Um farol na Cantábria cobriu-se de cores vibrantes — mas nem todos gostaram

Uma intervenção para reabilitar um farol com 90 anos na Cantábria gerou algumas críticas. Em causa está o facto de Okuda San Miguel, o artista encarregado da reabilitação, ter usado cores vibrantes. Críticos dizem que é um desrespeito pela herança cultural local.

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DR/Beatriz Carretero & Omar H. Garcia

Um farol de 90 anos no Norte de Espanha está a dar que falar. O motivo: a remodelação da estrutura feita pelo artista Okuda San Miguel, que usou formas e cores vibrantes para o pintar — o que não agradou a todos. É que, durante quase um século, o Faro de Ajo, na Cantábria, foi apenas uma torre branca com uma luz no topo.

A proposta para a remodelação foi feita pela autarquia e o artista, nascido em Santander, inspirou-se na “magnífica importância da natureza num local como a Cantábria, onde ainda há praias selvagens e manchas verdes que se estendem quase até ao mar”, para reinventar o farol. “As cores e geometria representam a cultura indígena, o multiculturalismo e a liberdade”, referiu ao The Guardian.

Os animais que escolheu retratar na torre de 16 metros são típicos da localidade: lobos, ursos, gaivotas e abutres. O resultado da intervenção é uma mistura de cores, formas e animais, com uma paleta de cores arrojada. O objectivo é levar mais visitantes a um dos locais menos conhecidos da costa espanhola. De acordo com o governo regional, parte do dinheiro angariado com eventos ou marketing do farol vão ser aplicados em bancos alimentares na zona. 

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Okuda San Miguel (à direita) foi o artista responsável pela intervenção DR

Mas a Cantábria Infinita, como foi baptizada a intervenção, não entusiasmou todos. No início do ano, quase quatro mil pessoas assinaram uma petição para o farol se manter branco, apontando que a remodelação “muda completamente o estilo do Faro de Ajo e não respeita a herança aquitectónica da Cantábria”. Além da petição, cinco grupos culturais escreveram ao presidente da câmara, pedindo-lhe para reflectir sobre se o projecto era “apropriado” e se o farol seria o melhor candidato para uma intervenção.

As críticas vieram também do partido regional Esquerda Unida, que reportou o caso a procuradores e pediu que fosse feita uma análise para perceber se os poderes locais tinham infringido leis relacionadas com a herança cultural — uma investigação foi aberta. 

As reacções negativas apanharam Okuda desprevenido: “Claro que entendo as críticas — e que algumas pessoas queiram manter as coisas da forma que elas sempre foram. Mas acredito que o meu trabalho, entre outras coisas, se trata de trazer a minha linguagem e iconografia a locais e dar-lhes uma nova vida”, disse, citado no mesmo texto. 

Desde que foi inaugurado após a intervenção, a 28 de Agosto, milhares de pessoas já visitaram o farol. E, segundo o artista, algumas crianças têm partilhado as suas próprias interpretações do trabalho do artista. “Uma menina mostrou-me as fotografias que tirou ao farol. Isso foi maravilhoso. Desde há algum tempo, crianças em escolas em Espanha, em Miami, em todo o lado, escreveram-me para me dizer quanto o meu trabalho as ajudou a aprender sobre arte e cores. Isso deixa-me orgulhoso.”

Okuda, que tem projectos semelhantes com este — como um que consiste em transformar uma igreja abandonada num colorido skate park —, vai aguardar para ver como se resolve a questão. “A autoridade portuária disse que isto vai ser um trabalho não permanente que irá durar oito anos, por isso vamos ver o que acontece até lá. Mas espero que permaneça assim para sempre”, referiu o artista.

“No final, o mais importante de um farol é a sua luz, e isso continua a funcionar. Ainda que os barcos tenham GPS e sistemas modernos que praticamente acabam com a necessidade de faróis.” E, quanto à obra de arte (ainda que não aceite como tal por todos), o artista brinca: "Pelo menos ninguém ficou indiferente.”

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