Patrick Drahi lança OPA de 2500 milhões para tirar Altice Europe de bolsa

O grupo, que é dono da Altice Portugal (Meo), já é detido em mais de 75% pelo fundador, Patrick Drahi. Outros accionistas são o Goldman Sachs, o Capital Group e gestores do grupo Altice.

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O grupo de Patrick Drahi é dono da antiga Portugal Telecom desde 2015 Reuters/PHILIPPE WOJAZER

O fundador do grupo Altice, Patrick Drahi, anunciou o lançamento de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a Altice Europe, a holding que é dona da Altice Portugal (Meo). A operação, de 2500 milhões de euros, será realizada através da Next Private, um veículo controlado por Drahi, que num comunicado divulgado esta sexta-feira adianta que o seu objectivo é a retirada desta empresa de bolsa.

“A oferta é controlada pelo fundador e accionista maioritário da Altice Europe, que apoia totalmente a estratégia de longo prazo da Altice Europe e está comprometido com os interesses de longo prazo da Alltice Europe e dos seus accionistas”, refere o comunicado.

A operação, que deverá ficar concluída no primeiro trimestre de 2021, foi avaliada em 4900 milhões de euros, mas Patrick Drahi propõe-se pagar 2500 milhões (4,11 euros por acção, com um prémio de 23,8% face à cotação no fecho da sessão de quinta-feira, dia 10) pelas acções que ainda não detém. O comunicado não esclarece qual é a percentagem de capital que Drahi não detém da Altice Europe, que está cotada na bolsa de Amesterdão.

De acordo com a Euronext, as acções da holding estavam hoje a subir 24,72% face ao fecho da sessão da véspera, valendo 4,142 euros.

A empresa (que segundo os dados disponibilizados esta sexta-feira pela Euronext tem um valor de mercado de 4351 milhões de euros) tem cerca de 30 milhões de clientes, segundo a informação publicada na sua página de Internet. Em Portugal, é dona da Meo (da antiga Portugal Telecom) desde Junho de 2015, mas o seu principal activo é a francesa SFR. Tem ainda operações em Israel e na República Dominicana.

Desvantagens por estar cotada em bolsa

A Altice Europe e Patrick Drahi sublinham, no comunicado de anúncio da OPA amigável, que “as desvantagens de estar cotado em bolsa superam significativamente os benefícios” e que o negócio poderá “focar-se com mais sucesso” nos objectivos de longo prazo, se for integralmente detido por uma companhia privada. Se for totalmente detida por privados, a companhia já não terá, por exemplo, que submeter a assembleias-gerais de accionistas operações de venda de activos.

A pressão da “performance de curto prazo induzida pela publicação de resultados trimestrais” é uma das desvantagens mencionadas no comunicado. Do lado das vantagens, a empresa também menciona a possibilidade de aceder a melhores condições de financiamento, porque os credores farão os seus investimentos com base na avaliação da empresa, “independentemente da volatilidade e flutuações diárias das cotações”, refere a mesma nota.

A administração da empresa “acredita que a transacção serve os melhores interesses da Altice Europe, dos seus empregados, clientes, accionistas, credores e outros stakeholders”. Nessa medida, “apoia totalmente e recomenda unanimemente” que os demais accionistas da empresa aceitem a oferta.

Armando Pereira na administração

A administração da holding é composta por Patrick Drahi (presidente), por Alan Weill (presidente executivo, que é em simultâneo o líder das operações em França), por Malo Corbin (administrador financeiro) e pelo português Armando Pereira, administrador com o pelouro das operações, que chegou a presidir à PT Portugal quando esta foi comprada pela Altice.

Olhando para a informação sobre os accionistas da companhia que está publicada no site da Euronext (grupo a que pertence a bolsa de Amesterdão, tal como a de Lisboa), actualizada em Abril de 2020, conclui-se que o capital não está muito disperso por accionistas minoritários. A estrutura accionista da Altice Europe é encabeçada por Patrick Drahi, com 75,73% do capital, seguindo-se o EuroPacific Growth Fund (do norte-americano Capital Group, que chegou a ter cerca de 10% da EDP), com 5,17%, e a Goldman Sachs, com 3,97%.

Com base nos dados da Euronext, com posições menores na estrutura accionista surgem uma série de gestores ligados à Altice e a Drahi, que ao longo dos anos foram recebendo, como forma de remuneração, contratos de opção de compra de acções (stock options) e que detêm um total aproximado de 2% do capital: Alain Weill (1,20%), Dexter Goei (0,41%), Jean-Luc Berrebi (0,28%) e Dennis Okhuijsen (0,14%).

Segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, atendendo ao tipo de accionistas da Altice Europe, nomeadamente a presença de um grande banco norte-americano, como a Goldman Sachs, um dos objectivos da operação anunciada esta sexta-feira poderá ser o de fechar negócios celebrados no passado, nomeadamente o pagamento de dívida (embora com a assunção de nova dívida para financiar a oferta).

Não é estratégia inédita que os credores assumam posições accionistas em empresas altamente alavancadas (que não têm capacidade de se endividar mais), acertando uma data de venda no futuro, que permitirá recuperar o dinheiro.

No final de 2017, o Financial Times noticiou que o Goldman Sachs, que se havia tornado um dos maiores credores do grupo liderado por Patrick Drahi, contactou diversos fundos internacionais na tentativa de poder vender parte da dívida e assim reduzir a sua exposição à Altice.

Recorde-se que em Novembro de 2017, com uma dívida em torno dos 50 mil milhões de euros, e depois de perder 40% do valor em bolsa, a Altice anunciou que a redução do endividamento passaria a ser a sua prioridade número um. No final de 2019, a dívida líquida da Altice Europe rondava os 30 mil milhões de euros.

 Foi também para preservar o crescimento do negócio nos Estados Unidos do alarme relativo a este elevado nível de endividamento que a Altice fez a separação entre operações europeias e norte-americanas, com a criação da Altice USA, que também está cotada.

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