Serra d’Arga: uma causa que une portugueses e galegos na Ponte da Amizade no sábado

Portugueses e galegos juntam-se na Ponte da Amizade por uma causa comum, o rio Minho e a Serra D’Arga. Autarquias começaram já a votar a criação de uma área natural para proteger a serra.

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Ponte Internacional da Amizade, Vila Nova de Cerveira DR

No sábado, dia 19 de Setembro, às 10h portuguesas e 11h galegas, acontece um “acto simbólico de união das populações e autarquias das margens do Rio Minho”, na Ponte Internacional da Amizade, em Vila Nova de Cerveira. O propósito é o de contestar o projecto de mineração que o Estado Português quer implementar, algo que, segundo o comunicado da organização, “poderá colocar em risco o desenvolvimento sustentável e o futuro de toda a região”.

Munidos de faixas, os cidadãos irão manifestar-se sobre o Minho contra a prospecção e exploração de lítio. O projecto de fomento mineiro afecta de igual forma a população galega, “cuja vida económica, social e cultural é construída em torno deste eixo de conexão transfronteiriça”. Como tal, desde Agosto que decorre uma aliança entre o Movimento SOS Serra d’Arga e várias associações galegas. Da luta por esta causa comum resultou um Manifesto - “O rio que nos une” -, emitido quando o Movimento SOS Serra d'Arga acolheu elementos dos colectivos galegos numa visita à Serra d'Arga.

Carlos Seixas, representante do Movimento SOS Serra d’Arga, explica que o encontro de sábado é a primeira acção oficial a advir do Manifesto. “Haverá duas pequenas marchas, uma do lado do rio Minho da Galiza, e outra do lado português. Encontrar-nos-emos no meio da ponte, e porque não podemos impedir o trânsito será em margens diferentes. Aí serão mostradas duas faixas que dizem ‘o Minho contra as minas’, uma em português e outra em galego”, descreve.

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A serra d'Arga tem uma biodiversidade relevante que os municípios querem proteger Paulo Pimenta

Criação do parque natural em andamento

O movimento conta já com alguns precedentes de contestação. Em 2019, houve progressos com a redução de 12 para nove áreas identificadas como elevado potencial para a exploração. Na altura, o Governo determinou a exclusão de áreas abrangidas pela Rede Natura – onde a Serra d'Arga se inclui - das futuras concessões mineiras. Contudo, as associações ambientalistas mantiveram a oposição à exploração. O Governo não recua, contudo, na intenção de explorar um recurso considerado crítico para a ambição europeia de transição energética.

No início do ano, em Janeiro, os movimentos cívicos e ambientalistas contra a exploração de lítio em Portugal continuaram a tentar sensibilizar a população, enquanto os termos do concurso que o Governo pretende lançar ainda não eram conhecidos. Em Fevereiro, anunciou-se que o Parque Natural em parte do território da Serra d’Arga deve ser criado ainda em 2020, reforçando o estatuto de protecção da zona.

Neste momento, Ponte de Lima já manifestou, por votação em reunião de Câmara, o seu compromisso com o projecto desta área de paisagem protegida de interesse regional. Viana do Castelo fará o mesmo esta sexta-feira, em reunião extraordinária, seguindo-se, nos próximos dias, Caminha e Vila Nova de Cerveira.

Há ainda muito caminho a percorrer, e uma discussão pública para montar, nos próximos meses, mas o vice-presidente da Câmara de Caminha, Guilherme Lagido, vereador com o pelouro do Ambiente, acredita que ainda este ano, como pretendem, cerca de dez mil hectares de território em torno destas cumeadas, o dobro da área integrada no Sítio de Interesse Comunitário Serra d'Arga, terão um estatuto de protecção reforçado. 

Com o novo parque, que esperam ver integrado na Rede Nacional de Áreas Protegidas, estes quatro municípios querem ver reforçado o seu papel na gestão deste território e na decisão sobre o que se possa ali extrair, ou não, em função dos valores naturais a proteger, explicou ao PÚBLICO o antigo director do Parque Nacional da Peneda-Gerês. O Governo reforçou o poder das câmaras municipais, permitindo o veto de explorações mineiras, mas, no caso de operações integradas em concursos públicos, como o lítio, o parecer dos municípios não é vinculativo.

Enquanto não tiverem como certo que a mineração não avança, os cidadãos envolvidos na contestação não desarmam. A iniciativa deste sábado é prova disso. Será co-organizada pelo Movimento SOS Serra d’Arga, pelos galegos ANABAM (Asociación Naturalista do Baixo Miño), pelo Centro Social Fuscallo e pel'A Jalleira (Asociación Forestal e de Educación Ambiental). Conta ainda com o apoio das autarquias de Vila Nova de Cerveira e Tomiño, cujos presidentes se juntarão aos manifestantes.

Texto editado por Abel Coentrão

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