Projectos de integração de refugiados e toxicodependentes premiados

Ao todo são 28 os projectos apoiados financeiramente pelos Prémios BPI ”la Caixa” Solidário, que divulga nesta quarta-feira as instituições sem fins lucrativos contempladas por parte dos 750 mil euros garantidos pela iniciativa.

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Entre os vários projectos premiados, há integração de refugiados pelos jesuítas Manuel Roberto

A trabalhar a madeira ou a cuidar de idosos e em cuidados paliativos promove-se a integração socioprofissional de toxicodependentes e refugiados. Este é o mote de duas instituições sem fins lucrativos, que se candidataram a um dos cinco prémios atribuídos anualmente pelo BPI e pela Fundação la Caixa. Nesta quarta-feira, as duas instituições bancárias divulgaram os 28 vencedores das candidaturas direccionadas para a integração de migrantes, reclusos, pessoas com dependências e famílias em situação vulnerável. Entre os vencedores divide-se 750 mil euros a serem aplicados nos vários projectos escolhidos. O objectivo é promover o desenvolvimento de mais-valias técnicas e pessoais para a entrada no mercado de trabalho do público-alvo e no combate ao preconceito.

No concelho de Santo Tirso, na Casa do Meio Caminho, onde residem seis homens com comportamentos aditivos, já existia uma “oficina inclusiva de artes”, como prefere chamar à carpintaria a psicóloga da instituição, Carla Ferreira. Mas para que o passo seguinte possa ser dado existem lacunas a corrigir. Uma delas é comprar uma viatura de serviço para facilitar o acesso à matéria-prima e para ser usada no transporte dos utentes envolvidos na iniciativa submetida ao prémio. A Meio Caminho Oficina Social vai conseguir agora adquirir uma carrinha com os cerca de 28 mil euros que conseguiu garantir por via da candidatura, que também servirão para adquirir outros materiais e chegar à comunidade, de forma a fazer crescer o projecto.

O objectivo é chegar a cerca de quarenta pessoas – utentes residentes e não residentes na casa que nasceu em 2008 no seio da Associação de Moradores do Complexo Habitacional de Ringe. A casa financiada pelo SICAD - Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências e apoiada pela câmara de Santo Tirso, explica Carla Ferreira, já tem outras actividades em marcha, nomeadamente um programa dedicado à agricultura. Com esta iniciativa direccionada para a carpintaria pretende-se agora alargar a área de influência, tendo em vista a “mais-valia” que é a “localização” - na zona envolvente estão concelhos como Famalicão, Paços de Ferreira, Valongo e Trofa. “A nossa intenção é que esta seja mais uma alavanca para a integração desta população e que aqui se consiga criar, eventualmente, postos de trabalho”, afirma a psicóloga. Nos 12 anos de actividade, adianta, “são muitos os casos de sucesso”, entre utentes que mesmo depois de “receberem alta” continuam a ser seguidos pela instituição.

O trabalho desenvolvido passa pela reabilitação e criação de peças de mobiliário. A rotina diária passa por simular o ambiente de um “contexto real de trabalho”, de forma a ser possível, como noutras actividades da casa, dotar os utentes de capacidades socioprofissionais para responderem a ofertas de emprego. Nos últimos anos, passaram “cerca de uma centena” de pessoas “pela residência”. A casa está lotada e tem fila de espera. O futuro será trilhado a continuar a pensar na reintegração de residentes e de utentes externos. Para a Meio Caminho Oficina Social, entre outras metas, há uma que se pretende cumprir: “Queremos com este projecto e através deste financiamento ser uma referência nacional no apoio à reinserção”.

Cuidados paliativos e integração

Cerca de 36 mil euros foi quanto a JRS Portugal – Serviço Jesuíta aos Refugiados conseguiu garantir ao ser um dos 28 vencedores do Prémio BPI ”la Caixa” Solidário para arrancar com um projecto de reinserção de 36 mulheres imigrantes e refugiadas na área dos cuidados básicos a idosos, com enfoque nos cuidados paliativos. Como acontece em Santo Tirso, este programa com sede em Lisboa tem em vista a integração socioprofissional das utentes.

Cláudia Santos, coordenadora da academia da JRS onde o projecto vai ser integrado, considera esta oportunidade uma via para dar resposta a uma fatia da população mais “vulnerável”. “São mulheres com filhos a cargo, muitas vezes sozinhas, que vêm para Portugal procurar melhores condições de vida, mas que precisam de competências”, sublinha.

A academia da JRS é um departamento formativo preparado para responder a “três grandes áreas”: o ensino da língua portuguesa, capacitação de ferramentas socioprofissionais e desenvolvimento pessoal. Considerando a responsável ser a última a “base para todas as formações”, a entrada no mercado de trabalho, sublinha, fica dependente de outras oportunidades que podem ser criadas.

Neste caso, através do projecto Cuidar sem Fronteiras, o grupo de trabalho composto também pela Amara - Associação pela Dignidade na Vida e na Morte e pela LInQUE - Cuidados paliativos em casa, dotará as 36 mulheres que se inscreverem no programa de capacidades técnicas e sociais para poderem entrar no mercado profissional. Depois de feita a formação que arranca em Janeiro de 2021 e termina em Dezembro do mesmo ano a JRS, via academia, continuará a servir de ponte entre as utentes e a vida laboral, sublinha a coordenadora.

Durante a formação, as mulheres que usufruírem da mesma vão seguir a equipa da AMARA e da LinQUE nas visitas feitas ao domicílio para se intrusarem nas tarefas básicas inerentes à função, como dar o banho, ajudar na alimentação, na higiene, e nalguns casos, a ajudar a lidar com o luto. “Queremos promover o emprego através da formação”, conclui.

130 mil pessoas alcançadas

Estes são apenas dois de 28 projectos vencedores do prémio. Foram também distinguidos: A.F.S.O. - Associação Família Solidária de Oeiras, ALKANTARA, AMU - Acções para um Mundo Unido, APAC Portugal, APCL - Associação Portuguesa Contra a Leucemia, Aproximar Cooperativa de Solidariedade Social, Associação Betel, Associação Cultural Moinho da Juventude, Associação de Defesa e Apoio da Vida, ADAV-Coimbra, Associação Menos HUB, Associação Novo Futuro, Associação Santa Teresa de Jesus Dignidade e Desenvolvimento, Associação Ser + Pessoa, Associação Tempos Brilhantes, Associação Vida Norte, Centro Social Paroquial São Maximiliano Kolbe, Comunidade Vida e Paz, Cruz Vermelha Portuguesa - Centro Humanitário Tavira, Cruz Vermelha Portuguesa - Delegação da Trofa, Cruz Vermelha Portuguesa - Delegação de Braga, Cruz Vermelha Portuguesa - Delegação Gondomar/Valongo, Fundação Benjamim Dias Costa, Fundação Dona Laura dos Santos, MOVE – Associação de Microcrédito e Empreendedorismo, Sapana e TESE - Associação para o Desenvolvimento.

No total há cinco Prémios BPI ”la Caixa”, no valor de 3,75 milhões de euros, atribuídos anualmente a fim de apoiar projectos de instituições privadas sem fins lucrativos. Em 25 edições concluídas, estes prémios entregaram cerca de 16,6 milhões de euros para a implementação de 567 projectos de inclusão social em Portugal. De acordo com a organização, os projectos apoiados já ajudaram mais de 130 mil pessoas.

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