Algarve vai ter 228 milhões para investir na eficiência hídrica

Ministro do Ambiente diz que não está previsto dinheiro comunitário para construir novas barragens e centrais de dessalinização.

Foto
helena rodrigues

A falta de água no Algarve é o “novo normal” com que a região tem de viver. Os cenários prospectivos apontam para um défice dos recursos hídricos na ordem dos 60 milhões de metros cúbicos daqui por 30 anos. “Não vale a pena multiplicar barragens quando não há água”, diz o ministro do Ambiente, Pedro Matos Fernandes, considerando que o problema se resolve com um Plano de Eficiência Hídrica. Os autarcas reivindicam a construção de mais duas barragens – uma ribeira de Monchique, outra na Foupana. A primeira está posta de parte, por questões ambientais, a segunda não passa de uma hipótese de estudo e a dessalinização não está incluída no pacote dos 228 milhões de euros dos fundos comunitários

O presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve – Amal, António Pina, insiste na necessidade da construção de mais uma “barragem ou açude” na ribeira de Monchique. “Aquela água que cai na ribeira não pode ser desperdiçada”, afirmou o autarca durante a apresentação do Plano de Eficiência Hídrica (PEH), na quarta-feira na Universidade do Algarve. “Desperdiçar água não é deixar a água correr para o mar. Se há coisa mais normal do mundo é a água correr para o mar”, respondeu o ministro, lembrando: “Se a água falta nos ecossistemas, sofrem todas as espécies e nós também”. A advertência deixou os autarcas incrédulos quanto ao futuro do turismo – uma actividade que tem nos campos de golfe - regados com a captação de água subterrânea - a sua imagem de marca. O governante diz que na “taxonomia de financiamento comunitário” não se encontra “a dessalinização ou barragem alguma”

O Plano Regional de Eficiência Hídrica identifica 57 medidas a implementar, acenando com um investimento de 228 milhões, sendo que 122 milhões destinam-se à componente urbana. O sector agrícola fica com uma fatia de 79 milhões. “Temos de estar preparados para enfrentar um défice hídrico na ordem dos 60 milhões de metros cúbicos em 2050”, afirmou o ex-presidente das Águas de Portugal, Pedro Serra, na apresentação de um estudo que admite a possibilidade de captação de água no rio Guadiana, a montante do Pomarão. Porém, adiantou que o projecto implicaria uma negociação com os espanhóis para que deixem passar mais água. O assunto não está na agenda da cimeira Luso-Espanhola, marcada para o próximo dia 1 de Outubro. “Temos, obviamente, um problema a discutir com os espanhóis”, afirmou o ministro, deixando a promessa que faria chegar o documento às mãos da sua homóloga de Madrid porque já não ia tempo de incluir o assunto na agenda dos trabalhos da cimeira

O transporte de água do Pomarão para a barragem de Odeleite, reconheceu Pedro Serra, “tem dois ou três problemas que não podem ser ignorados”. Desde logo, sublinhou, “quando não há água em Odeleite, provavelmente não haverá muita água no Guadiana”. Além disso, dos cerca de 6 mil milhões de metros cúbicos que chegariam ao Pomarão em condições naturais, disse, “estarão a chegar cerca de 2 mil milhões em média anual, mas com uma irregularidade brutal”. O aumento do regadio, enfatizou, não se verifica apenas do lado português. O Alqueva projecta regar mais cerca de 35 mil hectares. “Nos anos de seca não é possível poupar uma gota de água do Pomarão para Odeleite”.

O estudo apresentado por Pedro Serra na Ualg foi desenvolvido em conjunto com mais dois especialistas - Carmona Rodrigues e Rodrigo Oliveira, do IST. O estudo aponta ainda para a possibilidade da construção de uma central de dessalinização. “Sempre haverá água no mar susceptível de ser utilizada para a produção de água potável”, destacou. Para uma produção de 75 mil metros cúbicos por dia, o investimento estimado é de 85 milhões de euros. “O preço de água para consumo teria que ser aumentado”, advertiu, alertando para os elevados custos energéticos – 3Kw/metro cúbico. Dos pontos fracos salientou ainda os impactos relacionados com as toneladas de salmoura que seriam produzidas. No que diz respeito à construção da barragem na ribeira de Monchique, pediu para os autarcas tirarem daí o sentido. “Construir aí uma barragem é chover no molhado”. A questão já tinha sido suscitada, recordou, aquando de Odelouca e foi abandonada devido aos impactos ambientais negativos.

Sugerir correcção