Em nove horas, PS deixou recados mil e (ou)viu regressar o fantasma da crise

A bancada do PS juntou-se no Centro Cultural de Belém para lançar a nova sessão legislativa. Houve mensagens para todos os lados, muita dramatização e o regresso da ameaça de crise política.

Foto
Socialistas estiveram reunidos no CCB LUSA/MÁRIO CRUZ

Os socialistas reuniram-se nesta terça-feira para lançar a nova sessão legislativa e aproveitaram o encontro de nove horas para deixar uma série de recados à esquerda e à direita. Quase sempre sem papas na língua. Até o fantasma da crise política, caso o orçamento não seja aprovado, voltou a pairar de forma clara.

António Costa usou o palanque montado no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, para dar aos socialistas uma longa explicação sobre o Programa de Recuperação e Resiliência que será enviado em Outubro para Bruxelas e que permitirá a Portugal receber os milhões de urgência.

“Prioridade” terá sido a palavra mais repetida nos quase 60 minutos em que se dirigiu ao grupo parlamentar. Com muita dramatização pelo meio, terminou a dizer: “Não podemos perder tempo”.

Para o Serviço Nacional de Saúde, o primeiro-ministro anunciou como “prioridade principal” completar “até 2026 toda a rede de cuidados integrados”. Falou quase de uma revolução que pretende fazer na função pública, na educação, na justiça e na segurança social.

Quando se sabe que parte das verbas da Comissão Europeia será destinada a obras públicas, o secretário-geral do PS trouxe à baila o novo Aeroporto de Lisboa, no Montijo.

“A pior coisa que nos podia acontecer era iniciarmos este ciclo, na situação tão crítica em que estamos, e durante dez anos passarmos o tempo a hesitar, a ter dúvidas, a voltar ao princípio e a reabrir as decisões que sucessivos governos vão tomando”, afirmou na abertura da jornada de trabalho do grupo parlamentar. 

“Se nós quisermos fazer nos próximos dez anos o que fizemos nos últimos 50 anos a propósito do [novo] Aeroporto de Lisboa, daqui a dez anos teremos gasto muito dinheiro em muito estudos, mas não teremos feito nada concreto que altere a realidade do país. (…) Não podemos perder tempo”, insistiu.

Mas António Costa também tinha um recado para os partidos à sua direita, que já se mostraram preocupados com o facto de a chamada “bazuca” de euros ir para o Estado e não chegue às empresas.

“Não se caia nesse debate absurdo sobre se este Plano de Recuperação e Resiliência deve investir no Estado ou nas empresas. Este plano tem de investir nas pessoas e nas empresas. Para servir melhor as pessoas e as empresas, precisamos de um Estado mais robusto e eficiente”, defendeu o governante.

E aos muitos que pedem transparência na administração das verbas, Costa assegurou que também ele quer “a máxima transparência com a mínima burocracia” na execução do plano.

De novo o fantasma da crise

Já depois do almoço, o palco foi dado ao secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. Duarte Cordeiro citou António Costa para fazer entrar na sala um fantasma que já deu muito que falar. “Não podemos somar uma crise política a uma crise económica e social”, afirmou.

O discurso de Cordeiro foi curto mas directo para os partidos à esquerda do PS. “Este Orçamento exige da esquerda um compromisso político que permita encontrar pontos de convergência num momento particularmente difícil para o nosso país. Os portugueses esperam que a esquerda tenha essa capacidade de entendimento e isso exige que cada partido se aproxime, procure convergências, seja exigente, mas mostre essa disponibilidade que o país precisa”, defendeu o secretário de Estado, assegurando que no PS “existe essa disponibilidade e vontade em muitos domínios”.

A líder da bancada parlamentar socialista também falou para a esquerda, mas primeiro apontou canhões à extrema-direita, assegurando que o PS irá estar na linha da frente do combate ao populismo.

“Não silenciemos o populismo ou o extremismo ou as atrocidades que se vão ouvindo por aí de alguns partidos, designadamente contra as mulheres. O PS não se pode calar, não deve calar-se”, defendeu Ana Catarina Mendes.

Depois virou-se para a esquerda para lembrar que os tempos actuais “não estão para brincadeiras ou para aventureirismos”. Ana Catarina Mendes disse querer saber qual o posicionamento destas forças políticas, num momento em que, segundo garantiu, o PS optou “por mudanças que vão alterar a vida das pessoas” e quer “continuar a valorizar os salários dos trabalhadores, com mais medidas de justiça social e mais protecção social e (...) mais um impulso ao investimento público”.

“Este é o momento em que todos somos convocados para uma emergência de uma crise que não provocámos pela nossa acção governativa, mas que foi provocada por um inimigo invisível. Importa saber de que lado estarão os parceiros à esquerda. Esperemos que estejam com o caminho que trilhámos nos últimos cinco anos”, acrescentou a líder da bancada socialista.

E numa altura em que se discute o papel das ordens profissionais em Portugal, Ana Catarina Mendes tinha também um recado nesta matéria. “O Grupo Parlamentar do PS não quer uma luta ou uma batalha contra as ordens profissionais, mas entende que uma ordem profissional tem de regular a sua profissão. Não pode ser um sindicato disfarçado, nem tão pouco pode ser uma arma de arremesso política contra qualquer governo, seja ele qual for”, disse.

Sugerir correcção