partido político que defendia a realização de um referendo sobre a independência de Hong Kong, antiga colónia britânica que desde 1997 está sob domínio da China. 

O partido viria a ser dissolvido em Junho deste ano, após a entrada em vigor da lei de segurança nacional, que prevê sentenças que podem ir até à prisão perpétua para os crimes de secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras. 

No passado mês de Julho, Wong foi impedido de concorrer às eleições legislativas que estiveram marcadas para Setembro, mas que acabaram adiadas devido à covid-19, de acordo com a justificação dada pelo executivo da região. No entanto, o activista decidiu recorrer da decisão e viu na quarta-feira, um dia antes de ser detido, o tribunal rejeitar o seu recurso. 

No passado mês de Agosto, a polícia de Hong Kong deteve mais de uma dezena de pessoas, incluindo os deputados pró-democracia Lam Cheuk-ting e Ted Hui, por participação em protestos em 2019. Outros activistas pró-democracia, como Agnes Chow e Jimmy Lai, proprietário do jornal Apple Day, foram detidos nos últimos meses pelas autoridades de Hong Kong. 

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