É um carro, é uma bicicleta? Não fazemos ideia, mas se funcionar…

Canyon apresenta protótipo de veículo urbano a pedal, assistido com motor eléctrico, mas totalmente coberto, ou não: à vontade do freguês. Outros tentaram, sem sucesso comercial. Será desta?

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Imagem do protótipo apresentado pela Canyon DR

A corrida à inovação na mobilidade urbana há muito que deixou de se cingir à apresentação de automóveis citadinos cada vez mais compactos, a ponto de caberem em “meio lugar” de estacionamento. E numa altura altura em que a bicicleta ganha lugar, como opção, em inúmeras cidades do mundo, deixando a indústria que as fabrica sem mãos a medir, uma conhecida marca de velocípedes aproveitou o lançamento de novos modelos com assistência eléctrica para piscar o olho àqueles que se recusam a dar ao pedal por causa do frio, da chuva e do vento.

O protótipo desenvolvido pela Canyon não é para boa parte dos holandeses, com certeza. Esses, como os de Copenhaga, na Dinamarca, pedalam de qualquer maneira. “E se chover? — Se chover molhamo-nos”, explicava-nos uma portuguesa que, a morar por lá, se adaptou rapidamente, e com gosto, aos hábitos de locomoção dos locais. Mas a Canyon cita um estudo sobre micro-mobilidade da McKinsey, segundo o qual, “apesar da popularidade das e-bikes nas cidades, 45% dos utilizadores ainda querem uma forma de transporte que os proteja do vento, da água e da neve”. 

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Para andar na ciclovia?

Aproveitando o facto de o acto de pedalar não ser o factor impeditivo apontado nestes inquéritos, os engenheiros da Canyon desenvolveram um veículo cápsula, que, tirando o design mais apelativo, não deixa de se parecer, conceptualmente, com os ciclomotores de quatro e três rodas com carroçaria já existentes no mercado, e que não exigem carta de condução para serem utilizados. 

Mas a diferença é que o Future Mobility Concept – é tão fresquinho que nem nome tem, como se vê – pode, defendem os criadores, andar numa ciclovia, pois é pouco mais largo do que o nosso corpo, e não passa, na verdade, de uma adaptação de uma bicicleta eléctrica, em que somos obrigados a pedalar para o movimentar. 

Assim de repente, em dimensões o Twizy, da Renault, é o mais parecido que se vê no mercado. Mas é um veículo puramente motorizado, e só pode andar nas vias para automóveis. Conceptualmente, o veículo da Canyon pretende ser considerado uma bicicleta em que o condutor segue deitado, com o controlo da direcção a ser feito lateralmente, na zona dos quadris.

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Uma cargo-bike coberta

Atrás do condutor, dizem, há espaço para uma criança, ou para umas compras. Não chegam a falar do cão, mas também deve caber. Tudo junto é que não. A carroçaria é fechada, para quem tenha então medo da chuva, do vento ou da neve; mas pode ser totalmente aberta, parecendo, nesse caso, uma “bicla” mais futurista. No fundo, o que a Canyon está a propor é mais uma evolução de uma bicicleta de carga (essas estão a ganhar espaço em muitas cidades), do que de uma vulgar bicicleta urbana. 

O conceito vai pegar? Não se sabe. Há três anos, um engenheiro sueco apresentou o PodRide, que é, conceptualmente, muito semelhante a esta proposta da Canyon, ainda que com uma cobertura menos rígida, e o veículo ainda não está disponível para compra. Antes dele outros tinham tentado, mas essas propostas, como o ELF, ou o Cabriovelo, também não chegaram à fase de comercialização, apesar das promessas. E, nas ruas, é o que se vê. 

Falta espaço nas cidades

O conceito não parece ser fácil de trabalhar, ainda que se atire a um problema evidente. Para além da questão das emissões de CO2, que poderia ser resolvida substituindo toda a frota de carros com motores de combustão por veículos eléctricos (algo que não resolve a eventual poluição no ponto de produção da electricidade), as cidades debatem-se com um problema de espaço. Espaço que, em demasia, está entregue a carros parados e em circulação, quando, como nos mostrou esta pandemia, precisamos cada vez mais de passeios, de ciclovias, de jardins e ruas pedonais onde as crianças possam brincar. 

Nesse sentido, quaisquer propostas que contribuam para a descarbonização da vida urbana e ajudem a controlar este ímpeto de urbanização do espaço nas periferias das cidades, é bem-vindo. A Canyon, que para já acrescentou uns quantos modelos com assistência eléctrica — bem aprumados, por sinal — à sua gama de bicicletas, não quis deixar de contribuir para este debate. O resultado desta reflexão está aí e, um dia, talvez surja numa rua perto de ti.

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