José Neves, fundador da Farfetch, doa dois terços da fortuna e adere ao movimento de Bill Gates

Fundador da Farfetch aderiu à Giving Pledge, lançada há uma década pelo casal Gates e Warren Buffett. E aposta forte na filantropia com fundação própria.

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O fundador da Farfetch, José Neves, vai doar dois terços da fortuna à fundação que criou e, devido a esse compromisso, entrou na Giving Pledge, uma iniciativa filantrópica lançada pelo criador da Microsoft, Bill Gates, pela mulher deste, Melinda Gates, e pelo multimilionário Warren Buffett. Neves torna-se assim o primeiro empresário português a integrar este movimento lançado em 2010 e que se esforça por convencer os mais ricos do planeta a contribuírem financeiramente para a resolução de alguns dos problemas mais prementes do globo. 

“Fui aceite pela Giving Pledge, que é a iniciativa de Bill e Melinda Gates e de Warren Buffett para filantropos que prometeram doar mais de 50% da sua fortuna. No meu caso, foi dois terços”, revelou José Neves nesta terça-feira de manhã, reservada a entrevistas com órgãos portugueses, no Porto, horas antes da apresentação de uma das iniciativas-piloto da Fundação José Neves, que vai apoiar a educação e a formação contínua de cerca de 1500 portugueses.

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Setembro volta a ser uma data memorável para o homem que, nos últimos 12 anos, transformou a ideia de uma plataforma online para vender moda de luxo num negócio milionário que, embora ainda não dê lucro, merece a confiança dos mercados e dos investidores. A 21 de Setembro de 2018, a Farfetch estreou-se na bolsa de Nova Iorque com uma valorização muito acima das expectativas iniciais. E 22 de Setembro de 2020 entrará para a história pessoal do empresário como o dia em que ele anuncia como tenciona “partilhar” com o país onde nasceu, e com o resto do mundo que lhe permitiu criar um negócio à escala planetária, a riqueza financeira que angariou na última década (avaliada em mais de 1000 milhões de dólares), mas sobretudo nos últimos tempos.

Para Neves, a filantropia resulta de um “ímpeto de alma”. “É um gesto de gratidão”, resume, acrescentando que a entrada na Giving Pledge resulta de um “sentimento de dever, de missão”. “Quando sentimos um dever, sem uma carga moral associada, um dever-fazer, porque é o que tem de ser feito, chega o momento de começar a partilhar”, afirma.

A Giving Pledge é um dos caminhos dessa partilha. “É uma rede fantástica, estamos a falar de uma filantropia a uma escala muito superior à minha, obviamente, mas onde todos nos reunimos duas vezes por ano para ouvir especialistas e trocar ideias”, descreve.

Desde o nascimento em 2010, a Giving Pledge cresceu de 40 doadores para 210, oriundos de 23 países. As promessas de doações já ultrapassam o bilião de dólares (milhão de milhão ou trillion nos EUA).

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“Bill Gates é uma fonte de inspiração incrível, tem uma fundação completamente alavancada no conhecimento, no estudo meticuloso dos problemas, na utilização do digital para resolver problemas e a medir constantemente resultados”, refere Neves, como que dizendo que essa é a lógica que pretende também para a fundação em nome próprio que, nesta terça-feira, lança a base de dados digital Brighter Future, com recursos úteis para apoio à formação contínua. Isto depois de, na semana passada, ter apresentado o programa de bolsas de cinco milhões de euros (do bolso de José Neves) que vai pagar propinas a quem pretenda prosseguir estudos ou fazer formação em determinadas áreas.

O músico will.i.am, a modelo Naomi Campbell, o co-fundador do Skype Niklas Zennstrom ou o banqueiro António Horta-Osório são alguns dos nomes confirmados para a apresentação que, devido aos condicionamentos impostos pela pandemia, será feita online e pode ser seguida no site da fundação, por exemplo (a partir das 15h, hora de Portugal continental). 

Também pode ser seguido, a partir dessa hora, aqui no PÚBLICO: https://vimeo.com/460269468

O programa de bolsas apoiará 1500 portugueses, independentemente da sua condição económica, idade ou situação laboral. Há uma lista de 22 instituições nacionais associadas a este programa, com uma centena de 100 cursos. As licenciaturas não estão incluídas, mas há vagas para mestrados, MBA, pós-graduações. São privilegiadas formações nos domínios da engenharia, da ciência, mas também há outros campos científicos abrangidos, como a arquitectura ou o design.

A bolsa serve para o pagamento integral da propina. O beneficiário assinará um contrato, válido por 12 anos, ao abrigo do qual se compromete a devolver o apoio a partir do momento em que atingir um certo nível salarial. É o modelo conhecido pela designação inglesa Income Share Agreement. A dívida não inclui juros e se aquele nível de rendimento pré-determinado em cada caso não chegar a ser atingido, não há obrigação de devolução.

O trabalho da fundação, diz José Neves, vai assentar em diversos pilares, como a formação e educação ou a saúde mental, tendo como missão mais vasta “contribuir para a transformação de Portugal num país do conhecimento através da educação e do desenvolvimento humano”. 

A fundação foi co-fundada por Neves, Carlos Oliveira e António Murta. Oliveira, antigo governante (foi secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação) e empresário, é o presidente executivo.

Notícia corrigida às 13h40: no título e na entrada dizia-se que a doação foi ao movimento criado por Bill Gates quando a doação é à Fundação José Neves, o que permite a adesão ao movimento Giving Pledge.

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