Trump atira-se à China e transforma discurso na ONU em vídeo de campanha

O embate entre as duas super-potências mundiais marcou o primeiro dia da Assembleia-Geral da ONU que assinala o seu 75º aniversário.

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Discurso de Trump foi transmitido durante a Assembleia-Geral da ONU EPA/Rick Bajornas / UN Photo / HANDOUT

A China deve ser responsabilizada pelo seu papel na propagação da pandemia da covid-19, afirmou o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na sua intervenção durante a 75.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas. O Presidente chinês, Xi Jinping, disse que nenhum país pode ser o “chefe do mundo”.

A poucos meses das eleições presidenciais, Trump adoptou um tom ainda mais agressivo que o normal para o discurso, que foi previamente gravado e transmitido durante a Assembleia-Geral. Logo no início, referiu-se ao vírus SARS CoV-2 como o “vírus da China” e acusou o país asiático de ter “lançado esta praga no mundo”.

“Nos primeiros dias do vírus, a China proibiu as viagens domésticas, enquanto permitiu que voos deixassem a China e infectassem o mundo. A China criticou a minha proibição de viagens para o seu país, enquanto cancelavam voos domésticos e fechavam os seus cidadãos em casa”, disse Trump, reciclando acusações já feitas no passado.

No dia em que os EUA ultrapassaram o patamar das 200 mil mortes causadas pela covid-19, Trump voltou a garantir que a distribuição de uma vacina irá acontecer brevemente e prometeu “derrotar o vírus”.

A generalidade dos analistas interpretou o discurso de Trump, que durou apenas sete minutos e se concentrou essencialmente na China – palavra que repetiu onze vezes –, como direccionado para o seu eleitorado. “Foi um discurso pensado para um comício eleitoral virtual e o seu destino é o de ser repetido nas redes sociais do Partido Republicano”, escreveu o editor diplomático do Guardian, Julian Borger.

As acusações lançadas por Trump levaram o representante chinês na ONU, que apresentou a intervenção de Xi, a emitir uma demarcação “resoluta” por parte de Pequim das palavras do Presidente norte-americano.

No seu discurso, Xi ofereceu um contraste gritante com a postura do homólogo dos EUA, com apelos à cooperação e em defesa do multilateralismo como soluções para problemas globais, tais como a pandemia.

“Devemos seguir o aconselhamento da ciência, dar enfoque ao papel de liderança da Organização Mundial de Saúde e lançar uma resposta internacional conjunta para derrotar esta pandemia. Qualquer tentativa de politizar a questão, ou de estigmatização, deve ser rejeitada”, afirmou Xi.

Numa mensagem dirigida aos EUA, o Presidente chinês declarou que nenhum país “deve poder fazer o que quer e ser hegemónico, ameaçador ou o chefe do mundo”. E ainda usou uma referência literária para criticar os que lutam contra a globalização: “Enfiar a cabeça na areia como uma avestruz ou tentar combater a globalização com a lança de Dom Quixote é ir contra as ondas da História.”

O primeiro país a discursar, como é tradição, depois do secretário-geral da ONU, foi o Brasil e o Presidente Jair Bolsonaro voltou a colocar a tónica no meio ambiente. Para Bolsonaro, as acusações de que o seu Governo não está a conseguir lutar contra a criminalidade ecológica não passam de “uma das maiores campanhas de desinformação” da actualidade. No Pantanal, os incêndios devem-se às “altas temperaturas”, enquanto na Amazónia são os índios os responsáveis, disse.

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