Liga espanhola: poupança em tempo de pandemia

Até ver, o Real Madrid não gastou um euro no mercado de transferências, mas não há qualquer dúvida que o melhor reforço do Barcelona foi manter Lionel Messi.

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Messi acabou por ficar em Camp Nou Reuters/NACHO DOCE

Será um início diferente de uma temporada que será diferente de todas as outras. Neste fim-de-semana de arranque da liga espanhola não estarão Real Madrid, Barcelona, Atlético Madrid e Sevilha, os quatro primeiros da época passada, que terão direito a mais uns dias de pré-epoca por terem estado nas competições europeias até à última semana de Agosto. Este arranque a duas velocidades é apenas mais um efeito da pandemia da covid-19 no futebol espanhol, talvez aquele mais fácil de engolir, quando se pensa nos protocolos sanitários super-restritivos e nos jogos à porta fechada e nas dificuldades financeiras dos clubes, limitados na sua capacidade de investir. Ainda assim, e tendo em conta que o número de novos casos em Espanha está acima dos 12 mil (um novo máximo), haver campeonato nestas circunstâncias já é uma sorte.

Se ainda estão por avaliar todas ondas de choque provocadas pela pandemia da covid-19 na economia do futebol, parece haver uma tendência de poupança bastante evidente na liga espanhola. É claro que o mercado só fecha a 5 de Outubro, mas já há muita gente a gastar muito um pouco por toda a Europa, e os espanhóis, geralmente muito gastadores, estão de cinto apertado e carteira fechada. O volume de negócios não ultrapassou os 300 milhões (280 milhões), enquanto no Verão passado, por exemplo, gastou-se 1,3 mil milhões. Os clubes espanhóis não gastavam não pouco no Verão desde 2012 (150 milhões).

Nada demonstra melhor esta tendência do que a actividade do Real Madrid no presente mercado de transferências. Depois de muitos verões em que eram os campeões do mercado, os “merengues” gastaram um total de zero euros em contratações no Verão de 2020 (tinham gasto 322 milhões no Verão de 2019), reforçando-se apenas com o regresso de emprestados (Odegaard, Reguillón) e com a promoção de jogadores da formação. A imprensa espanhola já antecipa uma retoma dos negócios estratosféricos no Verão de 2021 (Mbappé, Upamecano e Camavinga, como vinha hoje na capa do jornal “As”), mas Zidane vai ter de fazer a defesa do título e tentar recuperar a Liga dos Campeões) com o que já tem no plantel – e que não é pouco, diga-se. Menos Gareth Bale, com quem Zidade deixou de contar ainda durante a época passada.

Se o Real Madrid parece estável, o que dizer do Barcelona, que vai entrar na nova época com uma nuvem negra a pairar sobre si. O “fica não fica” de Lionel Messi acabou por resultar num “fica”, mas esta pode ser bem a última época do craque argentino em Camp Nou. Messi está em guerra aberta com o presidente Josep Maria Bartomeu e parece estar só à espera que acabe o contrato para ir ter com Guardiola a Manchester. Enquanto isso não acontece, Messi ainda pode mudar de ideias, mas tudo irá depender dos resultados do trabalho de Ronald Koeman, o eleito para substituir Quique Setién, posto a andar após o desastre frente ao Bayern Munique em Lisboa.

Mesmo com Messi, o holandês terá uma missão difícil pela frente e nem o seu passado como jogador do Barcelona com Johan Cruyff (e autor do golo que deu um título na Taça dos Campeões Europeus em 1992) lhe dará muita margem de manobra. Já dispensou Suaréz e anda à procura de um avançado (que pode ser Depay), mas terá de contar com o crescimento acelerado de Ansu Fati e extrair outro rendimento de jogadores como Griezmann ou Philippe Coutinho (regressado após um empréstimo ao Bayern). Para já, os únicos negócios que fez foi um que é praticamente uma troca (Arthur por Pjanic, ganhando 12 milhões no negócio) e a compra de Francisco Trincão (garantido desde Janeiro) ao Sp. Braga por 30 milhões.

Atrás dos dois do costume vêm Atlético Madrid e Sevilha. Os “colchoneros” limitaram-se a colocar o carimbo de definitivos a jogadores que estavam emprestados (Carrasco e Morata), mas parecem estar em negociações avançadas por Suarez, enquanto o Sevilha também ficou em definitivo com Suso e foi pescar Óscar Rodriguez ao Real Madrid por 13 milhões. Depois da conquista da Liga Europa, Lopetegui tem ambições de fazer a equipa de Nervión crescer ainda mais.

A liga espanhola volta a ter esta época mais uma dose generosa de jogadores portugueses. O “catalão” Trincão é a novidade mais sonante (e mais cara), mas ainda pode ser emprestado, de acordo com várias notícias da imprensa espanhola. Três dos 16 portugueses que estarão este ano em La Liga estão no Granada (Rui Silva, João Costa e Domingos Duarte), havendo mais três equipas com dois portugueses cada, Valência (Thierry Correia e Gonçalo Guedes), Eibar (Paulo Oliveira e Rafa Soares) e Levante (Ruben Vezo e Hernâni). João Félix (Atlético), Kévin Rodrigues (Real Sociedad), William Carvalho (Bétis) e Luisinho (Huesca) completam o núcleo luso.

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