Trinta anos e 12 parquímetros depois, o centro de Carnide está em obras

Em 2017, a população revoltou-se contra a chegada da EMEL sem que as ruas estivessem arranjadas. Ainda foi preciso esperar mais três anos para que dois projectos do Orçamento Participativo vissem a luz do dia. Mas há quem esteja à espera há mais tempo.

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Alargar esta estrada é um dos principais objectivos da empreitada Diogo Ventura
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Desde meados dos anos 1980 que estavam prometidas obras na Azinhaga das Carmelitas Diogo Ventura
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Além da melhoria de passeios e estradas, prevê-se a plantação de árvores e a colocação de bancos Diogo Ventura
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Projectos do Orçamento Participativo estavam por cumprir e a população arrancou os parquímetros da EMEL em 2017 Diogo Ventura
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As obras decorrem há já vários meses Diogo Ventura

O caminho para casa tornou-se uma gincana para o casal Vidigal. Os passeios estão meio esventrados e a estrada não se aconselha, sobra o percurso assinalado pelas grades amarelas. “Foi tudo ao mesmo tempo, ficámos aqui com um acesso muito complicado”, constata Jorge Vidigal à porta do seu prédio. O aborrecimento é curto. “Esta obra era muito, muito desejada”, garante.

A Azinhaga das Carmelitas, em Carnide, está a ser requalificada. Seria nota de rodapé numa Lisboa onde há sempre um qualquer arruamento em obras, mas dá-se o caso de esta intervenção ser ambicionada pelos moradores há 32 anos e promessa várias vezes adiada. Tantas que, em 2017, os residentes da freguesia se revoltaram com a demora e arrancaram os 12 parquímetros que a EMEL acabara de instalar.

A empresa municipal preparava-se para cobrar estacionamento em ruas esburacadas e sem passeios, e a população “sentiu-o como uma provocação séria”, lembra Fábio Sousa, presidente da junta, que enfrentou um processo-crime por causa disso.

Águas passadas. Os parquímetros regressaram ao centro histórico de Carnide e funcionam sem sobressalto. Ainda há ruas, como as azinhagas das Freiras e do Serrado, em que os passeios não existem e o alcatrão tem falhas, mas o estacionamento é pago. Ainda assim, com as obras actualmente em curso, “uma malha significativa do centro histórico fica tratada”, refere o autarca comunista.

Os trabalhos são a conjugação de dois projectos que venceram o Orçamento Participativo (OP). O primeiro, de 2014, versava só sobre a Azinhaga das Carmelitas, enquanto o segundo, de 2015, abrangia as restantes ruas que ainda não tinham tido obras. A Rua da Mestra, a Rua das Parreiras, a Rua General Henrique de Carvalho e a Travessa do Pregoeiro também vão ser intervencionadas.

Seis anos de espera motivaram o inédito arrancamento dos parquímetros, um azedar de relações entre Fábio Sousa e Fernando Medina e a afixação de cartazes com o nome do presidente da câmara e do ex-vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, exigindo-lhes o cumprimento do OP.

Para alguns, no entanto, o desejo da obra vinha de mais longe. “Esta história começou verdadeiramente em 1988”, recorda Pompeu Santos, que àquela data era administrador de condomínio de um prédio na Azinhaga das Carmelitas. O imóvel tinha sido construído há pouco e o empreiteiro garantira aos residentes que a rua seria arranjada. “As pessoas compraram os andares convencidas de que as obras começariam rapidamente.”

Um ano passou, depois mais um. De um lado da rua não havia passeio, do outro só havia até certo ponto. Tanto no cruzamento com a Travessa do Pregoeiro como no acesso ao Largo da Luz, a estrada estreitava e só permitia a passagem de um carro. Em 1990, o condomínio decide pedir formalmente à câmara e à junta que façam obra. Como engenheiro civil, Pompeu Santos desenha um croquis do que pode ser a intervenção.

“Aquilo não teve andamento nenhum. Em 2005 faço nova proposta à câmara, que era a mesma, mas já em nome pessoal”, recorda. “Verifiquei agora que o que estão a fazer é basicamente o que eu tinha proposto em 1990 e 2005”, comprova Pompeu Santos.

Estacionamento preocupa

A Azinhaga das Carmelitas terá finalmente passeios em toda a extensão de ambos os lados, o alcatrão da estrada dará lugar a paralelepípedos, vão ser plantadas árvores e colocados bancos – ali e nas restantes artérias em obras. “Em princípio as coisas vão ficar substancialmente melhores”, opina Apollo Picado, actual administrador do condomínio que Pompeu Santos já liderou. O alargamento do acesso ao Largo da Luz ainda não está feito porque depende de derrubar um muro que não pertence à câmara, mas isso “é uma das premissas do projecto”, sublinha Fábio Sousa.

O problema, antecipam moradores e comerciantes, será o estacionamento futuro. “Se não fizerem um parque de estacionamento vai ser complicado para quem não tem garagem e para a restauração”, alerta Jorge Vidigal. “Este projecto vai retirar um grande número de lugares”, confirma o presidente da junta.

Um dos projectos do OP previa a criação de um parque de estacionamento na esquina entre a Azinhaga das Carmelitas e a Travessa do Pregoeiro, num terreno agora utilizado como estaleiro de obras. Fábio Sousa diz ter a garantia da câmara de que ele será construído mal terminem os actuais trabalhos. “Neste momento há condições para o fazer, porque a câmara comprou o terreno e ele é 100% público”, diz o autarca. Quando há jogos do Benfica, durante a Feira da Luz ou simplesmente numa quinta ou sexta à noite, quando os famosos restaurantes de Carnide se enchem de gente, “sente-se grande falta de estacionamento”, afirma.

“Agora sim faz sentido a entrada da EMEL. Naquela altura não fez”, conclui o presidente da junta. “As pessoas sentiam que lhes estava a ser imposta uma solução – o pagamento de estacionamento – quando ele não existia e nem sequer havia passeios.”

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