ICNF diz que marcação de árvores na Serra da Lousã é “indevida” e vai abrir inquérito

Associação Milvoz denunciou abate iminente de “milhares de árvores” no alto da serra, entre as quais estão carvalhos, castanheiros e bétulas.

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Árvores marcadas para abate no alto da Serra da Lousã Milvoz - Associação de Protecção e Conservação da Natureza

As árvores do alto da Serra da Lousã que foram marcadas para corte no início desta semana não deverão, afinal, ser abatidas. Trata-se de uma “marcação indevida” que o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) quer ver clarificada. A situação foi denunciada na terça-feira pela Milvoz — Associação de Protecção e Conservação da Natureza, que deu conta da marcação para corte de “milhares de árvores” de várias espécies, entre o Trevim e a Catraia. 

Entre essas espécies estão carvalhos-alvarinhos, carvalhos-negrais, castanheiros, bétulas, freixos, pinheiros-silvestres, abetos e pinheiros-negros, refere a associação. O presidente da Milvoz, Manuel Malva, que se deparou com a operação de marcação numa área que integra a Rede Natura 2000, diz que esta estava a ser conduzida por funcionários do ICNF. 

O instituto público vem agora esclarecer que se tratou de uma “marcação indevida e extemporânea”. Aquela zona chegou a ser “identificada para integrar uma faixa de interrupção de combustíveis da rede primária”, refere o organismo, numa nota enviada ao PÚBLICO, nesta quinta-feira. Ou seja, inicialmente, estava de facto previsto que se abrisse ali uma clareira para contenção de fogos florestais. “No entanto, face à identificação das características ecológicas do local e dos valores em presença, o ICNF propôs em Janeiro de 2020 à autarquia da Lousã a alteração do traçado”, acrescenta.

Segundo garante o INCF, essa proposta de alteração do traçado foi aprovada pela Comissão Municipal de Defesa da Floresta da Lousã em Maio, “estando nesta fase em conclusão o referido processo de alteração de traçado, aguardando apenas a sua publicação”.

O organismo não explica o que terá acontecido para que a marcação daquelas árvores tenha avançado, mas informa que o Conselho Directivo do ICNF decidiu abrir um inquérito para “apurar responsabilidades no sucedido”.

O instituto refere ainda que as operações de “instalação e manutenção das redes de defesa da floresta contra incêndios são antecedidas de uma avaliação dos valores em presença, tendo em vista a sua preservação” e que é dessa avaliação que “decorrem os necessários ajustes aos traçados definidos, assegurando a necessidade de proteger esses valores sem colocar em causa a eficácia destas redes”.

Ao PÚBLICO, Manuel Malva, que é também biólogo, explicou que o corte daquelas árvores iria contribuir para debilitar a restante floresta daquela área. “Vão reduzir muito a floresta numa zona muita alta da Serra da Lousã”, em terrenos que estão “muito expostos a ventos”, explicou, o que poderia "levar a uma decadência sucessiva da restante floresta”.

O responsável da Milvoz, uma associação que criou uma reserva natural privada nos arredores de Coimbra, sublinha que aquelas espécies na Serra da Lousã “têm um valor ecológico e de suporte da biodiversidade muito grande”.
 

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