Histórias do Tour: “Mãe, agora sem mãos”

Até ao final do Tour, o PÚBLICO traz histórias e curiosidades sobre os ciclistas em prova.

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Martínez a celebrar no Tour 2020 Reuters/STUART FRANKLIN

É famosa a anedota da criança que, ao aprender a andar de bicicleta, exibe à mãe que consegue andar sem as mãos no guiador. O final infeliz desta história é pouco relevante, já que este é apenas o ponto de partida para explicar um marco na carreira de Daniel Martínez, ciclista da equipa Education First que venceu a etapa 13 desta Volta a França.

Em 2019, “Dani” estava a treinar para ir ao Tour. Na Colômbia, pedalava numa descida que lhe trouxe óleo na estada. Martínez “voou” e não só ficou com várias feridas como partiu uma mão. Na verdade, partiu as duas mãos. “Sem mãos”, como na anedota popular, o ciclismo não resulta. E Martínez falhou a Volta a França, com uma lesão que teve tanto de incapacitante como de bizarra.

“Tenho muitas dores nas mãos e não consigo fazer nada sem ajuda. Estou muito triste por falhar o Tour, porque treinei muito para lá estar. Mas o ciclismo é assim mesmo”, disse o colombiano, após as cirurgias.

Sempre sorridente, o ciclista alcunhado como “correcaminos” – expressão espanhola que pode ser traduzida para um coloquial “papa-léguas” – não se fica por aqui em matéria de lesões inusitadas.

Em 2018, acabado de contratar pela Education First, o ciclista foi atacado por um condutor. Atacado no verdadeiro sentido da palavra. Pouco depois do incidente, a Education First chegou a dizer que Martínez estava com amnésia, depois do ataque, mas, já fora do hospital, o ciclista conseguiu detalhar os acontecimentos.

“Estava a treinar em Itália e um carro quase nos matou. Nós reclamámos e ele [condutor] ficou doido. Saiu do carro e atacou-me. Deu-me um murro e deixou-me KO. E ainda rasgou o lábio a um colega meu, antes de fugir”, contou Martínez.

Dani Martínez é mais um produto da fértil escola de ciclismo colombiana. É, como a generalidade dos compatriotas, um grande trepador, mas muito capaz no contra-relógio. Tem um perfil mais próximo de ciclistas como Egan Bernal ou Rigoberto Urán, corredores com alguns predicados no “crono”, do que de Quintana, “mentor” de grande parte dos actuais ciclistas colombianos.

Este perfil faz de Martínez um nome a ter em conta em provas por etapas, tendo já vencido o Critério do Dauphiné em 2020. Aos 24 anos, deve ser considerado para lugares de destaque nas próximas Grandes Voltas, sobretudo se se mantiver afastado das lesões bizarras que o têm assolado.

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