Maior partido xiita fica de fora do novo Governo libanês de tecnocratas

Presidente Macron está activamente a apoiar a formação do novo executivo em tempo recorde, e em condições que ele próprio estipulou, na sua última visita a Beirute, para que doadores internacionais libertem dinheiro para o país.

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Manifestantes em Beirute com um cartaz que tem o Presidente Michel Aoun, Nabih Berry e Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah LUSA/WAEL HAMZEH

O primeiro-ministro indigitado do Líbano, Mustafa Adib, deve apresentar a sua escolha de Governo de ministros tecnocratas ao Presidente Michel Aoun na segunda-feira. Mas, ao que tudo indica, será um executivo frágil logo às nascença, porque não vai contar com o maior bloco parlamentar xiita no Parlamento, o Movimento Amal.

Nabih Berry, o presidente do Parlamento libanês e líder do Movimento Amal, aliado do Hezbollah, que é ao mesmo tempo um partido e uma milícia, declarou neste domingo que a sua formação política se opõe à forma como está a ser formado o novo Governo, com uma falta de consulta das partes, e que não quer participar. 

“Está lançada a ideia de um governo de especialistas sem lealdade partidária, mas com veto nas pastas ministeriais, apoiando-se em forças estrangeiras e sem concertação”, afirmou Berry, citado pelo jornal L'Orient-Le Jour.

Qualquer Governo necessitará do apoio das principais facções religiosas cristãs e muçulmanas libanesas para poder funcionar – é ainda um mistério como conseguirá Mustafa Adib fazê-lo.

Apesar de afirmar não ter nada contra os franceses, Berry refere-se à pressão exercida pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, que na última visita a Beirute, a 1 de Setembro, impôs um prazo de duas semanas para que houvesse novo Governo no Líbano de tecnocratas, livre dos habituais interesses partidários –,​ para que França, a União Europeia e outros doadores internacionais, como o Fundo Monetário Internacional, se dispusessem a libertar fundos para auxiliar o país. 

Não só é preciso reconstruir Beirute, após a catastrófica explosão no porto, a 4 de Agosto, como antes disso o país tinha já caído na crise mais grave desde o fim da guerra civil, em 1990, com boa parte da população a ver-se sem dinheiro para comprar até os alimentos mais básicos, como o pão.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, está a pressionar os políticos libaneses para que cumpram a promessa de formar um novo Governo até ao início desta semana, para arrancar o país da pior crise desde o fim da guerra civil de 1975-1990, anunciou o Palácio do Eliseu neste domingo.

O processo de formação de executivo no Líbano costuma durar meses, com negociações entre os partidos e todas as seitas religiosas, em busca de equilíbrios. 

Os acordos de divisão do poder após a guerra civil dizem que a pasta das Finanças fica para os xiitas – uma questão que estava a bloquear a formação deste governo de tecnocratas. No sábado, Macron telefonou pessoalmente a Nabih Berry, para tentar desbloquear a formação do executivo, dizem os media libaneses. 

“O Presidente [francês] continua em comunicação com vários agentes políticos libaneses”, anunciou o Palácio do Eliseu, sem avançar mais pormenores, diz a Reuters.

Os doadores exigiram reformas profundas para libertar milhares de milhões de dólares de ajuda que foi prometida em 2018, mas nunca entregue. França traçou um mapa detalhado para lidar com a corrupção endémica e vários outros problemas económicos que paralisaram o sistema bancário e fizeram a libra libanesa desabar, deixando cair muitas pessoas na pobreza. 

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