Incêndios: moradores de aldeias de Oleiros queixam-se da falta de meios na madrugada

O fogo que deflagrou em Proença-a-Nova no domingo alastrou aos concelhos de Castelo Branco e Oleiros. No terreno estão mais de mil operacionais, apoiados por 342 viaturas e nove aeronaves.

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PAULO PIMENTA

Moradores das aldeias de Milrico, Dão e Várzeas, no concelho de Oleiros, queixaram-se da falta de meios para combater o incêndio que na madrugada desta segunda-feira rodeou aquelas localidades, no seguimento do fogo que eclodiu no domingo em Proença-a-Nova.

“Das 6h às 12h não vi bombeiro nenhum, certamente andavam noutros lados”, lamentou Maria Antunes, de 70 anos, em Milrico, que desde a madrugada, juntamente com outros vizinhos, andou numa “roda-viva” para evitar que as chamas atingissem a sua casa.

No terreno estavam, pelas 19h20, 1042 operacionais, 342 viaturas e nove aeronaves, de acordo com a indicação dada ao PÚBLICO pelo Comando Distrital de Operações de Socorro de Castelo Branco.

Na mesma aldeia, António Mateus, de 66 anos, emigrante em França, teve de recorrer à água de um furo e a mangueiras próprias para combater o fogo, que chegou a 50 metros da sua habitação. “Fui eu que apaguei, pois não havia cá ninguém”, enfatizou, salientando que a situação “foi muito má”, devido à localidade ter ficado cercada pelas chamas.

Relativamente próximo, em Dão, as chamas “lamberam” o perímetro da aldeia, mas “o fogo apagou-se por ele”, disse Lúcia Maria Afonso, de 68 anos. “O povo saiu à rua para livrar as casas”, referiu a mulher, lamentando que nem bombeiros nem meios aéreos tenham sido vistos no combate às chamas na hora mais aflitiva, por volta das 6h.

Poucos quilómetros à frente, nas Várzeas, Luís Barata também passou a noite sem dormir para salvar a casa dos pais, o que conseguiu, mas não evitou que ardessem uns arrumos e a adega. Juntamente com o pai, Luís Barata ajudou a que as chamas não provocassem grande destruição na aldeia: “O que nos valeu foi uma viatura dos sapadores da Associação de Produtores Florestais de Alvelos e Muradal, com dois elementos”, salientou à agência Lusa.

Junto à antiga escola primária da aldeia, desactivada há muitos anos, Fátima Esteves ainda continuava de vigilância na tarde de hoje, depois de uma noite sem dormir, juntamente com o marido e o filho, para defender casas de família nas Várzeas e em Vale da Horta.

“Foi um terror, nunca vi uma coisa assim”, desabafou a mulher, proprietária de um salão de cabeleireiro em Oleiros, que esteve fechado durante o dia de hoje. Fátima Esteves lamentou a existência de arvoredo e a falta de limpeza a menos de 50 metros das habitações, o que “tornou a situação num pandemónio”. Para ter um cenário idêntico ao vivido na madrugada desta segunda-feira só recuando a Agosto de 1991, quando um incêndio de grandes dimensões rodeou aquelas aldeias e não deixou “um bocadinho verde”.

O fogo que deflagrou em Proença-a-Nova no domingo alastrou aos concelhos de Castelo Branco e Oleiros, sendo neste último município que as atenções da Protecção Civil estavam focadas ao final da manhã.

O incêndio, que queimou quase 2300 hectares em menos de três horas no seu início, conta com um perímetro de mais de 55 quilómetros, afirmou o Comandante Operacional de Agrupamento Distrital do Centro Sul, Luís Belo Costa, referindo que durante a noite e a manhã foi impossível fazer combate directo à cabeça de incêndio.

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