Lukashenko tomou posse em cerimónia secreta, oposição apela à “desobediência civil”

Opositores do regime consieram que Presidente bielorrusso não tem legitimidade e apelam a mais manifestações, inclusive a “acções de desobediência civil”. Pára-quedistas russos aterrarram na Bielorrússia para exercícios militares.

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"Não posso e não tenho o direito de abandonar os bielorrussos”, disse Lukashenko durante a tomada de posse Reuters/BelTA

O Presidente da Bielorrússia, Aleksander Lukashenko, tomou posse esta quarta-feira para um sexto mandato à frente do país que governa com mão de ferro há 26 anos, numa cerimónia secreta, sem qualquer aviso prévio. A oposição já contestou e apelou a mais protestos.

Lukashenko, que enfrenta a maior contestação de sempre ao seu regime, com protestos que entraram na sétima semana consecutiva, declarou-se vencedor das eleições presidenciais do passado dia 9 de Agosto, com mais de 80% dos votos. As eleições, no entanto, foram consideradas fraudulentas pela oposição, União Europeia e Estados Unidos, que exigem novas eleições livres e justas.

Durante a tomada de posse, segundo a agência de notícias bielorrussa Belta, o autocrata, de 66 anos, pôs a mão direita sobre uma cópia da Constituição e prestou juramento no Palácio da Independência, em Minsk, numa cerimónia em que participaram centenas de pessoas leais ao regime, mas que não contou com representação de diplomatas estrangeiros. 

O Presidente afirmou que a Bielorrússia precisa de “segurança e consenso perante uma crise global”, no que parece uma referência à pandemia de covid-19. “Não posso e não tenho o direito de abandonar os bielorrussos”, afirmou Lukashenko.

A oposição, no entanto, não reconhece legitimidade a Lukashenko. “Onde estão os cidadãos alegres? Onde estão os corpos diplomáticos? É óbvio que Aleksander Lukashenko é exclusivamente o presidente da Omon (forças especiais da polícia) e de alguns funcionários mentirosos”, afirmou Pavel Latushko, membro do Conselho de Coordenação, citado pela Reuters, considerando a cerimónia de tomada de posse como uma “reunião de ladrões”.

Latushko, ex-ministro da Cultura que está exilado na Polónia, apelou ainda a “acções de desobediência civil”, enquanto Svetlana Tikhanouskaia, referiu-se a uma “tentativa de tomar o poder” por parte de Lukashenko: “A partir de hoje, não é legal nem legitimamente Presidente da Bielorrússia. A única solução são eleições livres e justas”.

No Twitter, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Linas Linkevicius, classificou a tomada de posse de Lukashenko como uma “farsa”, falando em cerimónia “forjada”.

Durante a tomada de posse, que em condições normais seria amplamente divulgada e celebrada, várias ruas foram fechadas ao trânsito em Minsk. Durante a tarde, centenas de bielorrussos saíram às ruas para protestar. “O rei vai nu” e “a vitória pertence ao povo” eram algumas das mensagens que se liam nos cartazes. 

Oficialmente, o quinto mandato de Lukashenko terminaria apenas a 5 de Novembro. Na semana passada, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução a defender que Bruxelas deve deixar de reconhecer o autocrata como Presidente da Bielorrússia a partir dessa data.

Os líderes europeus comprometeram-se no passado mês de Agosto com a imposição de sanções às figuras do regime responsáveis pela violência exercida pelas forças de segurança e pela falsificação dos resultados eleitorais. No entanto, esta semana, os 27 Estados-membros não conseguiram chegar à unanimidade necessária, devido ao veto de Chipre, que também exige sanções à Turquia.

No mesmo dia em que Lukashenko se autoproclamou Presidente para um sexto mandato, pára-quedistas russos aterraram na Bielorrússia na sequência dos exercícios militares conjuntos entre Moscovo e Minsk. Mais de 900 militares russos estão a participar nos exercícios, considerados uma demonstração de apoio do Kremlin a Lukashenko.

Por outro lado, o ministro da Defesa lituano, Raimondas Karoblis, anunciou na terça-feira que mais 500 soldados norte-americanos serão enviados para a Lituânia em Novembro, para substituir o actual contingente que chegou à fronteira bielorrussa no início de Setembro. Karoblis afirmou que contingente norte-americano “é um poderosos dissuasor, mas não está relacionado especificamente com a situação na Bielorrússia”.

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