Plano de Trump para substituir Ruth Bader Ginsburg é “abuso de poder”, denuncia Joe Biden

Republicanos e democratas em rota de colisão sobre futura nomeação para o Supremo Tribunal dos EUA. Joe Biden apela aos senadores republicanos para não seguirem indicações de Donald Trump e Mitch McConnell.

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Joe Biden discursou em Filadélfia, na Pensilvânia, no domingo Reuters/MARK MAKELA

O candidato do Partido Democrata às eleições presidenciais, Joe Biden, acusou o Presidente Donald Trump e o líder republicano no Senado, Mitch McConelll, de “abuso de poder” depois de estes terem manifestado a intenção de nomear uma nova juíza para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos antes das eleições de 3 de Novembro.

“A Constituição dos Estados Unidos dá oportunidade aos americanos de serem ouvidos. Isto deve ser bem claro, eles não vão tolerar este abuso de poder”, afirmou Biden, no domingo, num discurso em Filadélfia, no estado da Pensilvânia. “Não acredito que o povo desta nação vá aprovar isto [a nomeação de uma nova juíza antes das eleições]. O Presidente Trump já deixou bem claro que isto é sobre poder, pura e simplesmente”, acusou.

As declarações do candidato democrata foram a resposta a Donald Trump, que no sábado, num comício na Carolina do Norte, revelou que a substituta de Ruth Bader Ginsburg vai ser anunciada na próxima semana.

Para tal, conta com o apoio do líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, que poucas horas depois da morte da emblemática juíza defendeu que a substituta deveria ser anunciada antes das eleições, apesar de quatro anos antes, a oito meses das eleições, ter bloqueado uma nomeação do Presidente Barack Obama para o Supremo, argumentando que a escolha deveria ser feita pelo Presidente seguinte.

Num apelo a uma dissidência republicana no Senado, Joe Biden falou directamente para os senadores do Partido Republicano – “respeitem as vossas obrigações constitucionais, sigam a vossa consciência” , numa tentativa de convencer os republicanos moderados a bloquearem a escolha de Donald Trump. 

“Não estou a ser ingénuo. Não estou a falar com o Presidente Trump, que fará o que quiser. Não estou a falar com Mitch McConnell, que fará o que quiser. Estou a falar com os senadores republicanos que no fundo sabem o que está certo para o país e o que está de acordo com a Constituição”, reiterou Biden.

Depois de o Presidente norte-americano ter garantido que vai escolher uma mulher, surgiram duas candidatas apontadas como favoritas.

A principal é a juíza católica Amy Coney Barrett, 49 anos, de Chicago, conhecida pelas suas posições antiaborto e pelo apoio que reúne junto do establishment conservador. Outra possível escolha é Barbara Lagoa, 52 anos, uma juíza de origem cubana, natural de Miami, a exercer em Atlanta. É vista como um nome forte caso Trump queira aumentar a sua popularidade junto do eleitorado hispânico, sobretudo na Florida.

Com a morte de Ruth Ginsburg, aos 87 anos, devido a complicações causadas por um cancro no pâncreas, o Supremo é actualmente composto por cinco juízes nomeados pelos republicanos e três pelos democratas. Uma nova nomeação por parte de Trump – a terceira do mandato – daria uma vantagem aos conservadores de 6-3, o que influenciaria questões como o aborto ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo durante vários anos, uma vez que o cargo é vitalício, a não ser que os juízes abdiquem do cargo.

As nomeações para o Supremo são feitas pelo Presidente, sendo depois confirmadas pelo Senado. O Partido Republicano dispõe de uma maioria de 53-47, no entanto, duas senadoras republicanas – Susan Collins e Lisa Murkowski – já disseram que a escolha deve ser entregue ao vencedor das eleições de 3 de Novembro.

Segundo o The New York Times, outros senadores como Mitt Romney (Utah), Cory Gardner (Colorado) ou Charles E. Grassley (Iowa) podem juntar-se a Collins e a Murkowski. Para manterem a maioria, os republicanos só podem perder o voto de um deles. Em caso de igualdade na votação, o desempate cabe ao vice-presidente Mike Pence.

Uma sondagem da Reuters/Ipsos, publicada no domingo, conclui que 62% dos inquiridos defendem que o lugar deixado vago por Ruth Ginsburg só deve preenchido depois das eleições. Oito em cada dez democratas e cinco em cada dez republicanos concordaram que deve ser o próximo Presidente eleito a fazer a nomeação.

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