EUA dizem que Hezbollah tem armas e nitrato de amónio espalhados pela Europa

Declaração do responsável norte-americano pelo combate ao terrorismo faz parte de uma campanha de pressão para que a União Europeia classifique o grupo xiita, no seu todo, como uma organização terrorista.

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o nitrato de amónio foi o composto na origem da explosão no porto de Beirute Reuters/HANNAH MCKAY

O responsável do Departamento de Estado norte-americano pelo combate ao terrorismo, Nathan Sales, disse que o grupo xiita libanês Hezbollah tem armazenado, nos últimos anos, carregamentos de armas e de nitrato de amónio em vários países europeus, citando como exemplos Espanha, França, Itália, Grécia e Suíça. De acordo com os EUA, o objectivo do Hezbollah é ter a capacidade para cometer atentados terroristas na Europa sob as ordens do Irão.

Segundo Nathan Sales, a operação do Hezbollah começou em 2012 e tem usado a Bélgica como porta de entrada para fazer chegar os carregamentos aos seus destinos. O nitrato de amónio – o composto químico na origem da explosão no porto do Líbano, em Agosto – foi transportado pela Europa em sacos de refrigeração de estojos de primeiros socorros, disse o responsável norte-americano.

“Temos razões para acreditar que a actividade ainda está em curso”, disse Nathan Sales, durante uma conferência de imprensa por telefone realizada na quinta-feira, horas depois de se ter referido ao caso, pela primeira vez, num painel de discussão no Comité Judaico Americano.

“Em 2018, ainda havia suspeitas da presença de nitrato de amónio na Europa, possivelmente na Grécia, em Itália e em Espanha”, disse o coordenador de contraterrorismo da Administração Trump. “Porque é que o Hezbollah armazenou nitrato de amónio em solo europeu? A resposta é clara: para poder cometer ataques terroristas quando os seus mestres em Teerão acharem necessário.”

O nitrato de amónio é um dos fertilizantes mais utilizados na agricultura e, por si só, não é explosivo – é um oxidante que intensifica a combustão e que pode explodir quando entra em contacto com outros combustíveis ou com fontes de calor, daí também ser utilizado no fabrico de explosivos.

O Presidente libanês, Michel Aun, disse que 2700 toneladas de nitrato de amónio estiveram armazenadas durante mais de seis anos no porto do Líbano. Perante as crescentes pressões da população libanesa e as queixas contra a corrupção generalizada no país, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, teve de vir a público negar a responsabilidade do grupo na explosão de 4 de Agosto.

“Não temos nada no porto: nem um depósito de armas, nem um depósito de mísseis, nem espingardas, nem bombas, nem balas, nem nitrato de amónio”, disse Nasrallah poucos dias depois da explosão, num discurso transmitido pelas televisões.

Pressão sobre União Europeia

As declarações de Nathan Sales fazem parte de uma campanha de pressão norte-americana para que a União Europeia aceite classificar todo o grupo xiita libanês Hezbollah como uma organização terrorista – e não apenas, como acontece actualmente, o seu braço armado.

O Hezbollah é composto por um braço político, que tem 13 deputados no Parlamento do Líbano (o Bloco Leal à Resistência); e uma milícia xiita apoiada pelo Irão. A sua história de luta armada contra o Estado de Israel valeu-lhe o reconhecimento em vários países do Médio Oriente, mas a entrada na guerra da Síria ao lado do Irão e da Rússia, em apoio a Bashar al-Assad, enfraqueceu o seu apoio tanto no Líbano como na região.

Aproveitando este contexto, os Estados Unidos tentam convencer mais países a classificarem todo o Hezbollah como uma organização terrorista. Em Abril, a Alemanha deu esse passo, seguindo-se ao Reino Unido em 2019; mas, no seu conjunto, a União Europeia continua a fazer uma distinção entre o braço político e o braço armado do Hezbollah.

“Encorajamos mais países em todo o mundo a fazerem o mesmo, ou seja, a rejeitarem a falsa ideia de que há uma distinção entre o chamado braço político do Hezbollah e as suas actividades terroristas”, disse Nathan Sales na quinta-feira. “O que pedimos é que mais países designem [como organização terrorista] todo o Hezbollah.”

Também na quinta-feira, os Estados Unidos anunciaram a aplicação de mais um pacote de sanções a responsáveis e empresas ligadas ao Hezzbollah, com o objectivo de limitar a sua capacidade de financiamento no estrangeiro. Os visados são Sultan Khalifa As'ad, que os EUA dizem ser membro do Conselho Executivo do grupo xiita; e as empresas Arch Consulting e Myanmar Construction, ambas com sede no Líbano.

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